Há carros elétricos chineses que ficam à espera de distribuidores ou compradores em portos europeus por mais de 18 meses. Os veículos importados estão a acumular-se numa altura em que os distribuidores de automóveis se debatem com um abrandamento das vendas e congestionamentos logísticos, como a falta de camionistas para escoar os produtos, avança o Financial Times.

“Os distribuidores de automóveis estão a utilizar cada vez mais os parques de estacionamento do porto como depósito. Em vez de armazenarem os automóveis nos concessionários, eles são recolhidos no terminal automóvel”, declarou o porto de Antuérpia-Bruges, cujo porto de Zeebrugge é o mais movimentado da Europa para a importação de automóveis. “Todos os principais portos de automóveis” estão a debater-se com o congestionamento, acrescentou o porto, sem especificar a origem dos veículos.

Segundo fontes do Financial Times, os fabricantes chineses de automóveis elétricos não estão a vender os seus veículos à velocidade a que previam na Europa e algumas empresas estão a reservar espaços de entrega sem encomendarem o transporte posterior.

O entupimento dos terminais de automóveis ocorre numa altura em que muitos dos fabricantes de automóveis chineses, como a BYD, a Great Wall, a Chery e a SAIC, estão a planear um impulso de exportação para a Europa, tanto para manter as suas fábricas na China a funcionar e para capitalizar o apetite da região por automóveis elétricos.

Europa e EUA acusam chineses de concorrência desleal

A notícia do Financial Times surge numa altura em que o ministro chinês do Comércio, Wang Wengtao, começou uma viagem pela Europa. Em Paris reuniu-se com representantes das marcas chinesas BYD, CATL e Geely por causa de um inquérito da Comissão Europeia, que quer determinar se as cadeias de valor dos veículos elétricos a bateria estarão a beneficiar da concessão de subvenções ilegais e se estas práticas causam ou ameaçam causar um prejuízo económico aos produtores de veículos elétricos de bateria da União Europeia. A Comissão deu início a este processo por iniciativa própria afirmando ter obtido elementos de prova suficientes de que o recorrente aumento das importações representava uma ameaça económica para a indústria dos veículos elétricos da UE.

“Os veículos elétricos a bateria são essenciais para a transição ecológica e para o respeito dos nossos compromissos internacionais de redução das emissões de CO2. É esta a razão pela qual sempre acolhemos favoravelmente a concorrência mundial neste setor, pois implica mais possibilidades de escolha para os consumidores e mais inovação. No entanto, a concorrência tem de ser leal. As importações devem competir nas mesmas condições que a nossa própria indústria”, afirmou Valdis Dombrovskis, comissário europeu responsável pelo comércio.

O Ministro francês das Finanças disse que manterá conversações com Wang Wengtao durante a sua visita.

Por seu turno, a secretária de Estado do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, alertou Pequim de que Washington não aceitaria que a indústria fosse dizimada pelas importações chinesas. “A China é agora simplesmente demasiado grande para que o resto do mundo possa absorver esta enorme capacidade”, afirmou Yellen durante a sua visita de quatro dias à China. “As medidas tomadas atualmente pela República Popular da China podem alterar os preços mundiais. E quando o mercado global é inundado por produtos chineses artificialmente baratos, a viabilidade das empresas americanas e de outras empresas estrangeiras é posta em causa”.

As exportações de automóveis da China cresceram 58% no ano passado em relação a 2022, o que levou a uma remodelação significativa do mercado automóvel. Nos primeiros dois meses de 2024, os principais destinos das exportações de automóveis chineses a bateria, híbridos plug-in e veículos a hidrogénio incluíram a Alemanha, a Bélgica, os Países Baixos e o Reino Unido.

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