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Inovação Educativa: porquê, para quê, o quê, como? As questões essenciais

A inovação educativa e pedagógica parece ter-se tornado num modismo, numa “necrose” de linguagem que serve para tudo. Legitimar políticas, rebatizar velhas práticas, angariar financiamentos públicos, alimentar a indústria da formação contínua, e, admitamos, enfim, gerar novas formas de ensinar e de aprender.

Neste texto breve, procuramos responder às quatro questões essenciais enunciadas.

Inovação, porquê?

Porque os contextos de vida são diferentes. Porque as pessoas e os alunos vivem tempos muito mais “líquidos”, incertos, turbulentos e paradoxais. Porque há muitos problemas que é preciso analisar e resolver. Porque os conhecimentos evoluem e transformam-se. Porque ensinar deixou de ser “debitar e sumariar” a matéria prescrita nos programas. Porque os mecanismos e os dispositivos de mobilizar os alunos para aprender não se podem basear na ameaça da nota, na autoridade não sentida e reconhecida. Porque as formas de fazer gerar a fome e a sede de aprender [condição primeira do sucesso educativo] não são as mesmas de há 25 anos. Pelo simples facto de que hoje estão todos na escola, todos são diferentes e precisam de respostas muito mais diversas e personalizadas.

Inovação, para quê?

Clarificar o porquê abre os caminhos do para quê, isto é, os caminhos das finalidades e do sentido da inovação. Miguel Santos Guerra, professor catedrático emérito da Universidade de Málaga e que vai receber o doutoramento por uma questão de honra pela Universidade de Oviedo no início de outubro, titulava um texto célebre com a disjuntiva Inovar ou Morrer. Inovamos (vamos já ver o quê) ou morremos em termos profissionais, organizacionais, relacionais, pessoais. Inovamos para (tentar) resolver os problemas dos alunos que não querem aprender. Para responder à diversidade e heterogeneidade existente na escola e na sala de aula. Para responder aos diferentes ritmos de aprendizagem. Para responder ao tédio e alheamento. Inovamos para que se cumpram as finalidades essenciais da educação proclamadas pela UNESCO, já em 1996 – Educação um tesouro a descobrir: aprender a conhecer [o mundo, a vida, a morte, as tecnologias, a humanidade, ….]aprender a fazer [uma ordem justa, uma sociedade solidária, um trabalho engenhoso e produtivo….]aprenda a ser [consciente, competente, comprometido, criativo, colaborativo…] e aprender a conviver em contextos sociais plurais e multiculturais. Precisamos de inovar para vivermos juntos, crescermos juntos, criarmos uma humanidade sustentável, ecológica, dialógica.

Inovação, o quê?

Precisamos de inovar os modos de organizar o currículo (mais interdisciplinar, mais transdisciplinar, mais ecológico), os modos de trabalho docente (mais articulado, integrado e colaborativo), os modos de trabalho discente (mais ativo, mais participativo, mais baseado nas perguntas do que nas respostas, mais interativo…), a organização dos espaços (mais amplos, de geometrias variáveis….), os tempos (mais libertos da segmentação dos 45, 50, 60 ou 90 minutos…), libertando alunos e professores das grades epistemológicos, espaciais, temporais… visíveis na separação dos anos e das turmas, as pedagogias (da reprodução, da submissão, da conformidade….) para as pedagogias da autonomia, da procura e da criação, as lideranças (fundadas no dever da obediência, da normalização, do controlo….) para as lideranças promotoras da liberdade, da criação, da autoria. Numa palavra, precisamos de reimaginar outros modos de escolarizaçãoe tornar claro que outra escola é possível através de outras culturas, outras lideranças, outras práticas, outra inscrição territorial, uma outra gramática mais generativa e transformacional.

O caso das equipas educativas é provavelmente o objeto mais prometedor da gestão mais autónoma e eficaz do currículo e um dispositivo que faz emergir um profissionalismo mais interativo e comprometido com as aprendizagens dos alunos, como documenta uma investigação recente.

Inovação, como?

Partindo do princípio de que não é possível um caminho único e “pronto a vestir” e que a liberdade de pensar, criar, procurar localmente as respostas para os problemas, o como da inovação terá de admitir a pluralidade de caminhos, a construção local de “baixo para cima” (como foram bons exemplos os casos do projeto Fénix é sim Turma Mais…), a monitorização das aprendizagens de modo a garantir um sucesso universal e plural. E recorrer aos modelos híbridos de aprendizagem, à inteligência “artificial” pedagogicamente regulada, a uma pedagogia que faz do trabalho de criação um vetor essencial.

É esta clarificação que precisamos de fazer. Para que a inovação tenha um sentido, um propósito claro, e uma voluntária adesão dos professores e dos alunos.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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