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Siemens acelera rumo à fábrica autónoma, com uma boleia providencial da inteligência artificial

Um braço robótico será sempre um braço robótico, mas na Siemens é um braço robótico que serve de cartão de visita a algo maior que dá pelo nome de uma fábrica autónoma. O braço robótico que muitas pessoas julgam que nada tem de novo serviu para Norbert Gaus, vice-presidente com a pasta da Investigação e Desenvolvimento da Siemens, mostrar o potencial da inteligência artificial (IA) na hora de levar um autómato a pegar em objetos diferentes. Para um humano é fácil – para a Siemens é a prova de que é viável criar máquinas que descobrem a melhor forma de executar uma tarefa. A tecnologia estreia na plataforma Xcelerator este verão. Para a Siemens é o primeiro passo para as fábricas autónomas. E foi essa a mensagem que passou no evento Siemens AI with Purposes, em Munique.

“Isso é braço robótico foi treinado para descobrir quais os pontos ótimos que permitem pegar em cada um dos objetos”, descreve Norbert Gaus.

Na Siemens, os controladores industriais são um negócio histórico que é feito através da marca Simatic. Estes controladores funcionam como módulos que determinam como se devem comportar os diferentes equipamentos e robôs em diferentes cenários e funções.

Hoje um terço dos controladores usados na indústria de todo o mundo é produzido pela marca alemã, mas o salto tecnológico apresentado por Gaus durante o evento de Munique promete mudar boa parte das rotinas de uma fábrica com robôs. Até aqui, sempre que um robô precisava de lidar com um novo objeto era necessário inserir códigos de programação para alterar as diferentes funções. Mas com o recurso à IA generativa da Microsoft tornou-se possível criar um “copiloto” que recebe novas tarefas e funções com instruções na língua materna, e ainda mais importante, permite extrair, previamente, os dados necessários a partir de câmaras para saber como executar novas funções, como agarrar objetos de formatos, e pesos diferentes.

É por isso que o braço robótico que Norbert Gaus mostrou não precisa de ser programado para cada objeto que manuseia. “Estes robôs não têm de ser treinados, de repente, para lidar com novos objetos, e podem pegar qualquer coisa.”

São pequenos movimentos de um robô que prometem transformar fábricas inteiras pelo mundo fora, antevê a Siemens. “Estamos a dar os primeiros passos naquilo que chamamos fábricas adaptativas… Por exemplo, podemos desacoplar uma funcionalidade do hardware. No passado tínhamos qualquer funcionalidade mais específica estava ligada a um componente de hardware específico. E é isto que estamos a desacoplar”, descreve Norbert Gaus.

Toda a IA tem impacto no mercado de trabalho… e foi pela boca de um dos parceiros que a Siemens trouxe ao evento para divulgar as mais recentes novidades tecnológicas, que surgiu uma das previsões mais elucidativas sobre o tema: “A IA não vai substituir humanos, mas os humanos que usam IA vão substituir humanos que não usam IA”, proferiu Matthias Kuss, diretor de Soluções de Dados da empresa Fresenius.

Também foi deste executivo que surgiu a mais prática das parábolas industriais sobre a IA: “Esta tecnologia é como pasta de dentes: a partir do momento em que sai do tubo já não volta para dentro.” Igualmente metafórico, Norbert Gaus resume a evolução numa frase: “Podemos não conseguir vê-la, mas IA está em todo o lado.”

Se já era verdade que quase nenhuma fábrica se pode dar ao luxo de mandar os robôs embora, então ainda será mais verdade que nenhuma fábrica estará propriamente interessada em acabar com o uso de robôs que têm inteligência própria para executar diferentes funções rotineiras.

Em vez de encarar uma evolução negativa, Norbert Gaus vislumbra uma subida de nível nas funções que vão ser assumidas pelos humanos. “Os ‘copilotos’ vão livrar-nos de muito trabalho de rotina que ninguém realmente quer fazer, e gastar mais tempo nos problemas mais complexos”, diz.

No campo da complexidade reservada aos humanos, facilmente se vislumbram os casos que envolvem questões morais, emoções, dilemas sem solução, ou opções que seguem as regras, mas subitamente se verificam erradas devido à alteração de contextos, que os humanos conseguem facilmente descortinar, mas as máquinas, que não têm vivência própria, dificilmente podem avaliar.

Sonja Zillner, líder da Área de Confiança da IA, dá como exemplo uma simples certificação sobre algo que as máquinas já fazem: até à data não foi criada uma certificação de que uma máquina realmente consegue classificar e distinguir um cão de um humano, ou um carro de um a bicicleta, entre muitos seres vivos e objetos que nos rodeiam no dia a dia.

Esta certificação será seguramente crucial para garantir que um projeto como aquele em que a Siemens tem participado no desenvolvimento de um comboio sem condutor humano. Sonja Zillner confirma que máquinas e autómatos vão ter de passar a saber aplicar as novas regras de Regulamento da IA da UE, mas também recorda que há estratagemas que têm vindo a ser aplicados para garantir que maior capacidade de lidar com a variabilidade do quotidiano.

“Tenho colegas que treinam sistemas de IA com dados ‘sujos’ (que têm erros ou induzem em erro), para que os possam preparar para alterações de cenário”, informa Sonja Zillner.

Norbert Gaus, vice-presidente da Siemens, considera a Inteligência Artificial um dos pilares das fábricas autónomas

Eskipehlivan primário

Por mais de uma vez, os representantes da Siemens lembraram que a IA não é propriamente novidade. Numa das ocasiões houve mesmo quem dissesse que a marca alemã registou entre 40 e 50 patentes relacionadas com esta área tecnológica.

Ainda assim, há a noção de que, nos dias que correm, o poderio do algoritmo estará algures entre as grandes tecnológicas americanas e as novas startups que têm vindo a lançar os denominados modelos de IA que extraem informação de texto, imagens e sons. E por isso, a estratégia passa sempre por parcerias com Microsoft, AWS (Amazon), e também outros parceiros de menor dimensão ou soluções de código aberto, que permitem conhecer o modo de funcionamento e levar a cabo adaptações.

Michael May, responsável pela pasta da IA na Siemens, prevê, para os próximos tempos, o aparecimento de modelos de IA generativa mais pequenos que podem ser processados dentro de uma fábrica – ou no limite por um único equipamento – sem terem de recorrer à Internet para serem treinados ou recolherem mais informação.

Matthias Kuss, executivo da Fresenius, lembrou que o movimento da Inteligência Artificial é imparável

Siemens

No leque de apostas, figuram ferramentas de simulação que permitem saber como se comporta um objeto perante diferentes adversidades, mas também plataformas que ajudam a desenhar produtos consoante as necessidades, os requisitos ou os cenários de uso. Noutros casos, é a própria IA que ganha capacidade de autoanálise e apresenta potenciais soluções para as falhas e erros que vai descobrindo.

“Vamos conseguir ter no futuro respostas melhores da IA, mas o objetivo é manter sempre o humano envolvido: até por questões legais”, sublinha Michael May.

A IA é a sigla do momento, mas Gaus sublinha que é apenas uma peça adicionada ao puzzle com que pretende abrir caminho para a fábrica autónoma. “Também é preciso assegurar que há conectividade total, e interoperabilidade (entre diferentes famílias de equipamentos). A cibersegurança tem de ser garantida em permanência. É precisa uma sincronização muito forte e gémeos digitais (que replicam objetos reais). Portanto, é preciso juntar muitas tecnologias para chegar a uma fábrica autónoma”, responde o vice-presidente da Siemens.

Hoje, humanos e robôs já partilham espaços de trabalho. Como na parábola da pasta de dentes não se antevê qualquer retrocesso, mas Norbert Gaus também afasta qualquer necessidade de criar mais regras para a harmonizar estes dois grupos de trabalhadores.

A regulação já é muito estrita. E é muito clara no que toca a juntar humanos e máquinas no mesmo espaço para trabalhar, ao mesmo tempo que respeitam a atual regulação. Mas não precisamos de mais regulação”, defende Norbert Gaus. A tecnologia haverá de haverá de fabricar o futuro.

O Expresso viajou a convite da Siemens

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