Depois de cinco dias de reflexão, Pedro Sánchez anuncia esta segunda-feira a decisão que deixou um país inteiro em suspenso: vai, ou não, continuar como presidente do Governo de Espanha?

Sánchez revelou, na última quarta-feira, que ia tirar uns dias para reflectir se valia a pena continuar à frente do executivo espanhol, depois do que considerou ser uma campanha de “perseguição e demolição” que está a ser levada a cabo contra ele pelo PP, pelo Vox e por meios e organizações de direita e extrema-direita, incluindo ataques à sua mulher, Begoña Gómez.

A abertura de um processo por um tribunal de Madrid, na sequência de uma queixa apresentada contra Begoña Gómez pela organização Manos Limpias (em português, Mãos Limpas) por alegada prática de crimes de tráfico de influência e corrupção empresarial, levou o presidente do Governo espanhol a anunciar o inédito período de reflexão, cancelando a sua agenda oficial e remetendo-se ao isolamento, para surpresa até do seu círculo mais próximo.

“Preciso de parar e reflectir. Preciso urgentemente de uma resposta sobre se vale a pena, apesar do lamaçal em que a direita e a extrema-direita tentam transformar a política, se devo continuar à frente do Governo ou renunciar a esta honra”, escreveu Pedro Sánchez numa carta aos cidadãos espanhóis, publicada na quarta-feira nas redes sociais.

Desde esse dia, Espanha dividiu-se entre as manifestações de apoio do PSOE, o partido de que é secretário-geral – e que incluíram um comício no sábado que levou milhares de pessoas à Rua Ferraz, onde fica a sede dos socialistas –, e as críticas dos principais partidos da oposição, PP e Vox.

“Pedro, fica” foi a mensagem com que a número dois do Governo e do PSOE, María Jesús Montero, abriu o seu discurso no sábado, na reunião do Comité Federal do partido, originalmente marcada para a aprovação das listas para as eleições europeias. As palavras de Montero foram ecoadas pelos restantes dirigentes do partido e, nas ruas, por vários milhares de militantes que se deslocaram a Madrid, vindos de toda a Espanha, para apoiar o seu secretário-geral.

Já este domingo, sob o lema “Por amor à democracia”, milhares de pessoas concentraram-se em frente ao Congresso dos Deputados para manifestar o seu apoio a Pedro Sánchez e “defender a democracia contra as falsidades dos meios de comunicação social de direita”. Entre os presentes, estavam a ministra da Saúde, Mónica García, o ministro da Cultura, Ernest Urtasun, e o porta-voz do parceiro de coligação Sumar no Congresso, Íñigo Errejón.

Também numa entrevista publicada este domingo no O paísa ministra do Ambiente, Teresa Ribera, insurgiu-se contra o que vê como uma campanha pessoal contra Pedro Sánchez.

“Ele é forte, mas qualquer pessoa pode chegar a um ponto de ruptura. Nos últimos anos, cada um de nós viu-se em situações desagradáveis para os seus familiares, parceiros, filhos ou pais, e Sánchez sempre foi extraordinariamente atento e carinhoso. Apesar de ter sido sempre muito comedido, as pessoas do seu círculo mais próximo viram por vezes como os ataques directos à sua família o afectaram”, disse Ribera.

“Umbigo de Sánchez”

Do lado que Sánchez e restantes socialistas vêem como responsável pela “máquina de lodo” lançada contra o chefe do Governo, o presidente do PP acusou o secretário-geral do PSOE de ser “melodramático”.

“Não somos nós, cidadãos, que nos devemos concentrar no umbigo de Sánchez; Sánchez deve concentrar-se nos cidadãos”, disse Alberto Núñez Feijóo no sábado. “Senhor Sánchez, a questão não é se vale a pena ser primeiro-ministro de Espanha ou não. A questão é se a Espanha merece, ou não, um primeiro-ministro como o senhor”, lançou Feijóo.

Já o Vox, através das redes sociais, considerou que o facto de Sánchez ainda não se ter demitido é em si “uma anomalia democrática”. “A Europa está a perguntar-se como é que Sánchez pode continuar como presidente do Governo quando a sua mulher enfrenta acusações tão graves”, acrescentou.

Com o período de reflexão a chegar ao fim, ninguém, mesmo no seu círculo mais próximo, se atreve a arriscar qual será a decisão que Pedro Sánchez vai comunicar ao país nesta segunda-feira. Segundo vários ministros e dirigentes consultados pela agência Efe, a ideia comum é que nenhum cenário pode ser excluído.

Se Sánchez decidir continuar, poderá pedir uma moção de confiança ao Congresso dos Deputados, opção que os seus parceiros parlamentares vêem como a mais recomendável para sair da crise.

Em caso de demissão, o Governo cairá imediatamente, embora se mantenha em funções até à investidura de um novo presidente do executivo. A convocação de novas eleições gerais é também uma possibilidade, embora sem efeito imediato: seria preciso esperar até 30 de Maio, um ano após a última dissolução do Parlamento espanhol.

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