O primeiro-ministro, Luís Montenegro, quer que os países parceiros na CPLP alinhem posições para que o português seja reconhecido como língua oficial das Nações Unidas até 2030, considerando que “seria um justo reconhecimento”.

Num artigo publicado este domingo no jornal “Público”, na data em que se comemora o Dia Mundial da Língua Portuguesa, Luís Montenegro considera que aquele pode ser encarado como um desígnio de médio prazo, defendendo para isso um alinhamento de posições com os parceiros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

“Seria um justo reconhecimento. Tanto em função do universo atual de falantes de português em todo o mundo como relativamente às estimativas que apontam para que a nossa língua atinja 380 milhões de falantes em 2050. E quase 500 milhões no final do século”, escreve, referindo que este crescimento estimado se deve ao Brasil e ao potencial populacional dos PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa).

O primeiro-ministro sublinha também o empenho do Governo em promover “a excelência do ensino do português” nestes países, destacando que um dos objetivos fixados pelo seu Governo passa por “incentivar o intercâmbio e a criação de programas conjuntos que fortaleçam a língua como ferramenta de comunicação e de expressão”.

“Por um lado, é também imperioso alargar a influência da CPLP nos muitos pontos do globo a que o português se vê ligado pela cultura. E, por outro, quanto maior for a ambição económica e política, maior será a projeção internacional da língua de Camões, Sophia, Amado, Pepetela, Lispector, Agualusa, Mia, Agustina, Germano e tantos outros consagrados”, refere Montenegro.

No artigo, o primeiro-ministro lembra que os 50 anos do 25 de Abril foram também celebrados ao mais alto nível com os países irmãos da CPLP, um espaço que, refere, se alicerça “na história, nas vivências partilhadas e no idioma comum”.

Português na ONU é “muito caro”

Numa entrevista à Lusa também no âmbito das celebrações, o diretor do Instituto Guimarães Rosa diz que o Brasil apoia a ideia, mas os custos são altos.

O responsável máximo pela promoção da cultura brasileira e da língua portuguesa no estrangeiro afirmou à Lusa que o Brasil tem interesse em tornar o português língua oficial das Nações Unidas, mas advertiu para os elevados custos. “Na verdade, é extremamente custoso, porque ter o português como língua de trabalho nas Nações Unidas é muito caro”.

Na opinião de Marco Antonio Nakata, neste primeiro momento, é necessário “avaliar realmente a importância que isso teria para o Brasil e se esse volume de recursos não teria uma utilidade maior” noutros campos de divulgação do português, como a existência de “mais leitores, mais professores, investir em novas tecnologias de ensino”.

Ou seja, para já, existe interesse, mas o foco tem sido na “ampliação com caráter experimental em algumas organizações internacionais” como é o caso da UNESCO, onde já é uma língua de trabalho em casos pontuais.

“A ideia é de que a gente comece a ampliar. O Governo brasileiro, juntamente com o Governo português, já se manifestaram a favor de uma ampliação, incluindo na UNESCO”, frisou o responsável do Instituto Guimarães Rosa.

Em entrevista à Lusa, em Lisboa, a 26 de abril, o ministro das Relações Exteriores do Brasil afirmou querer “um avanço” no projeto de tornar o português língua oficial das Nações Unidas, acrescentando ser “um dos temas que é muito caro ao Presidente Lula é a língua portuguesa”.

“Ele [Lula da Silva] insiste que muito que gostaria de ter o português como língua oficial das Nações Unidas”.

Segundo o ministro, o projeto do português como língua oficial das Nações Unidas é um tema que o Governo brasileiro considera “seriamente”. E “gostaríamos de ver um avanço”, concluiu.

Já que “é um tema de longo prazo, porque, inclusive, e não é algo que se possa decidir diretamente nas Nações Unidas. Isso tem impacto orçamental das Nações Unidas”, afirmou.

Montenegro refere ainda que a criação do Dia Mundial da Língua Portuguesa é um sinal de reconhecimento pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) da importância global do português e de todos os seus mais de 260 milhões de falantes espalhados por todos os continentes.

Neste contexto, refere que as economias da CPLP valem 3,6% da riqueza total do mundo e 5,4% do global das plataformas marítimas.

O Dia Mundial da Língua Portuguesa foi proclamado pela 40.ª Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em novembro de 2019, e comemora-se este ano pela quinta vez.

O português é a quarta língua mais falada no mundo, por mais de 260 milhões de pessoas nos cinco continentes. Em 2050, os falantes da língua portuguesa serão quase 400 milhões e em 2100 serão mais de 500 milhões, segundo estimativas das Nações Unidas

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