O presidente do Governo de Espanha, Pedro Sánchez, anunciou que continuará a liderar o Governo, prometendo “trabalhar sem descanso pelo avanço e consolidação da democracia” do país. “Decidi ficar, se possível com ainda mais força”, disse, pedindo aos espanhóis que o ajudem a não deixar que “a lama” continue a contaminar “a vida pública”. “Mostremos ao mundo como se defende a democracia”, insistiu.

Foi na quarta-feira ao final da tarde que Pedro Sánchez publicou nas redes sociais uma carta dirigida aos espanhóis onde explicava que tinha de parar para reflectir se valia a pena continuar no cargo, depois do que descreve como uma campanha de “perseguição e demolição” que está a ser levada a cabo contra ele pelo PP, pelo Vox e por meios e organizações de direita e extrema-direita, incluindo ataques à sua mulher.

Begoña Gómez foi alvo de uma queixa por alegada prática de crimes de tráfico de influência e corrupção empresarial e, na sequência dessa denúncia, foi aberto um processo de investigação. A queixa foi apresentada pela organização Mãos Limpas, um sindicato de funcionários públicos fundado em 1995 por Miguel Bernad Remón, advogado que tinha sido secretário-geral da Frente Nacional, partido de extrema-direita (sucessor da Fuerza Nueva, de Blas Piñar López) dissolvido dois anos antes.

Desde esse dia, Espanha dividiu-se entre as manifestações de apoio do PSOE, o partido de que é secretário-geral – e que incluíram um comício no sábado que levou milhares de pessoas à rua Ferraz, onde fica a sede dos socialistas –, e as críticas dos principais partidos da oposição, PP e Vox, acusando Sánchez de “vitimização” e considerando

. No domingo, repetiram-se as manifestações públicas de apoio, com milhares de pessoas reunidas em Madrid para gritar: “Não desistas, fica”.

“Esta campanha de difamação não vai parar”, afirmou Sánchez esta segunda-feira de manhã. Mas “nós podemos enfrentá-la”, disse. “O importante é que queremos agradecer as manifestações de solidariedade recebidas de todos os lados. Graças a esta mobilização, decidi manter-me à frente da presidência”, explicou. “Agi com uma convicção clara. Ou dizemos basta ou esta degradação da vida pública determinará o nosso futuro, condenando-nos como país”, sublinhou.

As primeiras reacções ao anúncio de Sánchez foram de alívio e celebração e chegaram, naturalmente, de membros do Governo e do seu partido. “Hoje vence a democracia. Hoje vence o respeito e a dignidade. Que a reflexão colectiva contribua para dignificar a política”, escreveu na rede X (antigo Twitter), a presidente do Congresso, a socialista Francina Armengol.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, José Manuel Albares, especialmente próximo de Sánchez, disse estar “muito feliz” com a decisão, uma decisão que considera “boa para Espanha, boa para as políticas progressistas que [Sánchez] lidera e encarna, e boa para a posição de liderança de Espanha na Europa e no mundo”. Para Albares, é a sociedade espanhola como um todo que não pode “tolerar” que o presidente do Governo, que nos representa no mundo, e muito mais a sua mulher e a sua família, sejam assediados por boatos, mentiras e calúnias”.

Uma “óptima notícia” que demonstra que “as mentiras não podem derrotar a verdade”, reagiu o porta-voz do PSOE no Congresso, Patxi López.



Já o responsável pela denúncia contra a mulher do primeiro-ministro, avisou que “vai haver muito mais provas que não só a incriminam a ela, Begoña Gómez, mas também a ele”, Pedro Sánchez. “Penso que nos próximos dias pode haver acontecimentos que o façam reconsiderar a sua posição”, afirmou aos jornalistas o secretário-geral do Mãos Limpas. Questionado sobre os motivos que explicam que estas alegadas provas não tenham sido já divulgadas, Miguel Bernad disse que estão a ser apresentados “pouco a pouco”.

Já o partido da direita radical Vox recomendou a Sánchez que volte “a reflectir em breve” e que, “desta vez, o faça bem”. Porque o resultado destes dias de reflexão “foi mau”, escreveu no X o porta-voz nacional do Vox, José Antonio Fúster.



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