Querida Mãe,

Sabe como é que se descobre que uma mulher é mãe? Não, não é por termos uma criança que vive em nossa casa 24 horas por dia, 365 dias por ano. Nós só nos tornamos verdadeiramente mães quando passamos a fazer estas coisas:

  1. Passamos a ter frio nos pés. É ridículo, andámos toda a nossa infância e juventude descalças mas, de repente, custa-nos andar sem meias e ver os nossos filhos descalços causa-nos frio físico.
  2. Quando ligamos a Netflix e só passado uns segundos percebemos que estamos a ver desenhos animados.
  3. Quando encontramos chuchas, carrinhos e chupas nos bolsos e no fundo da carteira.
  4. Quando estranhamos o silêncio e pensamos logo nos mil disparates que podem estar a acontecer.
  5. Quando vamos às compras para nós e só voltamos com roupa para os miúdos.
  6. Quando temos uma noite sozinhas com o nosso marido e a primeira coisa que queremos fazer é… dormir!
  7. Passamos a contar o “ir ao supermercado” como um “tempo para mim”.
  8. Limpamos o tablier do carro com dodots… quer dizer limpamos tudo com toalhitas para bebé.
  9. Quando ficamos mais nervosas a tentar fazer novas “amigas-com-filhos-da-mesma-idade-que-os-nossos”, do que quando começámos a namorar.
  10. Quando estivemos a brincar seis horas com o nosso filho, mas, afinal, passaram só cinco minutos!

Tem mais requisitos a acrescentar?


Cara Ana,

Obrigada pela tua lista, a que acrescento mais cinco provas irrefutáveis de que somos mães.

  1. Choramos de comoção quando vemos um parto na televisão, mesmo que seja num anúncio cómico.
  2. Nunca mais dormimos da mesma maneira.
  3. Nunca mais temos um pensamento com princípio, meio e fim, porque de uma ou de outra forma somos sempre interrompidas.
  4. A segunda-feira começa a ser o nosso dia preferido.
  5. Não resistimos a mostrar as fotografias dos nossos filhos a quem se cruza connosco e se, dantes, era só a fotografia tipo-passe, que cabia na carteira, agora reconhecemos que é preciso fugir de uma mãe-babada com um telemóvel cheio delas.

Ui, podia continuar esta lista por aqui fora — de facto, nunca mais vemos o mundo da mesma maneira depois de sermos mães.


Ó Birras de Mãeuma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filhalogo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — como invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. As autoras escrevem segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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