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Um vírus que “não obedece a sazonalidade” com uma sublinhagem a causar impacto: o que explica o aumento de casos de covid-19?

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O número de casos de covid-19 em Portugal tem vindo a aumentar desde o final de maio. Os dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) mostram dois registos, nas últimas semanas, que há muito não aconteciam: foram reportados 616 casos no dia 14 de junho (o valor mais elevado desde 8 de setembro do ano passado – 629) e a 26 de junho morreram 18 pessoas, o número mais alto desde 15 de julho de 2022, dia com 24 óbitos.

Mas, por enquanto, não há motivo para alarme e importa recordar as recomendações já conhecidas, segundo os especialistas ouvidos pelo Expresso. Para o epidemiologista Manuel Carmo Gomes, são duas as razões para a situação atual: o “grande sucesso” de uma nova sublinhagem do vírus SARS-CoV-2 e o tempo que já passou desde a vacinação sazonal, no outono de 2023.

Em Portugal, circulam maioritariamente a sublinhagem JN.1 e descendentes, entre as quais se destaca a KP.3, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). “O vírus está-se a adaptar e essas KP têm uma grande capacidade de fugir aos nossos anticorpos”, explica Manuel Carmo Gomes. Tal propicia a infeção, apesar de mantermos, em geral, “proteção contra as formas mais graves da doença”. Além disso, “a cobertura vacinal no outono passado, infelizmente, não foi brilhante”, acrescenta o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Entre a população elegível pela idade – os maiores de 60 anos – foram vacinados 56,14%, indicam os dados da DGS.

O aumento de infeções, apesar de estarmos no início do verão, deve-se também ao facto de o vírus não ter em conta a época do ano. “O SARS-CoV-2 não obedece a sazonalidade porque é bastante infeccioso e não ter imunidade perene faz com que existam, potencialmente, ondas fora de época de transmissão deste vírus”, justifica Bernardo Gomes, médico especialista em saúde pública. Em grandes eventos, como os festivais que caracterizam este período, a infeção é “mais provável” dada a elevada proximidade e concentração de pessoas.

A situação poderá “induzir mais alguma pressão” nos hospitais, sobretudo quando ou onde não há “outras portas abertas”, tendo em conta “o funcionamento das urgências do SNS como um todo”, aponta o vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública. Mas, para já, não está a ter impacto significativo. “Não se está a sentir uma pressão causada pela covid, mas para as pessoas que têm muitas comorbilidades, os mais idosos, a covid é um perigo muito grande. Isso, de certo modo, justifica os óbitos”, afirma Manuel Carmo Gomes. A média dos últimos sete dias é de 12 mortes por dia, comparando com três há pouco mais de um mês, a 27 de maio, segundo o epidemiologista.

Há duas semanas, a DGS alertava para o “aumento da transmissão” e “tendência crescente da proporção de episódios de urgência”por covid-19 em todas as regiões e grupos etários, com um “crescimento mais evidente” nas faixas mais velhas. A diretora-geral da Saúde relembrou, já na semana passada, a importância das “boas práticas” para evitar o contágio, em particular o uso de máscara em caso de haver sintomas.

ATHIT PERAWONGMETHA/REUTERS

“O uso da máscara em determinadas circunstâncias é bastante importante”, sublinha Bernardo Gomes. Enquadra-se nas medidas de “etiqueta respiratória” e de “autocuidado e cuidado com terceiros e pessoas vulneráveis”, ou seja, “que alguém que tenha sintomas tenha o cuidado de se resguardar para não infetar outros”. A qualidade do ar e a ventilação dos espaços é outro aspeto relevante, por vezes esquecido. “Sabemos que a covid é essencialmente transmitida por inalação. Estarmos a respirar num ambiente onde está outra pessoa que tem covid e com o simples facto de a pessoa estar ali, a falar, se o ar não for movimentado, não houver uma corrente de ar ou janelas abertas, somos infetados”, lembra Manuel Carmo Gomes.

Ambos os especialistas vincam ainda a importância da vacinação. A próxima campanha sazonal deverá começar na segunda quinzena de setembro, anunciou a DGScom o desafio de procurar contrariar a tendência de diminuição da cobertura contra a covid-19. “Não percam a oportunidade de reforçar a vacina no próximo outono”, apela o epidemiologista.

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