Centenas de escolas continuam sem remover os materiais com amianto. Esta é uma substância que pode provocar cancro, quando o contacto é prolongado. A Fundação Champalimaud, em conjunto com a SOS Amianto, vai começar, em breve, um estudo que consiste em realizar diagnósticos mais rápidos e precoces.

A densa nuvem de pó e o ruído intenso foram os primeiros sinais do início da remoção de amianto realizada, durante três dias, numa escola nos Olivais, em Lisboa. Mas Carmen Lima, da SOS Amianto – Associação Portuguesa de Proteção Contra os Riscos de Amianto, alerta que “dizer que se retirou coberturas de fibrocimento de uma escola e que, com isso, a escola está livre de amianto é mentir às pessoas”.

Estar em contacto permanente com este material pode ter consequências na saúde. Os efeitos podem manifestar-se até décadas mais tarde.

“Temos cancro (…) provocados pelo amianto, que tem um tipo de latência, de crescimento, muito longo – entre 15, 20 a 30 anos. Como são muito silenciosos, quando nos aparecem, normalmente, já são inoperáveis”, explica Jorge Cruz, especialista da Fundação Champalimaud.

Falta de ação dos municípios

O uso de amianto na União Europeia foi proibido há quase 20 anos. No entanto, continua presente em milhares de estruturas, apesar das análises realizadas aos materiais. Nas escolas, o amianto está em pavimentos, tetos falsos e noutras coberturas.

Numa escola em Benfica, uma análise realizada há cinco anos aos materiais determinou a existência de amianto nos pavilhões. Até ao momento nada foi retirado.

O processo de identificação e remoção de amianto dos edifícios é da competência dos municípios. Entre 2014 e 2020, foram identificados materiais com amianto em 627 escolas.

A SIC sabe que o Governo e a Associação Nacional de Municípios Portugueses chegaram a acordo para avançar com trabalhos de remoção em mais 450 escolas.

Apesar dos custos serem totalmente assegurados por fundos europeus, nem todos os municípios iniciaram o processo de remoção. Em mais de 140 escolas, continua a não haver qualquer intervenção.

Em Portugal, poucas empresas estão capacitadas para este tipo de trabalhos.

“A forma como está a ser removido o amianto nas escolas é o mais incrível possível, com práticas que não são recomendadas e que, inclusive, colocam em risco os trabalhadores, se não estiverem bem protegidos, e as pessoas que vivem nas redondezas”, qualifica Carmen Lima, da SOS Amianto.

Diagnósticos do futuro

A Fundação Champalimaud, em conjunto com a Associação SOS Amianto, vai começar um estudo com pessoas que trabalharam junto de amianto pelo menos durante 10 anos e de uma forma continuada.

“Estamos a desenvolver um método de diagnóstico que é analisar o ar exalado. Portanto, só com o sopro, pretendemos fazer o diagnóstico – se tem ou não tem cancro”, refere Jorge Cruz, da Fundação Champalimaud.

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