Dos mais de três anos que passou no Tarrafal, António Pedro da Rosa lembra-se sobretudo da espera: uma espera que podia durar toda a vida, uma espera que podia dar em morte. Encarcerado a 24 de Março de 1971, com mais 12 companheiros do Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no então denominado Campo de Trabalho de Chão Bom, após o fracasso do assalto ao navio Pérola do Atlântico e sete meses de interrogatórios e tortura na Cadeia Civil da Praia, já não conheceu a fase mais mortífera da Colónia Penal — o “Campo da Morte Lenta”, que entre 1936 e 1954 foi sinónimo de sepultura para pelo menos 32 presos políticos portugueses, e um inferno de desterro, maus-tratos e biliosa para outros 308. Mas ainda lá encontrou, embora já nos seus últimos dias, o regime de abuso de poder e infecções intestinais com que o Estado Novo pretendeu quebrar a luta anticolonialista na mais brutal das suas prisões, plantada entre arbustos raquíticos e fustigados pelo vento (os “tarafes”) no extremo norte da ilha de Santiago.

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