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A direita populista dinamarquesa tem muito para nos ensinar

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Antes de mais, é importante notar que a direita radical na Dinamarca tem uma história particular. Enquanto no resto da Europa os partidos da direita populista ou foram fundados nos últimos 15 anos, ou mantiveram historicamente um número de deputados muito moderado nos respetivos parlamentos, na Dinamarca a história não é a mesma. O Dansk Folkeparti (Partido Popular Dinamarquês) existe desde a década de setenta, tem origens libertárias, mas acabou por assumir o nacional-conservadorismo no contexto da chegada em massa de imigrantes para o país nos últimos 30 anos. O seu crescimento teve início na década de 2000, anos antes da onda de direita afetar o resto da Europa. O facto de o partido ter muito tempo de atividade não impediu que aparecessem caras novas, líderes populares e estimulantes, na última década. Destaca-se Morten Messerschmidt, que recebeu o maior número de votos de sempre numas europeias na Dinamarca em 2014.

O DF (Dansk Folkeparti) aumentou muito a sua representatividade no parlamento em 2015, ficando em segundo lugar na lista dos mais votados. Apesar dos resultados, o partido decidiu não só apoiar uma iniciativa de formação de governo liderada pelo Venstre (Partido Liberal da Dinamarca), de centro-direita, como ficar totalmente fora da composição desse mesmo governo. Em 2019, o DF sofreu as consequências desta decisão e perdeu cerca de 400 mil votos.

A maior surpresa veio em 2021, quando Inger Støjberg, antiga ministra da imigração, abandonou o Venstre. O partido de Støjberg defendia que esta fosse ouvida em tribunal, relativamente a decisões que tomou como ministra, acusando-a também de quebrar com a linha partidária. Støjberg abandonou naturalmente o Venstre e assumiu o destaque na imprensa dinamarquesa, principalmente durante o seu processo judicial. Tal como Donald Trump nos Estados Unidos, Støjberg assumiu-se na Dinamarca como uma líder populista, envolvida num processo «político» (no caso da dinamarquesa, o tema do processo, a política de imigração, tornou-o ainda mais relevante). Acabaria por ser condenada e em 2022, depois de sair de prisão domiciliária, funda o partido Danmarksdemokraterne (Democratas da Dinamarca), que assume claramente uma linha política populista e de direita. Passam a existir dois partidos similares, liderados por dois líderes muito populares. Em 2022, o DF perde representatividade e o DD (Danmarksdemokraterne) passa a ser representado no parlamento. Se em 2019 o DF estava representado por 16 deputados, a partir de 2022 a soma de deputados dos dois partidos é de 19. No entanto, a direita radical passa a ser representada por duas entidades separadas, em vez de uma frente unida.

O personalismo é uma característica inerente aos partidos populistas. Na Dinamarca, uma política decidiu aproveitar a oportunidade e em vez de aderir ao partido que ocupava o lado mais à direita do espetro político, decidiu formar um novo, centrado em si. Esta decisão dividiu o eleitorado e provocou uma perda de poder da direita radical. Também aqui, tal como aconteceu na Dinamarca, um ator político de centro-direita tem revelado um discurso cada vez mais radical e atraído os olhares do público. Pedro Passos Coelho tem testado os limites da sua relação com o Partido Social Democrata e se as previsões de muitos se cumprirem, esta acabará mesmo por ser rompida. Por outro lado, a relação entre Passos Coelho e Ventura parece ser cada vez mais próxima, Ventura apontou mesmo Passos Coelho como possível candidato presidencial. Podemos questionarmo-nos sobre que decisões vai tomar Passos Coelho, se aceitará ser um «número dois» do Chega, candidato presidencial, se tentará provocar uma crise interna no PSD (apesar de poucas personalidades do partido terem mostrado o seu apoio à linha do ex-líder), ou se aproveitará o seu estatuto na política nacional e tentará mesmo fundar um novo partido centrado em si, que poderá competir com o Chega de Ventura. Se, na Dinamarca, temos Støjberg contra Messerschmidt, não podemos eliminar a possibilidade de virmos a ter, em Portugal, um combate entre Ventura e Passos Coelho.

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