Graças à sua grande capacidade de adaptação e uma dieta muito flexível, este animal causa problemas em cada vez mais cidades do continente.
Uma verdadeira invasão. Isso foi evidenciado pela mídia argentina há apenas dois anos, quando alguns 400 capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) começaram a circular livremente em Nordelta, um dos bairros mais ricos da Argentina, localizado em Buenos Aires. É uma espécie de rato gigante, que pode medir até 1,30 metro de comprimento e pesar 65 quilos. Os animais, que sempre viveram com os vizinhos, multiplicaram-se rapidamente e começaram a fazer estragos: brigaram com cachorros e gatos, provocaram acidentes de trânsito e destruíram áreas ajardinadas. Esses grandes roedores se tornaram habitantes urbanos e a razão para isso está em sua incrível capacidade de comer basicamente o que estiver à sua frente.
Trata-se de um artigo publicado no Revista de Zoologia aquele que lançou luz sobre a dieta deste animal cada vez mais comum em muitas cidades ao redor do mundo. As capivaras vivem naturalmente em vastas pastagens, pântanos e rios em toda a América do Sul. Eles são herbívoros, pelo menos isso reflete em seu nome, que literalmente significa ‘comedor de capim’ na língua tupi, que é indígena do Brasil e de outras regiões da América do Sul. No entanto, as ervas não são a única coisa que eles podem comer.

capivaras eles abandonaram as pastagens densas para se estabelecer nas áreas de jardim de algumas cidades, reivindicando o lugar que um dia foi dele. Outro exemplo é o de São Paulo, a metrópole mais populosa do Brasil, onde invadiram o campus de sua universidade. Eles também vagam por caminhos e campos de cultivo frequentes, o que lhes dá acesso fácil a culturas de alto teor calórico.
Foram justamente os espécimes fixados na capital brasileira que deram uma explicação para essa invasão inédita. Marcelo Maglioli, ecólogo da Universidade de São Paulo e do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), coordenou este estudo no qual os pelos de 210 capivaras de 13 diferentes grupos populacionais do país -alguns naturais e outros antropizados- para descobrir que tipo de dieta eles tinham através da análise de isótopos de carbono estáveis.
Eles comem de tudo e se adaptam a tudo
Suas descobertas sugerem que a flexibilidade da dieta da capivara ajudou-a a sobreviver em lugares que nada têm a ver com a exuberante selva tropical e mesmo aqueles fragmentados por estradas, campos e outras modificações que o ser humano realizou nas últimas cinco décadas ou mais.
Embora estejam acostumadas a comer gramíneas e plantas tropicais, as capivaras que se instalam perto de áreas agrícolas têm o mesmo prazer em plantar milho ou cana-de-açúcar (pastagens). Nas zonas urbanas optam por arbustos, árvores, trepadeiras e até alguns cactos.

“Nosso estudo fornece evidências da flexibilidade alimentar das capivaras em diferentes ambientes”, explicam os pesquisadores do estudo, o que reforça a ideia de que essa adaptação da espécie é o que explica “sua resiliência para sobreviver e até mesmo prosperar, tanto em ambientes naturais quanto modificados pelo homem& rdquor;.
“Acho que o que mais me impressionou no comportamento dessa espécie é que ela pode fazer uma transição rápida entre alimentos preferidos (como plantas) e alimentos não preferidos (gramas) para sobreviver em praticamente qualquer habitat”, disse Maglioli. em declarações à revista Science News.
Embora essa dieta flexível possa ser uma melhoria para a adaptação das capivaras que passaram por grandes mudanças em seu ecossistema, nem tudo é tão benéfico. O estudo também alerta que as capivaras que se alimentam de lavouras tendem a ganhar mais peso e sofrem de problemas de saúde.
Muitos problemas para a população
O estigma de se tornar uma ‘praga’ para os agricultores, e como costumam correr entre os carros acabam causando mais acidentes em que as pessoas se envolvem.
Finalmente, sua presença nas grandes cidades também aumenta a possibilidade de transmissão de doenças para a populaçãojá que os carrapatos que os atingem podem transmitir a letal febre maculosa brasileira aos humanos.
Nesse sentido, Maglioli lembra a importância de reconectar paisagens fragmentadas para permitir que predadores naturais controlem as populações de capivaras, reduzam o contato com os humanos e restabeleçam o equilíbrio ecológico.
COMO É A CAPIBARA?
O (ou o) capibarachigüire o carpincho (Hydrochoerus hydrochaeris) é uma espécie de roedor da família dos cavidae, nativa da América do Sul. É o maior e mais pesado roedor vivo do mundo, chegando a 1,30 metros e pesando 65 quilos. O outro membro existente desse gênero é a capivara menor (Hydrochoerus isthmius). Seus parentes próximos incluem cobaias e mocós, e é parente mais distante da cutia, chinchila e coypu. Habita zonas húmidas e florestas densas e vive perto de corpos de água. É uma espécie muito social e pode ser encontrada em grupos de até cem indivíduos, mas costuma viver em grupos de dez a vinte indivíduos. O animal é caçado por sua carne e pele e também pela gordura de seu couro.