Depois das boas notícias sobre a natalidade em Portugal, que em muito se deve aos imigrantes e aos filhos dos imigrantes, fez questão de frisar, Luís Marques Mendes avançou no seu comentário semanal para uma dura crítica às demissões na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. “Há tudo para explicar” no caso das mudanças da Santa Casa, disse o ex-líder do PSD. Defende, de antemão a ministra — “Conheço o suficiente a ministra para dizer que ela não ia tomar uma decisão desta natureza se não houvesse situações graves” — mas não desculpa a ausência de esclarecimentos. “Não é normal demitir-se uma provedora da Misericórdia de Lisboa e não haver uma explicação detalhada de por que se faz essa demissão”, diz Marques Mendes.

E quando mais tarde essas explicações chegarem, “pior”.

“Enquanto não houver uma explicação fica a ideia, para muita gente, de que isto que foi um saneamento político”. A nomeação do novo provedor será “um teste à credibilidade”.

“Se a ministra escolher um político ligado ao PSD ou ao CDS, não se livra da acusação de que isto é pura e simplesmente um saneamento político”, avisa Marques Mendes, que ainda reforça: “Se ministra for por este caminho há espaço para perda de credibilidade”. Acontece o contrário se escolher uma pessoa com um perfil menos partidário e mais académico e técnico, argumenta.

E as explicações que se exigem são três, no entender de Marques Mendes, que coloca assim pressão para que o PSD ofereça um esclarecimento mais vasto do que se passou. Em primeiro lugar, elenca, “saber se a injeção, em 2023, de 34 milhões na Santa Casa é legal”; a segunda pergunta tem que ver com a auditoria à internacionalização que Marques Mendes deseja ver no domínio público; e, em terceiro lugar, vem o plano de reestruturação: “É preciso saber se ele existe ou não existe. E se não há é preciso saber porque é que não há”, remata.

Comunicação em falha no novo Governo

Uma polémica que faz parte da análise de Marques Mendes aos primeiros 30 dias de Governo. Luís Montenegro leva uma nota positiva “por falar pouco e ser assertivo quando fala”, pela sua prestação no estrangeiro e por se ter esquivado da “bomba ao retardador” que foram as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre as reparações históricas.

No plano da governação já o cenário se torna menos risonho. Marques Mendes identifica uma primeira falha: a comunicação. “A grande maioria dos ministros está a falhar na comunicação. Em qualquer Governo a comunicação é essencial, e num Governo minoritário não é essencial, é decisiva”. Exemplos de falhas de comunicação? Vários: a saída de Fernando Araújo como CEO do SNS, a saída de Ana Jorge da Santa Casa, que não tiveram explicação, as tiradas de Nuno Melo sobre o serviço militar obrigatório, a confusão com o défice com Miranda Sarmento, ministro das Finanças, são episódios que, para Marques Mendes, mostram que a máquina da comunicação ainda não está oleada. “Devia tratar desta parte da sua atuação como ministro e deixar o combate político para outros”, diz o comentador, sobre o ministro das Finanças.

A segunda falha é o pouco que conseguiu fazer aprovar nestes trinta dias: IRS e aceleração do PRR. “Duas decisões em 30 dias apesar de tudo é curto. É preciso fazer mais. Eu gostaria que já tivesse sido anunciada a localização do novo aeroporto, dava um sinal de coragem”.

A oposição também não tem tido uma atuação brilhante, com o PS a merecer um reparo pela “coligação negativa” com o Chega, para aprovar a abolição das portagens no interior.

Nuno Melo precisa de fato novo

Sobre a polémica com Nuno Melo, ministro da Defesa, que avançou a “hipótese académica” de colocar jovens delinquentes a cumprir serviço militar obrigatório, Marques Mendes diz que não acha a medida positiva, mas rejeita a “crucificação em praça pública” do ministro.

O mais importante, para o comentador social-democrata, é “aquilo que este episódio representa”. Elogiando Nuno Melo pelo seu repertório parlamentar, Marques Mendes pede que ele “vista rapidamente o fato da função que agora está a exercer como ministro da Defesa, ainda está na lógica política, parlamentar”. Para isso tem de “mudar de comportamento de discurso” porque “estas polémicas, como mais ou menos exageros não são boas para as Forças Armadas não ajudam àquilo que é essencial, a valorização das Forças Armadas”. Marques Mendes considera que, nos últimos anos, as Forças Armadas têm sido negligenciadas e é “preciso inverter essa tendência”.

Presidente precisa-se, mas não nos temas pós-coloniais

“Não acho bem que o Presidente tenha a agenda das ex-colónias”, começa por dizer Marques Mendes. Mas há outros temas que o comentador considera dignos de serem trazidos para a mesa pelo Presidente. “Há dois temas em que a intervenção mediadora do Presidente da República podia ser muito útil a Portugal: Justiça e Defesa. Tem competências pela Constituição nestas duas áreas: é ele que nomeia a Procuradora Geral da República e é o Comandante Supremo das Forças armadas. Ainda esta semana vimos um manifesto de 50 personalidades a pedir reformas na justiça, e é preciso restituir a credibilidade, a hierarquia, o rigor, a solidez, a consistência do Ministério Publico, mas só há uma reforma se houver um acordo entre PS e PSD”. Ora, quem melhor para tentar essa aproximação do que Marcelo Rebelo de Sousa? “É minha convicção é que se o Presidente da República não aproximar como mediador, impulsionar e árbitro, não vai haver acordo nenhum”.

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