Depois de algum tempo a resistir à tentação de abrir uma caixa com fotografias relacionadas com o Campo de Concentração do Tarrafal, o fotógrafo João Pina (1980) fê-lo.

Descobriu imagens que contavam a história das duas viagens que os seus bisavós fizeram ao Tarrafal (aldeia de Chão Bom, ilha de Santiago, Cabo Verde) para visitar o filho, Guilherme da Costa Carvalho, preso em 1948, depois de ter sido apanhado em Abrantes com propaganda do PCP.

“Tinha aberto a caixa na mesa da sala de jantar e a primeira coisa que vi foram as fotografias das campas dos presos no Tarrafal e da minha bisavó a depositar flores em cada uma delas. Achei essas imagens extraordinárias. Não foram só as mãos a suar – comecei a chorar de pura emoção”, conta João Pina ao Ípsilon.

Captadas pelo seu bisavô, Luiz Alves de Carvalho, estas fotografias são um raro registo visual de prisioneiros da mais implacável prisão do Estado Novo, activa em duas fases, 1936-1954 e 1961-1974.

Para além dos retratos cuidados e em poses muito encenadas, João Pina descobriu um conjunto de fotografias que lhe fizeram correr as lágrimas: mostram a bisavó, Herculana da Costa Dias Carvalho, a depositar flores e a fazer vénias a cada uma das 32 campas de presos políticos que morreram no Tarrafal.

Todo este acervo está vertido para o livro Tarrafalao qual João Pina junta a sua visão contemporânea de Cabo Verde. É um volumoso livro para um enorme projecto: “Isto para mim, quando já estava a trabalhar no projecto, foi como uma epifania — a criação de um manual para que esta história nunca seja esquecida”.

Ai Weiwei também luta pela preservação da memória. Zodíaco é um livro de memórias gráficas, no qual o artista relaciona a cultura chinesa, as histórias da sua vida e família, e os momentos maiores do seu trabalho artístico e activista. Amílcar Correia entrevistou o artista e activista chinês, que vê no Ocidente “um abandono dos fundamentos éticos e morais” que sustentam a justiça e a liberdade.

O livro Caminhar foi um Best-seller que surpreendeu França e chega agora a Portugal. É um elogio do acto de caminhar e da sua potência filosófica e política. Entrevistámos o autor, Frédéric Gros.

Revolução (Sem) Sangue é um filme sobre as vítimas esquecidas da Revolução dos Cravos — uma história pouco contada e aqui recriada com atenção aos pormenores. Jorge Mourinha entrevistou o realizador, Rui Pedro Sousa.

Também neste Ípsilon:

➢ Cinema: entrevistas com o realizador de Vincent Tem de Morrer e com Bulle Ogier, protagonista de O Amor Louco (filme de Jacques Rivette, monumento pós-nouvelle vague, que chega agora, restaurado, às salas portuguesas);

➢ Críticas a filmes: No Interior do Casulo Amarelo, Retrato de Família com Teatro de Marionetas, Lupin III: O Castelo de Cagliostro, De volta ao preto e Os Três Mosqueteiros: Milady. E uma série: a derradeira temporada de Calma, Larry!;

➢ Livros: o último livro de Maryse Condé e Baviera Tropical – ou a vida no Brasil de Josef Mengele, o “Anjo da Morte” de Auschwitz;

➢ Os novos discos de Joana Espadinha (com entrevista), Vampire Weekend e Maquina.;

➢ A grande exposição de Marc Chagall em Madrid (ainda só disponível na edição impressa).

Boas leituras!


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