O mundo continua a mil quilómetros por hora. A imprensa em crise. Um genocídio a acontecer. A especulação imobiliária. As incertezas laborais. Os climas políticos distópicos português e europeu. O mundo não pára. Não é de admirar que o nosso corpo congele no meio disto tudo e não saiba o que fazer, para onde se virar, que se esqueça de respirar.

Do meu lado, ando a fazer Porto-Lisboa, Lisboa-Porto constantemente, para acabar mudanças, para fazer apresentações de trabalho, para cuidar do meu gatinho que tem tido vários problemas de saúde. Hoje, segunda-feira, era suposto entregar outra crónica, mas simplesmente congelei e comecei a chorar. Não digo isto como comiseração, mas como realidade. Não me revejo nas figuras públicas (ou influencers, ou que lhes queiram chamar) que estão sempre bem online, que têm uma rotina bem organizada e consistente. (Mas quero muito ter.) Nos últimos dias, quando eu abria uma story delas a fazerem exercício, ou a falar de uns brincos ou um problema amoroso, já tinham passado mais de cinco horas desde que elas estavam acordadas e eu estava na cama. Não digo isto com desdém delas, longe de mim. Sei perfeitamente que não estão sempre felizes, mas também sei que tiveram a energia para se levantarem e eu não. Tenho tanta coisa para fazer na minha vida pessoal e profissional que tenho congelado.

Lembro-me de ler que, em situações de stress, o corpo naturalmente toma uma de três reações: fugir, congelar ou lutar. Qualquer uma delas é natural. O que me faz sentir abraçada, mas ainda não me resolve o problema.

Sinto que estou sempre a fazer coisas mal, que podia estar sempre a fazer algo melhor, e que o tempo passa e eu não o aproveito. Quero estar com pessoas amigas, mas fico sem energia para combinar coisas. E depois fico triste porque não combinei nada ou falhei convites. Fico neste ciclo vicioso de pensamentos ruminativos e congelo. Congelo mesmo. Não me alimento em condições nem a horas, não me arranjo, passo o dia em pijama a fazer o mínimo que posso fazer para entregar as coisas a tempo. Tenho entregado tudo, mas qualquer pequena coisa parece uma maratona.

Este congelamento é muito curioso, porque me faz sentir desamparada, sozinha, mas ao mesmo tempo muitas vezes impede-me de pedir ajuda, de ligar a alguém. Faz-me sentir um peso na vida das outras pessoas. Faz-me sentir — não há outra palavra para isso — uma merda. Mas isto vai mudar. Assim como já esteve melhor, também melhor vai ficar. Tenho tido rasgos de energia, o chamado estado de sobrevivência que te indica que algo tem mesmo de ser feito e então fazes.

Agora, prometo a mim mesma que vou melhorar, um dia de cada vez. Esta promessa é pública. Por toda a gente que sofre de ansiedade como eu. Por mim, que sei que tenho coisas boas para fazer e uma sorte do caraças por ter a possibilidade de ter a carreira que tenho. Como diz a Garota Não, “a sorte a mim tem-me dado muito trabalho”. Também me tem dado muita ansiedade.

O mundo continua a mil quilómetros por hora, isso não podemos mudar. Mas podemos mudar a forma como vivemos nele.

E se me perguntarem na rua, casualmente, se está tudo bem, irei responder que “sim”, porque não só a sorte dá trabalho, como explicar tudo o que vai na minha cabeça enquanto uma pessoa desce a rua e a outra sobe, num sorriso de “tudo bem?”, já com um pé no adeus e outro no “quero saber como estás, mas o mundo está a mil quilómetros por hora”.

Assoberbada, é essa a palavra.

Marquei sessões de terapia.

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