Porque não querem banalizar as comissões de inquérito parlamentar e porque a Assembleia da República ainda pode fazer muito mais escrutínio através de audições da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, os dois maiores partidos, PSD e PS, mas também o CDS-PP, chumbaram nesta sexta-feira a criação de uma comissão de inquérito à acção do regulador dos media no processo de reestruturação accionista do Global Media Group (GMG), dono de títulos como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias, O Jogo e TSF.

As duas propostas de comissão de inquérito do Bloco e do PAN foram recusadas pelos votos contra do PSD, PS e CDS. Tiveram a abstenção do Chega e apenas os votos a favor da IL, BE, PCP, Livre e PAN.

O Chega criticou a falta de acção da esquerda nos tempos em que também José Sócrates procurou influenciar e interferir na imprensa através da compra da TVI através da então Portugal Telecom. “Não é a Assembleia da República que deve dizer como a ERC deve fazer o seu trabalho”, apontou a deputada Cristina Rodrigues, criticando a tentativa de “intromissão do poder político no trabalho dos reguladores”.

Joana Mortágua lamentou que todos os partidos admitam que há falta de transparência em todo este processo, mas não se entendem para procurar mais esclarecimentos. E alegou mesmo que a comissão parlamentar de Cultura, depois de todas as audições que fez a administradores, directores e trabalhadores do Global Media Group, concluiu que, afinal, “é preciso ir mais longe”. A deputada do Bloco ironizou sobre a história contada por João Paulo Fafe, quando foi convidado, de um dia para o outro, por um fundo com sede nas Bahamas que nem conhecia para comprar o GMG – grupo ao qual até tinha dívidas.

“Ninguém acha isto estranho? Ninguém acha que justifica uma comissão de inquérito?”, questionou Joana Mortágua, desafiando: “Que interesses é que estão por detrás da não vontade de viabilizar esta comissão de inquérito? Quando começámos a puxar o fio na Comissão de Cultura sobre o Global Media Group saíram nomes ligados ao PS – como Luís Bernardo, assessor de José Sócrates -, ao Chega e ao PSD.”

Por seu lado, Inês de Sousa Real defendeu que a comissão de Cultura não tem os mesmos poderes de uma comissão de inquérito, e vincou que a parca explicação que ali se conseguiu “tresandava mal”. Pediu aos partidos que sejam “consequentes” e questionou “quem é que quer puxar o fio e ir até ao fim das consequências e os que querem que tudo continue como antes”, deixando “enfraquecer grupos históricos” e a liberdade de imprensa.

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