Indemnizar, sim, os antigos combatentes

Nos últimos dias temos assistido a um animado debate sobre o tema trazido para a praça pública pelo Presidente da República, que pretende seja feita uma reparação histórica do nosso passado colonial.

É uma ideia peregrina, inoportuna e de sentido errado, já que, se alguma reparação deve ser assegurada, em primeiro lugar, é aos cerca de cento e setenta mil jovens que o antigo regime obrigou a rumar a África para aí deixar o melhor da sua juventude e, em muitos casos, a própria vida.

As razões do ostracismo a que foram votados os antigos combatentes radicam, para além de outras cuja análise aqui não cabe, numa má consciência do poder político – dos sucessivos governos, sem excepção – e também do poder militar pós-25 de Abril, que nunca souberam ou quiseram assumir quaisquer responsabilidades para com os familiares dos mais de dez mil soldados mortos nas três frentes de batalha (Guiné, Angola e Moçambique). Da mesma forma que nenhumas medidas sérias e eficazes tomaram para fazer face às graves dificuldades dos mais de vinte mil soldados que regressaram inválidos e aos muitos mais que ainda hoje sofrem diariamente os pesadelos de uma guerra que viveram há mais de 50 anos.

Se o actual poder político, com o Presidente da República na primeira linha de combate, entende que alguma reparação deve ser feita às ex-colónias, manda a mais elementar justiça que essa reparação comece pelos então jovens soldados mandados para a guerra e hoje homens acabados, vergados pelas agruras da vida, já a dois passos da cova. Foram eles as primeiras e as principais vítimas da política colonial do regime salazarista, que viram subitamente interrompidas as suas carreiras académicas, os seus projectos profissionais ou os seus sonhos de constituição de família. (…)

A forma atabalhoada e inoportuna como foi trazido para a praça pública tão controverso assunto – a não ser que a intenção fosse, num maquiavélico rasgo político, a de criar condições para reforçar os laços de cooperação económica com os vários países que integram a CPLP, representados ao mais alto nível nas comemorações do 25 de Abril – justifica todas as pertinentes críticas de que a generalidade dos meios de comunicação fez eco, nomeadamente o PÚBLICO na sua edição do dia 27, pela pena dos seus colunistas António Barreto e João Miguel Tavares.

Também eu estou perplexo com as prioridades eleitas pelo Presidente da República, sobretudo na fase particularmente difícil que Portugal e a Europa atravessam. A criação de novos factos políticos a cada dia que passa não nos deixa esquecer a forma incompreensível como geriu o seu envolvimento no chamado “caso das gémeas”, nem as peripécias que envolveram a mais recente dissolução da Assembleia da República.

Victor Marques, Lisboa (antigo combatente)

Futebol e sociedade

O tridente Luís Filipe Vieira no Benfica, Bruno de Carvalho no Sporting e Pinto da Costa no FC Porto, o mais titulado presidente de sempre a nível mundial, marcaram o futebol português. Com tantas editoras e escritores, faz falta um estudo sociopsicológico da influência do futebol nas sociedades modernas. Poucos livros têm sido publicados sobre essa temática. O regionalismo futebolístico que rapidamente resvalou para o tribalismo mostra uma sociedade pouco condescendente para com os adversários. Quando são erguidas gaiolas nos estádios para receber os adeptos visitantes, muito há a dizer. Convém recordar a atitude digna de Pinto da Costa, que se deslocou a Lisboa para estar no funeral de Fernando Martins, antigo presidente do Benfica. Viva o desporto-rei sem bobos da corte e tráfico de influências.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

A procuradora e as suas explicações

Depois de o presidente da Assembleia da República considerar que a procuradora-geral da República (PGR) deve ir ao Parlamento dar explicações sobre os processos que provocaram crises políticas, vários políticos, comentadores, etc., entendem que legalmente isso não pode acontecer e alguns defendem que nem deve ir. Depois de tudo o que temos ouvido e temos lido sobre o assunto, pessoas (neste caso políticos e com alguma importância devido aos cargos que ocupam/ocupavam) estão meses sem serem ouvidas, sem terem conhecimento do que consta do processo, e alguém acha isso aceitável? Tem de haver um esclarecimento, uma informação a eles e a todos nós. (…) Esclarecer não tem nada que ver com a política se estar a meter na justiça. A justiça tem de informar. Estamos num Portugal livre e que comemora 50 anos do 25 de Abril. Isto é básico.

Porfírio Gomes Cardoso, Lagos

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