O ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Hossein Amirabdollahian, afirmou na sexta-feira que o Irão responderá de imediato e ao “nível máximo” se Israel agir contra os seus interesses. Ainda assim, o governante, repetindo algumas das declarações feitas no dia anterior, insistiu que as armas usadas no ataque não eram “realmente drones”, mas “pareciam mais brinquedos de crianças”. Amirabdollahian, numa entrevista à NBC News, disse ainda não ter provas concretas de que o ataque tenha sido levado a cabo por Israel.

“Se Israel quiser fazer outro aventureirismo e agir contra os interesses do Irão, a nossa próxima resposta será imediata e ao nível máximo”, disse Amirabdollahian, falando através de um tradutor, numa entrevista à NBC News, citada pela agência Reuters. “Mas se isso não acontecer, então estamos feitos. Estamos concluídos”.

“Não nos foi provado que exista uma ligação entre estes [ataques] e Israel”, disse, acrescentando que o Irão estava a investigar o assunto, mas que os relatos dos meios de comunicação social não eram exactos, de acordo com as informações de Teerão. Segundo o mesmo responsável os drones terão mesmo sido lançados dentro de território iraniano, voando depois alguns metros, acabando por ser, depois, abatidos.

As declarações do responsável iraniano surgem após relatos de um ataque israelita no Irão na madrugada de sexta-feira, na cidade de Isfahan, onde está localizada uma central de enriquecimento de urânio. Tal como noutras situações, as autoridades israelitas mantiveram o silêncio nas horas a que se seguiram o incidente. Mas, segundo escreve o jornal O Washington PostTally Gotliv, um político próximo da extrema-direita do partido Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu​, publicou uma aparente referência ao ataque nas redes sociais: “Esta é uma manhã em que a cabeça está erguida com orgulho. Israel é um país forte e poderoso. Que possamos recuperar o poder de dissuasão”.

Caixa de Pandora ou guerra por procuração

Neste sábado, o analista político Domar Qarmoutdo Instituto para Estudos de Pós-Graduação em Políticas Públicas, em Doha, disse, em declarações à Al Jazeeraque “esta ronda de confrontos directos terminou, sendo que agora estamos de volta à realidade anterior de uma regra de procuradores”. De acordo com o especialista, nos próximos dias pode voltar a registar-se confrontos na fronteira entre o Líbano e Israel, a envolver o Hezbollah, ataques dos rebeldes houthis no Mar Vermelho e ataques de grupos armados apoiados pelo Irão no Iraque e na Síria.

Por outro lado, Simon Tisdall, especialista em assuntos externos, no jornal O guardiãoexplica que é “insensato pensar que o assunto está encerrado”. “A hostilidade visceral, política e ideológica, continua a separar os dois inimigos. Ambos os governos são afectados por divisões internas que alimentam a imprevisibilidade e a provocação. E foi aberto um precedente sombrio. Abriu-se uma caixa de Pandora de confrontos directos”, justifica o analista.

Na sexta-feira, uma base militar no centro do Iraque, com tropas do Exército e antigos militares do grupo paramilitar pró-iraniano Hashed al-Shaabi – actualmente integrado no exército regular – foi alvo de bombardeamentos que provocaram pelo menos um morto. O Ministério do Interior do Iraque não conseguiu identificar os responsáveis pelo ataque aéreo, que teve como alvo a base de Kalso.

Duas fontes de segurança garantiram à Reuters que um ataque aéreo tinha causado a explosão, que matou um membro das Forças de Mobilização Popular do Iraque (PMF) e feriu outros oito na base militar a cerca de 50 quilómetros a sul de Bagdade. Algumas das facções das PMF próximas do Irão participaram em ataques com foguetes e drones contra forças norte-americanas no Iraque e na Síria depois de Israel ter atacado Gaza, mas deixaram de o fazer em Fevereiro, quando um ataque com recurso a drone matou três soldados norte-americanos na Jordânia, o que levou os EUA a efectuarem pesados ataques aéreos no Iraque e na Síria.

Entretanto, os Estados Unidos negaram ter efectuado “ataques aéreos” no Iraque na sexta-feira, anunciou o Comando Militar dos Estados Unidos para o Médio Oriente (Centcom). “Estamos cientes de relatos de que os Estados Unidos realizaram ataques aéreos no Iraque [na sexta-feira]. Esta informação é falsa”, escreveu o Centcom na rede social X (antigo Twitter), referindo-se ao bombardeamento da base militar iraquiana.

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