Home Entretenimento Putin quer cessar-fogo na Ucrânia nas atuais linhas da frente

Putin quer cessar-fogo na Ucrânia nas atuais linhas da frente

O Presidente russo está pronto a pôr fim à guerra na Ucrânia com um cessar-fogo negociado nas atuais linhas do campo de batalha, segundo disseram quatro fontes russas sob condição de anonimato à Reuters. Se Kiev e o Ocidente não responderem, Vladimir Putin diz estar preparado para continuar.

Três das fontes indicaram que o líder russo expressou frustração a um pequeno grupo de conselheiros sobre o que vê como tentativas apoiadas pelo Ocidente para impedir as negociações e a decisão do Presidente ucraniano de as descartar.

“Putin pode lutar o tempo que for preciso, mas Putin também está pronto para um cessar-fogo – para congelar a guerra”, afirmou a outra fonte, que trabalhou com o Presidente russo e tem conhecimento das conversas de alto nível no Kremlin, segundo a Reuters. A agência noticiosa falou com um total de cinco pessoas que trabalham ou trabalharam com Putin a um nível superior no mundo político e empresarial.

O líder russo estará disposto a contentar-se com o terreno que tem agora e a congelar o conflito nas atuais linhas da frente, disseram quatro das fontes. “Putin dirá que ganhámos, que a NATO nos atacou e que mantivemos a nossa soberania, que temos um corredor terrestre para a Crimeia, o que é verdade”, analisa uma delas.

Bombardeamentos na região de Kharkiv

Anadolu

Guerra na Ucrânia

O congelamento do conflito nos moldes atuais deixaria a Rússia na posse de partes substanciais de quatro regiões ucranianas que incorporou formalmente em setembro de 2022, mas sem o controlo total de nenhuma delas. O acordo ficaria aquém dos objetivos que Moscovo estabeleceu na altura, quando afirmou que as quatro regiões – Donetsk, Luhansk, Zaporíjia e Kherson – lhe pertenciam na totalidade.

Duas das fontes referem que o Presidente russo acredita que os ganhos na guerra até à data são suficientes para “vender” uma vitória ao povo russo, além de entender que quaisquer novos grandes avanços exigiriam outra mobilização nacional, algo que não deseja, até pelos danos que a primeira causou na sua popularidade, em setembro de 2022.

Outro fator que contribui para a visão de Putin de que a guerra deve terminar é que, quanto mais se arrasta, mais veteranos de guerra regressam à Rússia, insatisfeitos com as perspetivas de emprego e rendimento pós-guerra, criando potencialmente tensões na sociedade, nota uma das fontes.

Em resposta a um pedido de comentário, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que Putin tinha repetidamente deixado claro que a Rússia estava aberta ao diálogo para atingir os seus objetivos, dizendo que o país não queria “guerra eterna”. Os ministérios dos Negócios Estrangeiros e da Defesa da Ucrânia não responderam às perguntas.

Pessoas retiradas das suas casas pelas forças de segurança ucranianas

André Luís Alves

Guerra na Ucrânia

Suíça à vista e dificuldades no campo de batalha

Neste momento, a perspetiva de um cessar-fogo ou de conversações de paz parece remota. Zelensky tem repetido que a paz nos termos de Putin não pode ser iniciada. O líder ucraniano prometeu recuperar o território perdido, incluindo a Crimeia, que a Rússia anexou em 2014. Ainda em 2022, assinou um decreto que declarava formalmente “impossíveis” quaisquer conversações com Putin.

A Ucrânia está a preparar-se para as conversações a ter lugar na Suíça nos dias 15 e 16 de junho, com o objetivo de unificar a opinião internacional sobre a forma de pôr fim à guerra. A Suíça não convidou a Rússia para participar. Moscovo considera que as conversações não são credíveis sem estar presente. Já a Ucrânia e a Suíça querem que os aliados russos, incluindo a China, estejam presentes.

Em declarações na China, no dia 17 de maio, Putin afirmou que a Ucrânia pode usar as conversações na Suíça para conseguir que um grupo mais alargado de países apoie a exigência de Zelensky de uma retirada total da Rússia, algo que o Presidente russo encara como uma condição imposta e não uma negociação de paz séria. “Estamos prontos para a discussão. Nunca recusámos”, garantiu.

O Presidente ucraniano com a homóloga da Suíça, Viola Amherd, no dia 15 de janeiro, em Davos

ALESSANDRO DELA VALLE

Guerra na Ucrânia

Também na semana passada, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse aos jornalistas em Kiev não acreditar que Putin estivesse interessado em negociações sérias. Um porta-voz do Departamento de Estado, questionado pela Reutersapontou que qualquer iniciativa de paz deve respeitar a “integridade territorial da Ucrânia, dentro das suas fronteiras internacionalmente reconhecidas” e descreveu a Rússia como o único obstáculo à paz na Ucrânia. “O Kremlin ainda não demonstrou qualquer interesse significativo em acabar com a sua guerra, muito pelo contrário”, defendeu.

As forças russas controlam cerca de 18% da Ucrânia e, este mês, avançaram na região de Kharkiv, no nordeste do país. As forças ucranianas têm sido sujeitas a pressão crescente ao longo de mais de mil quilómetros de linhas da frente no nordeste, leste e sul do país. Nas últimas semanas, as tropas de Moscovo fizeram incursões no nordeste da Ucrânia, testando ainda mais as defesas de Kiev, que já se encontram em dificuldades. Ao mesmo tempo, a Rússia conquistou território na região oriental do Donbass.

A Rússia ganhou mais território este ano do que perdeu o controlo durante a contraofensiva ucraniana no verão do ano passado, de acordo com Pasi Paroinenanalista do Black Bird Group, um grupo voluntário com sede na Finlândia que analisa imagens de satélite e conteúdos das redes sociais sobre a guerra. As forças de Moscovo reivindicaram 654 quilómetros quadrados desde o início de 2024, ultrapassando os 414 quilómetros quadrados perdidos para a Ucrânia entre 1 de junho e 1 de outubro de 2023, segundo Paroinen. Apenas desde 2 de maio, a Rússia ganhou 222 quilómetros quadrados de território.

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