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Rita Carmo, sobre a atividade vulcânica na Terceira: “Vamos continuar a sentir sismos nos próximos dias, ainda que de magnitude mais baixa”

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Na vulcanologia, o otimismo e o pessimismo variam consoante a estatística. E depois das mais recentes notícias sobre o aumento do nível de alerta da atividade sísmica na Ilha Terceira, esses números voltaram para a linha da frente. “Em 80% ou 90% dos casos, isto não evolui para um cenário da erupção vulcânica. Nos outros 10% a 20%, eventualmente, podem evoluir”, descreve Rita Carmo, membro da direção do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), sobre a atividade vulcânica registada na Ilha Terceira, nos Açores.

Rita Carmo, numa das missões de investigação no vulcão de La Palma, nas Canárias

DR

As probabilidades parecem estar contra uma erupção do vulcão da Serra de Santa Bárbara, mas Rita Carmo confirma os primeiros sinais de mudança: “Conseguimos ver que o vulcão começou a sofrer um aumento de volume”, diz, no podcast Futuro do Futuro, desta vez gravado em videoconferência: “Nos próximos dias, [os habitantes da Terceira] vão certamente continuar a sentir sismos, ainda que alguns de magnitude mais baixa. Não conseguimos pará-los, mas a verdade é que as pessoas têm que ter conhecimento do que fazer em caso de sismo”, prevê a vulcanologista, aconselhando a consulta das páginas da proteção civil e de outras entidades da região.

Álvaro Covões

Rita Carmo

Blitz Posto Emissor

O CIVISA atualizou, na semana passada, a escala de alerta do vulcão da Serra de Santa Bárbara de V2 para V3, e do Sistema Vulcânico Fissural da Terceira de V0 para V1. A escala vai de V0, para atividade vulcânica inexistente, a V7 que classifica uma erupção de grandes proporções. Rita Carmo explica que a atualização do nível de alerta da Serra de Santa Bárbara teve em conta a sismicidade detetada desde o início do ano, mas não perdeu de vista outros parâmetros que fizeram “passar ao nível seguinte, que é o V3, em que confirmamos a reativação”.

“Digamos que, vivendo numa região vulcânica e sismicamente ativa como os Açores, há sempre o risco de haver um dia uma erupção vulcânica”, sublinha a cientista açoriana.

Mapa que ilustra a confluência das três placas tectónicas que estão na origem dos Açores

DR

Foi para ilustrar a atividade vulcânica dos Açores que Rita Carmo trouxe dois mapas que ajudam a compreender o enquadramento gerado por placas tectónicas e os principais locais do arquipélago onde os interstícios do planeta continuam a enviar sinais para a superfície. A investigadora trouxe também um vídeo para ilustrar o som e o ambiente vividos nas ilhas Canárias, depois de integrar as equipas de cientistas que estudaram a erupção do vulcão de La Palma.

Ciente da imprevisibilidade dos vulcões, Rita Carmo não pode pôr de parte uma eventual erupção na Serra de Santa Bárbara, mas lembra que o nível de alerta de V3 está abaixo daquele que se registou em 2022 na ilha de São Jorge, depois de deixar especialistas e população entre o sobressalto e a expectativa.

Mapa das 28 erupções de que há registo nos Açores ao longo da história

DR

“A destruição associada à atividade sísmica” e a queda cinzas vulcânicas “fizeram com que cerca de metade da população migrasse para os Estados Unidos da América”, recorda Rita Carmo, sobre o sucedido nos Capelinhos nos anos 50.

De resto, os vulcões são hoje um dos traços identitários da cultura açoriana: muitas das crenças ou das tradições religiosas destas nove ilhas do Atlântico começaram a ganhar forma “na sequência destes eventos que, muitas vezes, eram apelidados de mistérios em que havia um fenómeno que as pessoas desconheciam”, e que mudou “as tradições dos Açores”.

Matilde Fieschi

Em São Jorge, o nível de alerta chegou mesmo a V4, que já remete para uma eventual erupção. Hoje o nível de alerta para a Ilha de São Jorge já desceu até V1, mas no CIVISA há a noção de que, tirando a monitorização, a humanidade não controla os “humores” do magma quando encontra forma de se introduzir por entre placas tectónicas e ascender à superfície da crosta terrestre – uma lógica que agora pode assustar, mas é também o momento fundador dos Açores, enquanto arquipélago que deve a sua existência aos vulcões resultantes da confluência das placas tectónicas euroasiática, africana e americana.

“Posso dizer que, desde o povoamento do arquipélago, no século XV, temos cerca de 28 erupções vulcânicas registadas no arquipélago”, refere a responsável do CIVISA. Rita Carmo elege uma erupção de grandes proporções, que ocorreu há mais de 5000 anos, como a mais determinante para aquilo que é hoje o Arquipélago, mas não esquece o vulcão dos Capelinhos, na ilha do Faial, num tempo em que já havia câmaras de filmar.

João Pedro Morais

Humor à Primeira Vista

Questionada sobre a capacidade das autoridades para atuar em caso de emergência, Rita Carmo socorre-se do sucedido em São Jorge para dar nota positiva ao dispositivo de proteção civil, mas admite que no caso de erupção de grande intensidade pode não haver alternativa à retirada de pessoas do local.

“Sabemos que estamos numa região vulcanicamente ativa e que há sempre esse problema que pode ocorrer. Mas a verdade é que enquanto não acontece, se calhar deixamos as coisas correr um bocadinho com mais calma”, conclui a cientista.

Tiago Pereira Santos

Hugo Séneca conversa com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos.

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