A imagem divulgada esta quarta-feira é baseada em dados do Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copérnico (C3S) e mostra a anomalia da temperatura do ar à superfície para Julho de 2023 na Europa. Os cientistas dão destaque à imagem do continente europeu mas notam que a nível global houve regiões onde as temperaturas estiveram 7 graus Celsius acima da média para aquela altura do ano.
No comunicado desta quarta-feira, os cientistas do programa europeu destacam o “desvio de mais de 0,7 graus Celsius, em relação à média dos anos de 1991 a 2020, de Julho de 2023” na Europa. O que vemos, sublinham, são as marcas do Julho mais quente alguma vez registado.
Portugal foi poupado à fornalha que aqueceu o Mediterrâneo graças ao Anticiclone dos Açores. Porém, em Portugal, os termómetros subiram nos primeiros dias de Agosto registando-se na segunda-feira a mais alta temperatura máxima deste ano e uma série de incêndios devastadores em várias zonas do país, com o fogo em Odemira a resistir durante vários dias e a revelar-se o caso mais crítico.
Anomalia na temperatura da superfície do ar em Julho de 2023, tendo como referência a média do período entre 1991 e 2020
C3S/ECMWF
Num documento mais detalhado, o programa Copérnico deixa alguns exemplos do excesso de calor sentido no mês de Julho. “Registaram-se ondas de calor desde Espanha, a oeste, até aos Balcãs, a leste. Foram estabelecidos muitos novos recordes locais de temperatura, enquanto outros recordes estiveram perto de ser batidos. Foi registada uma temperatura de 48 graus Celsius num local da Sardenha e de 47 num observatório de Palermo, na Sicília. Na Grécia, as temperaturas atingiram um máximo de 46 graus Celsius.”
“Numerosas regiões do hemisfério Norte, em particular no sul da Europa, sofreram ondas de calor severas, com anomalias de mais de 4 graus Celsius em Itália, Grécia e Espanha. Além disso, o Norte de África e o ártico canadiano registaram temperaturas significativamente elevadas, atingindo anomalias máximas de mais de 5 graus Celsius e mais de 7 graus Celsius, respectivamente.
No hemisfério Sul, as temperaturas no meio do Inverno também estiveram bem acima da média, nomeadamente no Norte do Chile e Argentina, e no Uruguai e Sul do Brasil. “As séries cronológicas de monitorização do clima para um conjunto alargado de estações de observação na Argentina fornecem exemplos de temperaturas diurnas ocasionalmente muito elevadas e de condições nocturnas geralmente amenas no noroeste do país. Muitos meses de temperaturas acima da média e precipitação abaixo da média contribuíram para uma grave escassez de água no Uruguai.”, refere o boletim do Copérnico sobre o anormal mês de Julho.
Mas, notam os cientistas, também houve regiões onde esteve mais frio do que é habitual nesta altura do ano. Mas, essas, são casos raros. “As temperaturas abaixo da média ocorreram apenas numa pequena fracção da superfície terrestre e, em grande parte, situaram-se a menos de 1 grau Celsius da média. A massa terrestre da Antárctida foi a principal excepção, com uma mistura de temperaturas muito acima e abaixo da média, como acontece frequentemente no Inverno.”
Os oceanos também aqueceram, sobretudo no Atlântico Norte. “As temperaturas do ar estiveram acima da média em grande parte do oceano, associadas a temperaturas recorde à superfície do mar. Observaram-se temperaturas marinhas excepcionalmente elevadas em grande parte do Atlântico Norte, em particular”, referem os cientistas.
Enquanto isso, no Pacífico, as condições impostas pelo fenómeno do o menino continuaram a instalar-se. “As temperaturas do ar foram invulgarmente elevadas em torno da Antárctida, onde a cobertura de gelo marinho continuou a ser muito inferior ao normal. As regiões de temperaturas relativamente amenas estenderam-se para norte, a partir do Antárctico, sobre grande parte do Atlântico sul e dos oceanos Índico e Pacífico”, concluem os especialistas do programa europeu de monitorização do clima.
Noutras regiões do planeta, as temperaturas do ar foram também superiores à média de 1991-2020 na maior parte das regiões tropicais e do Pacífico Norte, com temperaturas particularmente elevadas a leste do Japão.