A França votou no domingo no primeiro turno de uma eleição parlamentar antecipada, que pesquisas de opinião preveem que o partido de extrema direita União Nacional pode vencer sem maioria absoluta.
O que acontece então? A paralisia política pode ser evitada após a eleição, cujo segundo turno será em 7 de julho?
RESPOSTA CURTA: NINGUÉM SABE COM CERTEZA
O artigo 8 da constituição diz que o presidente nomeia o primeiro-ministro, mas não diz qual critério ele deve usar.
Na prática, Presidente Emmanuel Macron seria esperado que oferecesse o cargo ao principal grupo parlamentar – que as sondagens de opinião sugerem que será o Eurocéptico e anti-imigração Reunião Nacional (RN).
RN CHEFE BARDELLA SERÁ PRIMEIRO MINISTRO?
O RN disse que o líder do partido, Jordan Bardella, é seu candidato a primeiro-ministro, mas também disse que recusará o cargo se ele e seus aliados juntos não obtiverem a maioria absoluta de pelo menos 289 assentos.
Como a constituição não diz como ele deve escolher seu primeiro-ministro, Macron poderia, em qualquer caso,em tese, tentam formar uma aliança anti-RN e oferecer o cargo a outro partido, ou a alguém que não seja filiado politicamente.
SE NÃO BARDELLA, QUEM?
A constituição não fornece nenhuma resposta específica.
As opções incluiriam:
– tentando formar uma aliança de partidos tradicionais. Nenhuma aliança desse tipo existe agora, mas Macron pediu que os partidos se unissem para manter a extrema direita fora.
– oferecer o cargo à esquerda, se uma aliança que inclua a extrema-esquerda, o Partido Socialista e os Verdes emergir como o segundo maior grupo, como sugerem as sondagens de opinião. A esquerda poderia então tentar formar um governo minoritário.
ALGUMA DESSAS OPÇÕES FUNCIONARIA?
Se o RN obtiver a maior percentagem de votos e aceitar o cargo de primeiro-ministro, iniciar-se-á um período de “coabitação” com Macron. Isto aconteceu três vezes na história política moderna de França, mas com os principais partidos. O RN pode ter dificuldades para conseguir que as reformas sejam adotadas.
Se o RN for o maior partido no parlamento, mas não estiver no poder, ele pode bloquear ou modificar propostas do governo. A constituição dá ao governo algumas ferramentas para contornar isso, mas com limites.
Se o RN obtiver a maioria, isso lhe garante amplamente o cargo de primeiro-ministro, já que ele poderia, por conta própria, forçar qualquer governo com o qual discorde a renunciar.
O QUE ACONTECE SE NÃO HOUVER ACORDO?
É possível que nenhum dos três grupos – a extrema-direita, o centrista e a esquerda – seja suficientemente grande para governar sozinho, chegar a um acordo de coligação ou obter garantias de que pode gerir um governo minoritário viável.
Nesse caso, a França correria o risco de paralisia política, com pouca ou nenhuma legislação sendo adotada e um governo interino administrando os assuntos básicos do cotidiano.
PODERIA MACRON RENUNCIAR?
Macron descartou isso, mas pode se tornar uma opção se tudo for bloqueado. Nem o parlamento nem o governo poderiam forçá-lo a fazer isso.
O QUE NÃO ACONTECERÁ EM NENHUM CENÁRIO
A constituição diz que não pode haver novas eleições parlamentares por mais um ano, então uma repetição imediata da votação não é uma opção.
O QUE MAIS VOCÊ DEVE SABER?
O resultado das eleições parlamentares francesas é difícil de prever porque envolvem 577 eleições separadas, uma por assento. Uma campanha curta e incomum pode significar que o resultado difere do que as pesquisas projetam.