Com 44 anos e quatro álbuns editados, o fadista e compositor Carlos Leitão ganhou em 2023 o concurso da Grande Marcha de Lisboa 2023 com Menino Parque Mayer e este ano volta aos inéditos com o tema Nas mãos de Abril. Não é uma canção eufórica, mas reflexiva, a pensar no que se fez e que muito que está ainda por fazer. “Mais do que a data, é na responsabilidade individual e colectiva que assenta”, escreve Carlos Leitão no texto do lançamento. “Aos 44 anos, pouco do que me foi prometido se construiu, os mais velhos sonharam e acreditaram, mas a verdade que o país criou para si mesmo está longe de me satisfazer, e pouco conta a culpa nesta fase, prefiro ver a luz lá à frente, onde o caminho se faz. Deste modo, se sempre o foi, está hoje, mais do que nunca, nas minhas mãos e nas de cada um de nós, alimentar sofregamente uma liberdade que nunca estará consumada, pertence a todos os dias, a todas e a todos os que ainda sonham Abril. E mesmo com a neblina densa e bafienta que se vai alinhando cada vez mais perto, Abril tem, aos 50 anos, a prova máxima da sua maturidade. Se ainda não a tiver, então cada uma das nossas mãos terá em si o privilégio maior de o ajudar a crescer, ou a nascer.”

Ou, como ele diz na canção: “Sarar todas as feridas por fechar/ Perdão a quem o usou mas não o fez/ Não é Abril que tem de se calar,/ Se as mãos estão mais vazias outra vez.// Se aqui nasci,/ Foi para morar no mês de Abril a vida inteira/ Poder nascer da liberdade aventureira/ E ser o colo de um país que não nasceu./ Se moro em ti,/ É p’ra cantar com a garganta arrebatada/ O sonho antigo que amanhã de madrugada/ Volta a nascer nas mesmas mãos onde cresceu.” Nascido em Lisboa, em 1979, os três primeiros discos de Carlos Leitão compõem uma trilogia de interiores: Do Quarto (2013), Sala de estar (2017) e Casa Vazia (2019). Já o quarto, Simples (2021), criado na pandemia da covid-19, centra-se em exteriores (praça, rua, Lisboa) e em memórias e sentimentos (saudade, ansiedade) a eles ligados.

O videoclipe de Nas mãos de Abril foi realizado por João Azevo e Benja Pinto. A acompanhar o canto de Carlos Leitão (autor da letra e música da canção), está Afonso Wallenstein, ao piano.



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