Home Entretenimento Novo “sinal positivo” na prevenção do VIH: injeção apresenta eficácia de 100%...

Novo “sinal positivo” na prevenção do VIH: injeção apresenta eficácia de 100% em ensaio com jovens mulheres africanas

27
0

Uma novidade importante no caminho contra o VIH surgiu nos últimos dias: os resultados de um grande ensaio clínico realizado no Uganda e na África do Sul mostraram que uma injeção de um novo medicamento antiviral, administrada duas vezes por ano, deu proteção total contra o vírus em mulheres com idades entre os 16 e os 25 anos.

O ensaio da empresa Gilead procurou testar se a injeção de lenacapavir, de seis em seis meses, proporcionaria melhor proteção contra a infeção por VIH do que dois medicamentos amplamente utilizados que são comprimidos de toma diária. Nenhuma das 2134 mulheres que recebeu lenacapavir contraiu VIH, enquanto 16 das 1068 que tomaram Truvada (1,5%) e 39 das 2136 que receberam Descovy (1,8%) foram infetadas.

“Os dados até este momento são excelentes. É um sinal francamente positivo, a confirmarem-se estes dados”, considera o presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia (SPV), Vítor Duque. O trabalho ainda não foi sujeito a revisão entre pares e importa também saber se as conclusões são depois comprovadas por “outros estudos em andamento noutros países”, aponta ao Expresso o médico virologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC).

INVISÍVEIS Um comprimido diário torna o VIH indetetável e, por isso, intransmissível. Os seropositivos viveriam a vida normal não fosse o medo da discriminação, que se mantém quase igual a 1983. A maioria prefere calar a doença que leva dentro

Tanto o lenacapavir como os dois comprimidos estudados são medicamentos de profilaxia pré-exposição (PrEP), ou seja, a prevenção é feita antes da ocorrência de um comportamento de risco com o objetivo de reduzir a possibilidade de infeção. Tratar-se de uma injeção bianual “é um aspeto extremamente importante” porque evita questões como o “estigma” e “problemas na adesão à prevenção”, que ocorrem muitas vezes na toma dos comprimidos, indica Vítor Duque. “Não só a terapêutica do VIH como a sua prevenção evoluem no sentido de procurar novas moléculas com o chamado longa ação [ação prolongada]”, como é o caso do lenacapavir, enquadra o especialista.

Tal é realçado pela médica e investigadora Linda-Gail Bekker, que já foi presidente da International AIDS Society, no comunicado divulgado pela Gilead: apesar de as “opções tradicionais de prevenção do VIH” serem “altamente eficazes quando tomadas conforme prescrito”, o lenacapavir administrado duas vezes por ano “pode ajudar a resolver o estigma e a discriminação que algumas pessoas podem enfrentar quando tomam ou armazenam comprimidos orais de PrEP, bem como ajudar potencialmente a aumentar a adesão e a persistência da PrEP, dado o seu esquema de dosagem semestral”.

Entre 2020 e 2021, o VIH/Sida tirou a vida a 298 pessoas em Portugal, a maioria do sexo masculino. Desde 1983, houve mais de 15 mil óbitos

Imagens Getty

Grupo particularmente afetado

O trabalho destaca-se também pelo facto de “pela primeira vez haver um estudo virado para os elementos do sexo feminino”, dado que “geralmente não são incluídas mulheres ou são incluídas numa pequena proporção”, indica Vítor Duque. No total, foram abrangidas mais de 5300 jovens na África do Sul e no Uganda. “Nessas áreas de África, as mulheres em idade jovem são as principais vítimas da infeção por VIH. São aquelas que têm muitas vezes menos acesso à profilaxia pré-exposição”, retrata o presidente da SPV. Em 2022, registaram-se 210 mil novas infeções entre mulheres com idades entre os 15 e os 24 anos na África Subsariana, segundo dados da UNAIDSque mostram que 82% das adolescentes e jovens que contraíram o vírus nesse ano vivem na região.

Caso venha a ser aprovado, uma das dificuldades poderá estar no acesso ao medicamento, nomeadamente devido ao elevado preço. Este é um problema que normalmente se coloca numa fase inicial, mas há formas de o ultrapassar a médio prazo, explica Vítor Duque. “Há empresas que disponibilizam a sua investigação a outras empresas, de maneira a melhorar o acesso e tornar o medicamento mais barato.”

Um Gileade afirma estar a trabalhar para o fornecer “com rapidez, em volume suficiente para satisfazer a procura, a preços que permitam uma disponibilidade generalizada e em coordenação com parceiros no terreno”, especialmente nos países com recursos limitados e alta incidência. Uma representante da empresa, Janet Dorling, disse ao “The New York Times” que a ideia é assinar licenças voluntárias com fabricantes de medicamentos genéricos em várias regiões, partilhando a propriedade intelectual em troca de uma taxa de licenciamento, de forma a que, possivelmente, um genérico mais barato fique disponível para os países de menores rendimentos.

Um laço vermelho, um símbolo luta contra a Sida

Fotos da China/Imagens Getty

Está ainda a decorrer um outro ensaio de avaliação da eficácia do lenacapavir em sete países – Argentina, Brasil, México, Peru, África do Sul, Tailândia e Estados Unidos – com pessoas transgénero e homens que têm relações sexuais com homens, cujos resultados a Gilead espera obter até ao final do ano ou no início de 2025.

Nos últimos anos, a procura por uma vacina contra o VIH “tem sido um fracasso em termos de investigação”, observa Vítor Duque, recordando as palavras de Anthony Fauci, antigo responsável do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, que já disse que poderia ser “impossível” encontrar uma vacina eficaz.

Fuente

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here