Home Entretenimento Inovação, conhecimento e criatividade são propósito da tecnologia

Inovação, conhecimento e criatividade são propósito da tecnologia

No extremo leste da Europa, cerca de 2,6 milhões de ucranianos, habitantes da cidade de Kyev, usam diariamente a App ‘Kyev Digital’. Com esta que podia ser apenas mais uma aplicação nos seus telemóveis sabem, em tempo real, como está a qualidade do ar na capital da Ucrânia, e se existe risco de fuga de materiais perigosos, especialmente cloro e amoníaco, que possa afetá-la. Esta é uma rotina diária de quem vive em clima de guerra e espelha uma das formas como a tecnologia está a ajudar na resposta ao conflito.

Do outro lado do Atlântico, em plena Amazónia, o impacto das alterações climáticas – com a seca a reduzir o caudal dos rios e a matar espécies protegidas, como o golfinho rosa -, e a desflorestação ilegal causada pela ganância, já afetaram 25% do território que compõe um dos maiores e mais importantes ecossistemas do planeta. Na reserva de Pimenta Barbosa, a comunidade indígena liderada pelo Cacique Dadá Borari mantém as ancestrais reuniões que juntam os mais velhos, noite após noite, em comunhão com a natureza, para debater os problemas atuais, questões políticas, e para preparar o futuro.

Mas, apesar de manter as tradições, esta comunidade está atenta às inovações e recorre à tecnologia para evitar as frequentes invasões do território, os roubos e as ameaças. Câmaras e sensores IoT permitem saber, em tempo real, se alguém ultrapassou a fronteira da reserva, e o armazenamento das imagens na cloud funciona como um seguro em caso de litígio em tribunal. Com o apoio de um conjunto de empresas e de Organizações Não Governamentais (ONG), a terra indígena Maró, no Estado do Pará, olha o futuro com mais otimismo.

Hoje, o Cacique Dadá Borari não esteve presente na cimeira Digital With Purpose (DWP) como estava previsto porque, uma vez mais, as suas terras foram invadidas. Mesmo assim, a experiência da comunidade com a tecnologia usada em prol da biodiversidade chegou a Cascais pelas mãos de Marco van der Ree, fundador e CEO da Brokering Solidarity, que dinamiza parcerias para o desenvolvimento de ferramentas inovadoras que promovem o desenvolvimento sustentável em zonas mais desfavorecidas do planeta, nomeadamente na Amazónia.

Mas estes são apenas dois dos muitos exemplos da aplicação da tecnologia nas áreas da biodiversidade, educação e cidades sustentáveis, os três temas centrais da cimeira que terminou hoje após três dias de intenso debate, workshops e networking entre os cerca de 300 oradores e os participantes que assistiram de forma presencial, ou online via streaming. “A tecnologia só faz sentido se servir a Humanidade”, enfatizou Hugo Espírito Santo, durante a cerimónia de encerramento do DWP. “Mas temos que garantir que está ao nosso serviço e que contribui para preparar o futuro”, reforçou o Secretário de Estado das Infraestruturas.

Distinguir a inovação com propósito e impacto

Com as espécies invasoras a ocupar o Top5 das maiores ameaças globais à biodiversidade, o júri dos DWP Awards, não teve dúvidas ao escolher o projeto vencedor do DWP Award 2024, prémio que acumulou com a distinção na categoria de Biodiversidade, e que foi entregue pela professora e investigadora da Universidade de Coimbra, Helena Freitas. Trata-se do primeiro sistema de triagem de salmões baseado em inteligência artificial (IA) do mundo, desenvolvido pela Huawei, e implementado em dois rios naturais na Noruega para isolar o salmão-rosa, uma espécie invasora que ameaça sobrepor-se ao salmão-do-atlântico selvagem e a outras espécies de peixes nativas.

Esta solução, que permitiu reduzir o trabalho manual em 90%, é composta por uma câmara subaquática, uma IA para identificar as espécies de peixes e uma armadilha para peixes automatizada que pode abrir/fechar o portão automaticamente assim que forem identificadas diferentes espécies de peixes. O salmão invasor é desviado para um aquário, enquanto outras espécies de peixes locais podem passar o portão para a corrente superior do rio. Desde 2023 já foram retirados mais de 6.000 salmões invasores. Todo o sistema é alimentado com energia verde, e um CPE 5G para carregar os dados para a nuvem quase em tempo real.

Na categoria Educação, o grande vencedor foi a plataforma edtech, ‘UBBU’, concebida pela Unicorn Treasure, para revolucionar a forma como as crianças dos seis aos 12 anos aprendem informática e desenvolvem a literacia digital. Através da gamificação, atividades interativas, lições e projetos, a ‘UBBU’ introduz os jovens alunos no mundo da programação, da lógica e da resolução de problemas, enquanto “fomenta um sentido de curiosidade e criatividade”, como destacou Veerle Vanderweerd, co-coordenadora da COVID Education Alliance, iniciativa que visa colmatar as deficiências dos atuais sistemas educativos e ajudá-los a adaptarem-se às exigências do mundo atual. A plataforma ‘UBBU’ está disponível em mais de 20 países, envolve mais de 113 mil alunos, 3660 professores e 830 escolas. Em Portugal, uma parceria com o Ministério da Educação permite às escolas do ensino público utilizar esta plataforma de aprendizagem.

O projeto ‘MyCharge’, da Taiwan Mobile, uma rede de carregamento integrada para os proprietários de veículos elétricos, foi o vencedor da categoria Smart Cities, prémio entregue por Giorgia Rambelli, diretora do Covenant of Mayors, o movimento europeu que envolve autarquias comprometidas com o aumento da eficiência energética nos seus territórios. Trata-se de uma aplicação que oferece uma solução única para a instalação e operação de estações de carregamento de veículos elétricos, e que combina a faturação das telecomunicações com as taxas de carregamento, simplificando o processo de pagamento e melhorando a experiência global de carregamento para os clientes.

Estes prémios têm como objetivo destacar e promover soluções digitais que respondam às necessidades humanas, diminuam a pobreza, aumentem a inclusão e protejam a natureza. No fundo, aquilo que, nas palavras de Hugo Espírito Santo, resume o propósito da tecnologia: inovação, conhecimento e criatividade.

Outras conclusões do terceiro dia:

  • Participação cívica é muito importante e a chave para o sucesso das cidades inteligentes, mas tecnologia tem que ser combinada com inovação: são necessárias políticas para a execução, com definição clara de regras e de responsabilidade, através de abordagens colaborativas globais, partilha de recursos e de conhecimento.
  • É preciso reinventar a inovação – ter uma abordagem sistémica, centrada no ser humano, orientada pela visão colaborativa e transformativa – e partir das necessidades reais das populações para o desenvolvimento de soluções.
  • Gamificação da educação permite escalar soluções que ajudam a resolver problemas e transmitem conhecimento e competências. Em simultâneo, permite obter dados que ajudam a definir padrões e tendências.
  • Falta financiamento para as soluções alternativas na educação porque estão muito fragmentadas. Tem que haver colaboração para criar um ecossistema global com o objetivo último de qualquer aluno poder escolher o seu percurso e ter acesso ao conhecimento.

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