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Ordens do médico: mobilizar a UE para proibir a publicidade a combustíveis fósseis | Opinião

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Com as eleições europeias à porta, gostaríamos de chamar a vossa atenção para uma peça fundamental da legislação da União Europeia que falta para recuperarmos a nossa saúde: a proibição de anúncios a combustíveis fósseis.

Somos médicos, e, cada vez mais, parece que o nosso trabalho está a ser activamente comprometido. Enquanto tentamos ajudar o maior número possível de doentes a recuperar a saúde, as empresas de combustíveis fósseis, as companhias aéreas e os fabricantes de automóveis poluem activamente o nosso ar, a nossa terra e a nossa água, causando ainda mais doenças. Com a sua publicidade, estas empresas promovem e reforçam activamente esta poluição, ao mesmo tempo que divulgam mensagens enganosas que poluem a mente.

A poluição atmosférica causada pelos combustíveis fósseis já mata uma em cada cinco pessoas em todo o mundo, o que levou a 8,7 milhões de mortes prematuras em 2018.

A poluição atmosférica é um assassino invisível e altamente subestimado, mas mata mais pessoas do que o VIH, a tuberculose e a malária todos juntos. Não admira: a poluição atmosférica afecta os nossos pulmões, o coração e o sistema cardiovascular, põe em perigo a saúde das grávidas e dos recém-nascidos, uma vez que o baixo peso à nascença e o nascimento prematuro são potenciados pela poluição atmosférica. As crianças que respiram um ar poluído têm uma função pulmonar significativamente pior; a asma nas crianças é causada pela poluição do ar num em cada cinco casos. Noventa e nove por cento da população mundial não têm outra opção senão respirar ar que excede os limites das directrizes da Organização Mundial de Saúde.

Dependendo do local onde se vive, pode-se estar a “fumar” até um maço de cigarros por dia ou mais só por respirar. Também na Europa este é um problema enorme: cada habitante polaco, incluindo as crianças, “fuma” em média dez cigarros por dia ao respirar ar poluído, e em cidades como Amesterdão e Paris a média é de seis. Tedros Adhanom Ghebreyesus, director-geral da Organização Mundial de Saúde, designou a poluição atmosférica como o “novo tabaco”.

E isto sem contar com os efeitos devastadores da aceleração da crise climática. A crise climática é a maior ameaça à saúde humana no século XXI. Condições meteorológicas extremas, como inundações, incêndios e secas, não só representam um risco directo para a saúde e a vida das pessoas, como também podem aumentar a propagação de doenças potencialmente fatais, bloquear o acesso a alimentos suficientes e poluir ainda mais o ar, a terra e a água.

A maioria de nós ainda se deve lembrar das campanhas publicitárias da indústria do tabaco. Normalizaram rapidamente um produto altamente insalubre e poluente através de uma publicidade omnipresente e glamorosa. Desportistas famosos, vaqueiros cativantes, como o Marlboro Man, e até médicos promoveram o tabagismo. A sua mensagem, mesmo quando os efeitos devastadores para a saúde eram conhecidos, era: compre o nosso produto e será fixe, popular e bem sucedido. Só depois de os anúncios das tabaqueiras terem sido proibidos e de as mensagens enganosas das tabaqueiras terem deixado de estar à nossa volta é que se percebeu toda a extensão das consequências nocivas. Este foi um importante ponto de viragem nas vendas de cigarros, nos casos de cancro do pulmão e nas mortes prematuras causadas pelos produtos do tabaco. E isso abriu as nossas mentes e criou-se espaço para implementar zonas de não fumadores em escolas, transportes públicos e restaurantes.

Tal como os anúncios ao tabaco, os anúncios aos combustíveis fósseis normalizam e “glamorizam” os produtos com grande intensidade de carbonocomo andar de avião ou comprar um novo SUV. As empresas fósseis branqueiam a sua imagem, apresentando as suas empresas e actividades como sustentáveis, apesar da sua contribuição significativa para a poluição atmosférica e para a catástrofe climática e da sua contribuição insignificante para a transição energética: as empresas petrolíferas e de gás representam apenas 1% do investimento total em energias limpas a nível mundial. Os anúncios sobre combustíveis fósseis são normalmente mais difundidos em momentos de decisão política, como as actuais eleições, mostrando a importância da publicidade como instrumento de pressão.

Numerosos estudos, incluindo os do IPCCsublinham a necessidade e a eficácia das proibições de publicidade para promover uma transição justa e saudável. Este potencial, associado ao imperativo de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C, exige uma acção corajosa e imediata. Um número crescente de municípios na Europa já está a tomar medidas para restringir a publicidade aos combustíveis fósseis, criando um precedente que a UE deveria seguir.

Os profissionais de saúde desempenharam um papel fundamental no estabelecimento de uma política eficaz em matéria de tabaco. É altura de voltarmos a erguer a nossa voz. Enquanto profissionais de saúde, não podemos ficar de braços cruzados enquanto a indústria dos combustíveis fósseis continua a dar prioridade aos lucros em detrimento da saúde e do bem-estar das pessoas. São cada vez mais os meus colegas profissionais de saúde que se juntam a nós para pedir a proibição da publicidade aos combustíveis fósseis. Apelamos à UE para que adopte uma proibição da publicidade aos combustíveis fósseis o mais rapidamente possível, em nome da saúde.

Assinado por:

Anders Nordström – Antigo Director-Geral Interino da Organização Mundial de Saúde (OMS) e Antigo Embaixador da Saúde Global do Governo Sueco – Suécia

Amber ten Buuren, Thomas Saris & Anjali Wijnhoven – membros do grupo ‘de CO2-assistent’, Centro Médico Universitário de Utrecht – Países Baixos

Christian Hänggi – Professor na Universidade de Ciências Aplicadas e Artes do Noroeste da Suíça, Universidade de Basileia – Suíça

David N. Baden – Médico de emergência e Presidente da Sociedade Holandesa de Médicos de Emergência (DSEP/NVSHA) – Países Baixos

Eva Cohen – Doutoranda em Sustentabilidade Ambiental em Ginecologia no Centro Médico Universitário de Amesterdão – Países Baixos

Godelieve van Heteren – Consultora de Saúde Internacional para, por exemplo, a UNICEF, Antiga Directora da Cordaid – Países Baixos

Janneke Cox – Especialista em Doenças Infecciosas no Jessa Hospital Hasselt e Professora Assistente na Universidade de Hasselt – Bélgica

Julia Steinberger – Professora de Economia Ecológica na Universidade de Lausanne, autora do IPCC – Suíça

Juliette Chambe – Médica de Clínica Geral e Professora Assistente de Medicina Geral na Universidade de Estrasburgo – França

Karlijn van Halem – Especialista em doenças infecciosas no Jessa Hospital Hasselt – Bélgica

Luís Barreto Campos – Médico internista, Presidente do Conselho Português para a Saúde e Ambiente e Chair da Comissão de Qualidade e Assuntos Profissionais da Federação Europeia de Medicina Interna – Portugal

Margarita Vossen – Membro d ‘O médico de família verde’ (De Groene Huisarts) – Países Baixos

Pierre Kohler – Economista Doutorado e Funcionário Público Internacional na CNUCED – Suíça

Samia Hurst-Majno – Antiga Presidente da Sociedade Suíça de Ética Biomédica, Diretora do Departamento de Saúde e Medicina Comunitária e Professora de Bioética na Universidade de Genebra – Suíça

Thomas Brudermann – Professor Assistente de Sustentabilidade e Psicologia na Universidade de Graz, autor – Áustria

Tobias Rinke de Wit – Professor de Saúde Global na Universidade de Amesterdão – Países Baixos

Fuente

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