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Seca histórica deixa rios da Amazónia nos níveis mais baixos de sempre

A pior seca de que há registo fez baixar o nível dos rios da bacia amazónica para mínimos históricos, chegando mesmo a secar alguns casos leitos que, antes, eram navegáveis.

O Solimões, um dos principais afluentes do rio Amazonas, cujas águas nascem nos Andes peruanos, atingiu o nível mais baixo de que há registo em Tabatinga, a cidade brasileira que faz fronteira com a Colômbia. A jusante, em Tefé, um braço do Solimões secou completamente, segundo repórteres da Reuters que sobrevoaram a região na terça-feira.

O lago Tefé, onde mais de 200 botos de água doce morreram na seca do ano passado, também secou, privando estes mamíferos cor-de-rosa, ameaçados de extinção, do um habitat preferencial.

“Estamos a atravessar um ano crítico”, disse o porta-voz da Greenpeace, Rômulo Baptista, apontando para onde o leito do rio Solimões se transformou em montes de areia. “Este ano, vários meses bateram os recordes do ano passado”.

O segundo ano consecutivo de seca severa deixou grande parte da vegetação do Brasil seca, favorecendo incêndios florestais em países da América do Sul. Várias cidades ficaram cobertas com nuvens de fumaça.

“As mudanças climáticas não são mais algo para se preocupar no futuro, daqui a dez ou 20 anos. Elas já estão aqui e com muito mais força do que esperávamos”, acrescentou Rômulo Baptista.

O rio Solimões, em Tabatinga, ficou 4,25 metros abaixo da média para a primeira quinzena de Setembro. Em Tefé, o curso fluvial estava 2,92 metros abaixo do nível médio nas mesmas duas semanas do ano passado e deve cair ainda mais, atingindo o nível mais baixo de todos os tempos.

Em Manaus, a maior cidade da Amazóniaonde o Solimões se junta ao rio Negro para formar o rio Amazonas propriamente dito, o nível do rio Negro está se aproximando do recorde de baixa atingido em Outubro de 2023.

“No ano passado, já estávamos nessa situação em Outubro. Este ano, a seca piorou”, disse o líder indígena Kambeba.

Emissões de incêndios na Amazónia

Entre Junho e Agosto de 2024, os incêndios que queimaram 2,4 milhões de hectares na Amazónia emitiram 31,5 milhões de toneladas de gás carbónico (CO2) equivalente. De acordo com o Observatório do Climaeste valor está muito próximo do que a Noruega emite por ano (32,5 milhões de toneladas de CO2 equivalente).

Comparado com o período homólogo de 2023, conclui-se que a subida das emissões foi de 60%, segundo estimativa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazónia (IPAM), que integra o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases com Efeito de Estufa.

“Um importante impacto dos incêndios florestais nas emissões não ocorre no momento em que a floresta está a queimar, mas sim depois, quando principalmente as grandes árvores morrem e continuam a emitir CO2 por muitos anos, o que é chamado emissão tardia. O pior é que uma floresta degradada pelo fogo se torna mais susceptível a outros incêndios, perpetuando um ciclo de degradação e emissões”, explica Ane Alencar, directora científica do IPAM, citada num comunicado do Observatório do Clima.

O documento sublinha que os incêndios que se espalham pela Amazónia são amplificados pelo clima seco. Trata-se não só de uma situação seca não só severa, mas também longa – de facto, uma das mais duradouras dos últimos 70 anos -, como indica uma nota técnica do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, divulgada dia 5 de Setembro.

Este episódio singular de hidrológico seco resulta uma combinação de factores, lê-se na nota: Fraca estação chuvosa, que não conseguiu repor a humidade do solo e da vegetação secos na temporada passada, o aquecimento globalque tem desequilibrado o clima, e a mudança no uso do solo, que degrada a vegetação, uma importante fonte de humidade.

“Temos um cenário assustador de florestas em pé, que deveriam armazenar carbono pelas próximas centenas de anos, sendo devastadas pelo fogo e se tornando uma fonte significativa de gases de efeito estufa. Nos próximos anos, talvez não vejamos a fumaça, mas as emissões continuarão ali e, com elas, o aumento do aquecimento global”, afirma Camila Silva, investigadora do IPAM, segundo a mesma fonte.



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