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A leitura abre um mundo de possibilidades

Poderia pensar-se que, desde que seja eficaz, qualquer método serve para ensinar a ler. Se considerarmos que ler consiste em ser capaz de decifrar a mensagem escrita, este pressuposto pode fazer sentido. Mas, se pensarmos que ler é aceder ao significado daquilo que se lê, esta consideração pode revelar-se redutora.

Tendo em conta estes pressupostos, o ensino da leitura pode estar assente em duas conceções, que se concretizam através de abordagens distintas relativamente ao ponto de partida e ao processo de aprendizagem: uma que valoriza sobretudo a decifração e a outra que dá prioridade à compreensão.

A primeira conceção pressupõe que ler é ser capaz de decifrar uma mensagem codificada por um interlocutor ausente. Para tal, é necessário que o leitor conheça os sinais gráficos, saiba a correspondência entre esses sinais e os sons que lhe estão associados e seja capaz de os dizer em voz alta ou mentalmente, de modo a apreender o significado da mensagem. Esta conceção concretiza-se através do método fónico ou sintético, de acordo com o qual a aprendizagem tem início com as letras, seguindo-se a fusão silábica e, depois, a leitura de palavras, de frases e de textos.

A segunda conceção defende que ler é mais do descobrir o som do que está escrito: consiste em captar o significado da mensagem, procurando ativamente o sentido do texto. Para o fazer, a criança parte de textos e palavras com sentido, passando para a sua decomposição em unidades mais simples. Esta conceção recorre ao método analítico ou global, segundo o qual a aprendizagem principia com textos, frases ou palavras, para chegar às sílabas e às letras.

Combinando estas duas abordagens, o método analítico-sintético é um método misto muito utilizado nas nossas escolas. Geralmente implementado a partir de manuais escolares, este método pode privilegiar uma orientação mais sintética ou mais analítica: a primeira partindo de letras; a segunda, de frases ou palavras escolhidas de acordo com a progressão na leitura prevista.

Perante esta diversidade de métodos, nunca é demais salientar que, enquanto uma criança realiza a aprendizagem da leitura, aprende bem mais do que a ler. Durante esse processo, constrói uma ideia da leitura que pode contribuir para a aproximar ou afastar do ato de ler. E é precisamente essa ideia que pode fazer a diferença entre formar uma criança leitora ou uma criança que lê.

Para formar uma criança leitora, é relevante a opção por uma visão pedagógica de acordo com a qual a criança — ao invés de aprender a ler primeiro para ler depois — aprende a ler lendo, tal como preconizam os defensores do método natural. De caráter analítico ou global, este método é utilizado em cada vez mais escolas com projetos pedagógicos inovadores que apostam na valorização do significado, da autenticidade e da diversidade de situações a partir das quais se processa a aprendizagem da leitura.

Privilegiando o significado da leitura, este método parte de produções escritas baseadas nas vivências das crianças, nas quais estas relatam uma ação, partilham uma ideia, exprimem um desejo ou descrevem uma situação. Estes textos, trabalhados por todos os colegas, são organizados num caderno, construído ao longo do ano, que constitui o livro de leitura da turma.

O facto de a autoria dos primeiros textos trabalhados ser dos próprios alunos contribui para a proximidade, afetividade e autenticidade da leitura, que é apropriada de forma pessoal pela criança em relação com o mundo próximo. É para caminhar em direção a esse mundo exterior que o universo leitor se alarga gradualmente a outras fontes escritas, igualmente autênticas, de acordo com as necessidades e motivações de aprendizagem da turma.

Este alargamento progressivo da diversidade da leitura permite abrir o leque de experiências leitoras, enriquecendo-o com livros de histórias, textos de autor de diferentes tipologias, textos informativos sobre variadas temáticas ou textos instrucionais com diferenciadas finalidades.

Esta abordagem da leitura contribui para formar crianças leitoras, que retiram prazer da leitura e são capazes de aceder ao significado daquilo que leem, com o objetivo de se informarem, cultivarem, divertirem e evadirem, de modo a desenvolverem o conhecimento, o pensamento crítico, a capacidade de reflexão, a empatia, o sentido de humor e a imaginação.

Mas é uma abordagem exigente, que implica, por parte do professor, flexibilidade para desenhar as tarefas pedagógicas de acordo com os pontos de partida das crianças; disponibilidade para construir os materiais didáticos de suporte ao trabalho desenvolvido; consistência para sistematizar os conhecimentos adquiridos; e capacidade de reflexão para adaptar as metodologias às necessidades da turma ou de alguns alunos.

Se tal for necessário, para corresponder às necessidades de aprendizagem específicas de alguns alunos, o professor pode aprofundar a componente analítica do método natural, insistindo, nomeadamente, na elaboração de listas de palavras com as mesmas sílabas, na decomposição de palavras, nos jogos com sílabas, na utilização de quadros silábicos ou, em último caso, recorrendo a outros métodos de iniciação.

Porque, seja qual for o método utilizado para a aprendizagem da leitura, é fundamental a sua eficácia. Ser capaz de ler de forma fluente, com precisão leitora e utilizando a entoação adequada está na base da compreensão leitora e do prazer na leitura, que não poderão ser adquiridos sem que os outros requisitos estejam previamente garantidos. Mas, uma vez ultrapassados, há todo um mundo repleto de possibilidades que se abre para as crianças que efetivamente se tornam leitoras.


A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990

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