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Opinião: Por que a Europa está nervosa com um possível retorno de Trump

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O desempenho instável do presidente Joe Biden contra seu rival, Donald Trump, no primeiro debate presidencial na quinta-feira enviou ondas de choque em ambos os lados do Atlântico. Nos EUA, uma pesquisa da CBS News/YouGov no domingo sugeriu que 72% dos eleitores registrados acreditavam que Biden não tinha aptidão mental para servir como presidente. Biden tem 81 anos e Trump tem 78, mas aqueles que assistiram ao debate devem ter notado que Biden fez seu rival parecer muito mais jovem. Mais preocupante para o Partido Democrata foi que a pesquisa indicou que 45% dos democratas registrados queriam que Biden se afastasse por outro candidato.

Na Europa, o fraco desempenho de Biden, que aumentou dramaticamente as hipóteses de Trump ser reeleito, suscitou muita ansiedade sobre o que um segundo mandato de Trump poderia significar para a segurança da Europa e para o futuro da Ucrânia. Um website de notícias polaco resumiu a preocupação do continente: “Trump provou mais uma vez que a sua vitória potencial é uma má notícia para a NATO, a Ucrânia e, por extensão, a Polónia”.

Muitos europeus acreditam que o futuro da Europa sem um forte abraço dos EUA é incerto. Eles temem que, se Trump vencer na eleição presidencial de novembro, a segurança da Europa não estará garantida. Trump disse que acabaria com a guerra Rússia-Ucrânia, e se ela terminar com o status quo atual, pode ser vista mais como uma derrota para a OTAN do que para a Ucrânia.

Cimeira da NATO num momento crítico

Em meio a essa ansiedade, os líderes da aliança de 32 membros da OTAN estão se reunindo em Washington de 9 a 11 de julho para celebrar seu 75º aniversário. Mas com a guerra em andamento na Ucrânia e os comentários de Trump no debate de quinta-feira, não haverá muito o que comemorar. As opiniões de Trump sobre a OTAN e a Ucrânia lançaram uma sombra sobre a cúpula. Durante o debate, Trump mais uma vez repreendeu os membros europeus da OTAN por não contribuírem o suficiente para o orçamento da aliança, uma questão que certamente será discutida. Além disso, a guerra russa na Ucrânia estará no topo da agenda, incluindo a questão da filiação da Ucrânia à OTAN.

Uma das principais razões pelas quais os líderes europeus estão apreensivos quanto à potencial reeleição de Trump é a sua posição crítica em relação à NATO durante a sua presidência. Ele pressionou pelo aumento dos orçamentos de defesa entre os membros europeus da OTAN. Embora isto tenha levado a alguns aumentos, foi muitas vezes acompanhado por uma retórica dura e ameaças de retirada do apoio dos EUA. Muitos países europeus comprometeram-se a contribuir com 2% do seu PIB para o orçamento da NATO até ao final deste ano. Com uma contribuição superior a 3,5%, os EUA continuam a ser o maior contribuinte para a aliança.

A realidade das contribuições da OTAN

Em suas constantes reclamações sobre a Europa não pagar o suficiente pela OTAN, Trump perde um ponto vital. A realidade é que os EUA usam a OTAN para manter sua autoridade sobre a Europa. Os críticos argumentam que a América exerce influência desproporcional dentro da aliança, direcionando suas prioridades estratégicas e ações militares, esperando que a Europa siga o exemplo. Historicamente, seja a invasão dos EUA no Iraque e Afeganistão ou os bombardeios sobre a Líbia, os membros europeus da OTAN sempre apoiaram os EUA.

A posição dos EUA na guerra de Israel em Gaza é totalmente apoiada pela Grã-Bretanha e por muitos membros europeus da OTAN. Muitos europeus comuns sentem que a política externa de seus governos é subserviente aos EUA.

Preocupações mais amplas da Europa

A Europa não teme apenas as visões de Trump sobre a OTAN e a Ucrânia – podemos lembrar que durante a presidência de Trump, vários acordos e parcerias internacionais importantes foram abandonados ou renegociados, muitas vezes para o desânimo dos aliados europeus. A retirada dos EUA do acordo climático de Paris, do acordo nuclear com o Irã e de vários acordos comerciais criaram fissuras significativas. Os líderes europeus, que valorizavam esses acordos para a estabilidade global e proteção ambiental, estão preocupados que a reeleição de Trump levaria a políticas mais isolacionistas e a um papel diminuído dos EUA na liderança global.

Em fevereiro, Trump surpreendeu a classe política dos EUA ao dizer que “encorajaria” a Rússia “a fazer o que diabos quisesse” com os aliados da OTAN que não gastassem o suficiente em defesa. A declaração criou uma grande controvérsia e, embora a popularidade de Trump continuasse crescendo, ela exacerbou ainda mais a insegurança europeia. Muitos temem que o estilo de governança transacional, isolacionista e disruptivo de Trump desafiaria e possivelmente destruiria o atual relacionamento transatlântico.

Contexto histórico e esforços europeus

Trump, no entanto, não é o único presidente a questionar o fardo da NATO sobre os EUA. O Presidente Dwight Eisenhower também acreditava que as nações europeias deveriam eventualmente ser capazes de se defenderem sem depender dos EUA, sugerindo que a NATO não deveria ser uma solução permanente. Mais recentemente, um senador republicano questionou-se sobre quando é que a Europa aprenderia a manter-se de pé.
Sinais dos esforços da Europa para reduzir a dependência dos EUA

O potencial regresso de Trump à Casa Branca levou a Europa a começar a preparar-se para uma NATO “à prova de Trump”. Muitos optimistas nos círculos académicos europeus acreditam que o continente pode tornar-se uma força independente num mundo multipolar, argumentando que a Europa tem os recursos para se defender sozinha. O continente contribuiu mais financeiramente para os esforços de guerra da Ucrânia do que os EUA. Muitos países europeus começaram a investir na reconstrução das suas capacidades de defesa, que tinham reduzido desde que a NATO começou a fornecer segurança em 1949.

Em abril, o presidente francês Emmanuel Macron defendeu uma política externa europeia mais independente, dizendo que era hora de a Europa ser mais unida e independente. Em um discurso na Universidade Sorbonne, em Paris, Macron disse que o continente era “muito lento e carente de ambição” e que a União Europeia de 27 membros precisa se tornar uma superpotência, defender suas próprias fronteiras e falar com uma só voz se quiser sobreviver e prosperar.

Uma Europa sem a cobertura de segurança da OTAN pode ser música para os ouvidos da Rússia, mas o continente pode mergulhar no caos por disputas internas se os EUA deixarem a aliança. Historicamente, Alemanha, França e Grã-Bretanha estavam frequentemente em guerra, culminando nas duas guerras mundiais. Desde então, tem sido pacífica e próspera, graças principalmente aos EUA.

Mas desde a última vez que Trump esteve no poder (2016-2020), a União Europeia tem trabalhado seriamente no fortalecimento da Política Comum de Segurança e Defesa (CSDP), aumentando os orçamentos de defesa e aprimorando a cooperação militar entre os estados-membros. Iniciativas como o Fundo Europeu de Defesa (EDF) e a Cooperação Estruturada Permanente visam desenvolver projetos militares conjuntos e melhorar a prontidão da defesa. Além disso, países como França e Alemanha estão defendendo um exército europeu mais integrado para garantir que o continente possa gerenciar sua segurança de forma independente e responder a ameaças potenciais.

À medida que a potencial reeleição de Trump se aproxima, a cimeira da NATO dará à Europa uma oportunidade de procurar a garantia de segurança, independentemente de quem seja o presidente dos EUA. Mas será sensato começar a preparar-se para reforçar as suas próprias capacidades de defesa para reduzir a dependência dos EUA. Pode-se argumentar que, caso Trump seja reeleito, isso poderá prejudicar os europeus. É por isso que, em vez de tentar lutar por uma NATO à prova de Trump, será mais benéfico para a Europa continuar a preparar-se para uma NATO livre dos EUA.

(Syed Zubair Ahmed é um jornalista indiano sênior baseado em Londres com três décadas de experiência na mídia ocidental)

Aviso Legal: Estas são as opiniões pessoais do autor

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