Todos os anos, entre a primavera e o verão, uma legião de fãs parte rumo à aldeia de Portela, em Famalicão. O objetivo é passar o dia entre música, cozinha de fogo em potes de ferro, onde se preparam sem pressas receitas tradicionais da região, e vinhos de produtores convidados, para um serão descontraído ao ar livre. A iniciativa, que começou em 2020, quando a pandemia era pouco tolerante com espaços fechados, instala-se nos jardins da Casa Ana Monteiro, a dois passos do Ferrugem, e já tem datas para 2024: de 25 de maio a 5 de outubro, sempre ao sábado, das 17h00 às 22h00, a nova edição conta com 10 eventos que pode consultar em detalhe aqui.

No “Ir com sede ao pote” cozinha-se em potes de ferro

Ir com sede ao pote
Com chefs parceiros vínicos e outros produtores convidados, como as regionais “Infusões com história”, que criam um mistura especial para cada sessão, e com base em cozinha de conforto, a remeter para o imaginário rural que abraça o local, este é um dos eventos que integra o Ferrugem 2.0, projeto de Renato Cunha e Anabela Rodrigues que extravasa as paredes do restaurante para se tornar um projeto integrado a que não falta a criação de raças autóctones – com destaque para as galinhas de raça amarela -, horta biológica e alojamento, já a funcionar, a Casa Ana Monteiro e em preparação a Casa de Maganhe, contígua ao restaurante, que, tal como o Ferrugem, funde a arquitetura tradicional da região e as densas paredes em granito com elementos contemporâneos.

Renato Cunha e Anabela Monteiro

Ferrugem do futuro

A ideia passa por “reunir numa única identidade várias dinâmicas e projetos que têm como conceito base a circularidade”, explica o chef, acrescentando que “o Ferrugem do futuro pretende apresentar-se de múltiplas formas e vários formatos, acrescentando mais valor e tendo sempre como preocupação a sustentabilidade em todos os seus vetores: ambiental, agrícola, social, económica e empresarial.”

O projeto foi apresentado na celebração dos 18 anos do restaurante Ferrugem, que juntou amigos, parceiros e convidados a 15 de março, numa mesa bem recheada de alta cozinha de teor regional que reflete a visão de sempre do espaço, instalado num antigo celeiro. Ao chegar à maioridade, este restaurante improvável continua a ser arrojado. Muito mais era em 2006, quando pouco se falava de alta cozinha e da sua ligação à gastronomia, tradições e produtos locais. Pode conhecer em profundidade a história do restaurante no documentário realizado para celebrar os primeiros 18 anos do Ferrugem.

Restaurante Ferrugem

“Olhar para a tradição de forma desempoeirada“

“É possível trabalhar bem num local pouco óbvio”, destaca Renato Cunha. Em tempo de balanços, aposta na “ideia do restaurante como destino, como aqui acontece”. Continua a acreditar mais nos benefícios da interioridade do que nas desvantagens: “Acredito que a técnica é universal, mas o produto é local. Recorro cada vez mais aos produtores locais onde procuro e encontro um produto autêntico e genuinamente bom”, defende, focando a grande diversidade e riqueza da região norte, e aplica a cada prato.

Sem nunca perder a essência regional, concede novo vigor a pratos tradicionais como o Arroz pica no chão – ou a versão Cabidela de peixe-galo -, a Canja de galinha de raça amarela, as sucessivas versões de bacalhau sempre irrepreensíveis, a Marmelada de nabo que acompanha com queijo São Jorge ou uma versão do Pudim Abade de Priscos, adota e abraça diversos emblemas regionais. A intenção é “narrar uma nova história da cozinha minhota”, com “inconformismo e criatividade”, sublinhando uma cozinha que se define como “honesta, genuína, artesanal, e dinâmica” e, sobretudo, que segue uma identidade própria, fugindo a “tendências”. São também prova disso os menus dedicados a Camilo Castelo Branco que pontualmente surgem na ementa, adotando pratos referidos pelo escritor, que viveu em Famalicão, como a Galinha mourisca e que sublinham uma assinatura capaz de “olhar para a tradição de forma desempoeirada”.

Sopa de peixe

jorge Simão

Prata e Ouro

Desde a abertura integrante do Guia Boa Cama Boa Mesa, tem conquistado sucessivos Garfos de Prata e Ouro. No Guia Boa Cama Boa Mesa 2024, em que foi distinguido com Garfo de Prata, pode ler-se sobre o Ferrugem: “A gastronomia minhota celebra-se à mesa deste acolhedor restaurante em pedra, com tetos altos e com lareira, outrora estábulo do século XVIII, graças à criatividade do chef Renato Cunha. Recorrendo a ingredientes locais e de época, “de preferência autóctones e com origem numa agricultura sustentável”, apresenta pratos como a “Sopa da costa atlântica”, a “Canja de galinha de raça amarela”, o “Peixe-galo de cabidela”, o “Cachaço de bacalhau confitado em azeite” e a “Marmelada de nabo de Gandra, amêndoa, queijo de São Jorge”, à carta ou em menus de degustação de quatro, cinco ou seis momentos, com possibilidade de harmonização vínica – o menu de vinhos é conciso e está alinhado com a filosofia do espaço gastronómico, juntando clássicos e referências de pequenos novos produtores. Aqui, em cada detalhe o inconformismo anda de mãos dadas com a tradição, num constante “compromisso entre produto, narrativa e conhecimento”. E assim é desde 2006, quando abriu portas e começou a trilhar o seu caminho no sentido de elevar a cidade, a região e a riquíssima culinária do Minho.”

O evento “Ir com sede ao pote” decorre nos dias 25 de maio, 8 e 22 de junho, 13 e 27 de julho, 3 e 17 de agosto, 7 e 21 de setembro e 5 de outubro. Os ingressos custam €100 por pessoa, e podem ser reservados através do tel. 932012974 ou do e-mail. Crianças entre os 4 e os 12 anos pagam metade do valor.

Aberto diariamente das 12h00 às 14h30 e das 20h00 às 22h30, o restaurante Ferrugem (Rua das Pedrinhas, 32, Portela, Famalicão. Tel. 252911700) tem como dias de descanso semanal o domingo ao jantar e a segunda-feira.

Ir com sede ao pote

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