Biodiversidade, ambiente, pescas, redes, leilões e indústria. A Oceanic Renewables Summit organizada pela Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN) abordou quase todos os temas relacionados com as renováveis marítimas. No encontro, que durou toda o dia, estiveram 31 oradores que apresentaram o ponto de situação dos trabalhos em curso, tanto em Portugal como em Espanha. Foram eles Pedro Amaral Jorge, presidente APREN; Juan Virgilio Márquez, CEO da Associação Eólica de Espanha; Stefania Charisiadou, responsável pela política de conservação da natureza da Comissão Europeia; Alexandra Silva; investigadora sénior do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA); Anne Marit Hansen, directora de desenvolvimento de negócios para a Ibéria da Equinor; Catarina Rei, directora de licenciamento e ambiente da Ocean Winds; Signe Nielsen, gestora ambiental sénior da RWE; José María Llopis, diretor geral Espanha & Europa Eólica da Smartenergy; Belén Segura, directora de planeamento e prospetiva europeia da Rede Eletrica de España; João Peças Lopes, professor catedrático na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP); Georgios Rogdakis, diretor de ligação à rede e transmissão da Ocean Winds; Manuel Costeira da Rocha, diretor de estratégia tecnológica da Smartenergy; João Conceição, COO da REN; Mattia Cecchinato, consultor sénior de eólica offshore da WindEurope; Pedro Brinca, professor associado da Nova SBE; Juan Ignacio Rodríguez Fernández-Arroyo, diretor do Departamento de Energia do Instituto de Energia de Galícia; José Ângelo Guerreiro da Silva, presidente do IPMA; Manuel Marques, presidente da Associação de Armadores de Pesca do Norte (AAPN); Miguel Marques, coordenador da Agenda 2030 para a Economia do Mar da Câmara Municipal de Viana do Castelo; Jerónimo Meira da Cunha, diretor geral da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG); José Manuel Marques, diretor de serviços da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM); Álvaro de Miguel, country lead Portugal da RWE; Kerry Scott, diretor-geral de investimentos na Europa da Reventus Power; Morten Dillner, diretor de Assuntos regulamentares da Equinor; Nailia Dindarova, directora de desenvolvimento do mercado da Bluefloat Energy; Gisela Santos, directora da unidade de gestão e engenharia industrial do INEGI; Arne Vatnøy, diretor de comunicação da Norwegian Offshore Wind (NOW); Eduardo Feio, presidente do Porto de Aveiro e Porto da Figueira da Foz; José Luís Inogés, diretor de desenvolvimento de negócio da Navantia Seanergies; Pedro Ponte, diretor de equipamentos, infra-estruturas e ambiente do Porto de Setúbal e Porto de Sesimbra, e Ricardo Pedrosa Gomes, vice-presidente da Associação das Empresas de Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN). Estas são as principais conclusões.

1. O leilão “ideal” não existe

  • O anterior Governo tinha estabelecido que ia lançar o primeiro leilão para a instalação de eólicas flutuantes em alto mar até junho deste ano, mas agora, com o novo Executivo ainda não se sabe o que irá acontecer. João Conceição diz que “o sinal que temos do [novo] Governo é que esta aposta é para continuar”. O mesmo pensa Pedro Amaral Jorge. Mas não há certezas.
  • Sabe-se apenas que o modelo do leilão a lançar não está ainda definido e que, apesar dos grupos de trabalho continuarem a trabalhar no tema, a decisão final cabe à tutela.
  • De acordo com Jerónimo Meira da Cunha havia dois modelos de leilão em cima da mesa: um modelo único que atribuiria a exploração da área marítima para instalar o parque eólico e também a exploração da rede que traz a eletricidade para terra, e um modelo “sequencial” que separa estas duas componentes.
  • Seja qual for a opção escolhida, ela não agradará a todos. Isso ficou claro no penúltimo painel do dia, que juntou responsáveis de cinco empresas de energias renováveis que têm estado a investir nas eólicas flutuantes em alto mar e três delas preferem o modelo sequencial, mas já trabalharam com o modelo único.
  • Ou seja, segundo Jerónimo Meira da Cunha, não existe um “leilão ideal”, mas o melhor modelo deveria seguir alguns parâmetros, como incluir as questões ambientais e a mitigação dos efeitos dos parques nas pescas.

José Fernandes

2. O impacto na economia

  • As eólicas offshore flutuantes são uma tecnologia ainda pouco madura e, por isso, mais cara. De acordo com João Peças Lopes, o custo de produção é, atualmente, de 140 euros por MWh, ou seja, precisa de ganhar escala, tal como aconteceu com outras tecnologias.
    “Hoje toda a gente fala do solar, mas em 2008, quando se estava a começar, tudo dizia que o solar era um disparate. 1 MWh de produção custava 400 euros em 2010. Agora está nos 40 MWh”, diz Pedro Amaral Jorge.
  • De facto, diz João Peças Lopes, o mundo inteiro ainda só tem 120 a 30 MWh de potência instalada, mas quando o mundo tiver 10 GW, o custo de produção baixa para os 70 euros por MWh.
  • Mas para ganhar escala é preciso começar a fazer as plataformas flutuantes e instalar as torres e criar as infraestruturas adequadas para fazer essa montagem e esses componentes, de preferência em Portugal. Diz Pedro Brinca que o impacto económico depende muito disso, ou seja, se esses componentes são feitos cá ou se são importados.
  • Ainda assim, de acordo com um estudo que realizou para a APREN, apenas 1 GW de eólicas offshore flutuantes terá um impacto económico de 5,4 mil milhões de euros ao longo de toda a vida dos projetos e criará quase 42 mil empregos.

José Fernandes

3. O desafio das redes

  • Não são apenas as plataformas flutuantes destas eólicas que são um desafio. Também há um desafio para as redes que trazem a eletricidade do alto mar para terra e as respectivas subestações, que também terão de ser flutuantes e, neste momento, só há projetos piloto.
  • Além disso, terá de se pensar bem no reforço de rede que se vai fazer porque, por norma, quando se constroem mais redes oneram-se os consumidores ao aumentar as tarifas de eletricidade.
  • Contudo, há outras formas de incorporar a eletricidade produzida por estas eólicas sem ser através do reforço da rede. “A engenharia vai ter de resolver e criar uma solução menos dispendiosa, mas também podemos dotar o sistema de gestão da rede de mecanismos de gestão dinâmica, limitando as injecções de potência na rede”, diz João Peças Lopes. Uma solução também defendida por João Conceição, que também menciona a necessidade de aumentar os equipamentos de armazenagem.

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