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Tenham medo, tenham muito medo: o novo labirinto de Laurie Anderson pode desembocar no futuro

Eenham medo. Tenham muito medo. Laurie Anderson é exatamente o tipo de pessoa que, involuntariamente, quase sem se aperceber, atua como veículo de antecipação do futuro. Aquilo que, antigamente, se designava como profeta. Em 1981, no primeiro álbum “Big Science”, incluía ‘O Superman’, inviamente inspirada na ópera “Le Cid”, de Jules Massenet, na qual, em gélido registo vocal, mecanicamente entoava: “Well, you don’t know me, but I know you, and I’ve got a message to give to you: here come the planes, they’re American planes, made in America (…) And the voice said: neither snow nor rain nor gloom of night shall stay these couriers from the swift completion of their appointed rounds.” 10 anos depois, uma semana e um dia após o atentado ao World Trade Center, Laurie Anderson atuaria no Town Hall, de Nova Iorque. Durante a interpretação de peças como ‘Strange Angels’ (“Big changes are coming, here they come, here they come”), ‘Let X=X’ (“I feel like I am in a burning building… I gotta go”) e, sobretudo, ‘O Superman’, na própria gravação (“Live in New York”, 2002), era palpável a tensa atmosfera glacial que se instalara. Voltaria igualmente à superfície a polémica citação de Don DeLillo que, em ‘The Cultural Ambassador’ (de “The Ugly One with the Jewels”, 1995), ela usara, defendendo que “os terroristas são os derradeiros artistas que restam, pois são os únicos capazes de verdadeiramente nos surpreender”. Afinal, apenas uma versão menos entusiástica do que a de Karlheinz Stockhausen, que, no calor dos acontecimentos, qualificaria o 11 de Setembro como “a maior obra de arte de todos os tempos, o sonho de qualquer músico: trabalhar durante 10 anos para a realização de uma obra e morrer durante a consumação dela”. Stockhausen nunca se retrataria, mas, anos mais tarde, Laurie procuraria explicar-se: “A questão, quando se escreve sobre estética e política, é que a política e a arte estão sempre a mudar. Há um tempo e um lugar certos para abordarmos determinadas ideias que não são sempre necessariamente verdadeiras.”

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