As manifestações do 1.º de maio, um pouco por todo o mundo, registaram incidentes como 210 pessoas detidas em Istambul, tinta arremessada a um eurodeputado francês, greve nos transportes em Atenas e 30 feridos na Alemanha num acidente com um carro alegórico.

Na Grécia, as manifestações do Dia do Trabalhador em Atenas ficaram marcadas por perturbações nos transportes urbanos e marítimos devido a uma greve, enquanto mais de duas mil pessoas se manifestaram nas ruas.

Os ferries que operam entre a Grécia continental e as ilhas dos mares Egeu e Jónico permaneceram esta quarta-feira atracados, enquanto o metro, os autocarros e elétricos em Atenas sofreram paragens.

O caso mais emblemático ocorreu na Turquia, com a polícia a deter 210 manifestantes em Istambul no âmbito dos protestos do 1º de maio, recorrendo a gás lacrimogéneo para dispersar um grupo que tentou romper um cordão policial próximo da praça Taksim.

Foi pedido aos manifestantes em Istambul que evitassem qualquer ação que pudesse violar a ordem pública, tendo estes arremessado garrafas de plástico e outros objetos contra as forças de segurança.

A reivindicação por melhores salários marcou as manifestações a nível mundial

Miguel Gutiérrez

Na Tunísia, mais de 2.500 ativistas da UGTT, a maior central sindical, manifestaram-se no centro de Tunes, para assinalar o 1.º de maio, em defesa do “diálogo social e dos direitos sindicais”.

“Trabalho, liberdade, dignidade nacional”, gritavam os ativistas, que se reuniram primeiro no pátio de uma sede recentemente renovada, antes de marcharem ao longo da principal via da capital, a Avenida Bourguiba.

45 detidos em Paris

Pelo menos 45 pessoas foram detidas nas manifestações do 1º de maio em Paris, que reuniram 18 mil pessoas, segundo a polícia, e 50 mil, na contagem da Confederação Geral do Trabalho (CGT).

As marchas na capital parisiense fizeram pelo menos 12 feridos, entre polícias e gendarmes, depois de as forças de segurança terem lançado gás lacrimogéneo para dispersar a multidão.

Vários manifestantes atiraram pedras contra a polícia, enquanto foram registadas cenas de vandalismo, com danos em pelo menos duas montras e uma paragem de autocarro.

Cerca de 121 mil pessoas saíram às ruas em toda a França, segundo o Ministério do Interior francês, enquanto a CGT indicou que 210 mil manifestantes participaram nas marchas em cidades como Lyon, Marselha ou Nice.

Durante a manhã, confrontos entre líderes de diversas forças de esquerda marcaram as primeiras manifestações sindicais em França, com altercações em algumas cidades e reivindicações diversas, contra a reforma do seguro de desemprego ou por aumentos salariais.

O destaque vai para a participação frustrada do candidato socialista nas eleições europeias em junho, Raphael Glucksmann, em Saint Étienne, que teve de abandonar a manifestação quando a sua comitiva foi recebida com insultos e com o lançamento de tinta por parte de cerca de 50 pessoas, aparentemente jovens militantes comunistas ou de extrema-esquerda.

O candidato socialista queixou-se de que “estes ataques são o resultado de meses de ódio e calúnias bem orquestradas por rebeldes e outros”, referindo as fricções e o aumento da tensão nas últimas semanas entre a sua candidatura, que lidera as da esquerda nas sondagens..

A celebração do Dia Internacional do Trabalhador em França tem sido marcada por incidentes ocorridos na manifestação de Lyon, onde pelo menos 17 pessoas foram detidas por altercações iniciadas por grupos de desordeiros que vandalizaram estabelecimentos comerciais no centro da cidade, sobretudo agências bancárias, e mobiliário urbano.

Mais de 200 manifestações foram convocadas em França para o 1º de maio

Teresa Suárez

As forças policiais responderam com gás lacrimogéneo e cargas contra os manifestantes violentos, que por sua vez lançaram fogos de artifício com morteiros. O presidente da Câmara de Lyon, o ambientalista Grégory Doucet, também foi repreendido por alguns manifestantes que exigiram que ele hasteasse a bandeira da Palestina.

Centenas de pessoas na rua Londres

Em Londres, centenas de pessoas saíram à rua para exigir uma melhoria dos direitos laborais a nível regional e mundial.

Além da melhoria das condições de trabalho e aumento do salário mínimo, as reivindicações incluíram a luta contra o racismo, a proteção do sistema de saúde e a exigência de um cessar-fogo em Gaza, cuja situação “chocou os cidadãos e deve mudar”.

Os manifestantes enfatizaram que o Governo do Reino Unido, deseja “eliminar o direito à greve”, uma referência à lei apresentada em 2023 para poder fixar serviços mínimos em algumas profissões. Esta é uma das razões pelas quais a Confederação Sindical Internacional (ITUC, na sigla inglesa) considerou que este ano pioraram os direitos laborais no território britânico, de acordo com o Índice de Direitos Globais.

Apesar de não ser feriado no país, o comité organizador da capital britânica convocou os trabalhadores para uma manifestação que terminou com uma concentração em Trafalgar Square.

30 feridos na Alemanha em acidente com carro em comício

Na Alemanha, cerca de 30 pessoas ficaram feridas quando um carro alegórico do desfile do 1.º de maio se virou perto da cidade alemã de Freiburg im Breisgaul.

A carruagem, um reboque puxado por um trator, “tombou de lado” quando o condutor do veículo fazia uma curva à esquerda, segundo foi indicado pela polícia, e “cerca de trinta pessoas” ficaram feridas no acidente, das quais “dez com gravidade”.

Centenas de pessoas manifestaram-se em Berlim no Dia do Trabalhador

CLEMENS BILAN

As vítimas foram tratadas por “numerosas forças de socorro, incluindo vários helicópteros de salvamento, nomeadamente da vizinha Suíça”, declarou a polícia.

Argentinos contra as políticas de Milei

A Confederação Geral do Trabalho (CGT), um dos sindicatos mais importantes da Argentina, iniciou uma mobilização massiva neste 1 de maio para “defender os direitos laborais” e contra o “ajuste brutal” do executivo de Javier Milei.

Sob o lema “A Pátria não está à venda”, a organização sindical convocou a mobilização pelo centro de Buenos Aires para o “Canto al Trabajo”, uma escultura de 14 figuras nuas de bronze sobre uma pedra, que representam o trabalho em busca do progresso, monumento de homenagem aos trabalhadores.

“Todos os direitos sociais, laborais, sindicais e profissionais estão ameaçados. É um dia de reivindicação e defesa das conquistas e dos direitos adquiridos que se pretendem violar sem respeitar a voz dos trabalhadores”, afirmou a CGT, em comunicado.

A marcha acontece dias antes da greve nacional marcada para 9 de maio, a segunda contra o Governo de Milei desde que este tomou posse, a 10 de dezembro.

Cubanos em protesto a meio de grave crise económica

Em Havana, capital cubana, no meio de uma das maiores crises económicas em décadas e com uma queda a pique do poder de compra, também saíram milhares de pessoas à rua.

Pelo segundo ano consecutivo, a celebração principal da data, que, ao contrário de outros países, em Cuba é um evento festivo oficial com conotações nacionalistas, decorreu na Tribuna Anti-imperialista em vez da Praça da Revolução.

De acordo com a organização, o Governo, a Central de Trabalhadores de Cuba (CTC, sindicato único) e as associações de massas próximas do Partido Comunista cubano (PCC, o único partido legal) juntaram cerca de 200 mil pessoas, com muitos participantes a exibirem fotografias do antigo líder cubano Fidel Castro e do seu irmão, que lhe sucedeu, Raul Castro, na praça que fica a poucos metros da embaixada dos Estados Unidos e onde começaram a chegar antes das seis da manhã.

Milhares de cubanos juntaram-se em Havana, muitos dos quais exibindo imagens do antigo líder, Fidel Castro

ERNESTO MASTRASCUSA

A profunda crise económica em Cuba limita a capacidade de mobilização do Governo, muito devido à escassez de combustível.

O poder de compra dos quase três milhões de funcionários públicos cubanos caiu 21 pontos percentuais em 2023.. O salário médio do Estado em 2023 era de 4.648 pesos cubanos (cerca de 181 euros). Nas lojas em Havana um pacote de 30 ovos custa 3.500 pesos cubanos (cerca de 136,5 euros).

Cabo Verde em luta por melhores condições laborais

Cerca de uma centena de trabalhadores cabo-verdianos manifestaram-se na cidade da Praia, capital do país, reivindicando a reposição do poder de compra e aumentos salariais, a par da melhoria das condições laborais

Os trabalhadores pediram também a “diminuição dos impostos, fim da precariedade laboral, melhor atenção aos doentes, falta de cobertura da previdência social, mais comparticipação do Instituto Nacional da Previdência Social nos exames complementares de diagnóstico e nas consultas de especialidade”, segundo o presidente do Sindicato da Indústria, Serviços Comércio, Agricultura e Pesca (SISCAP), Eliseu Tavares,

“A adesão não foi a desejada, tivemos centenas de trabalhadores e não é um número que nos satisfaça, mas valorizamos”, lamentou o dirigente sindical, frisando que todas as reivindicações apresentadas “são urgentes”, mas a questão salarial e a reposição do poder de compra são “fundamentais”.

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