Os campos políticos franceses estão a mover-se rapidamente para as eleições antecipadas de 30 de Junho em França (e segunda volta a 7 de Julho), anunciadas na sequência de uma derrota nas europeias do partido do Presidente Emmanuel Macron e uma vitória da União Nacional, de direita radical populista.
O líder do partido Republicanos, que estava a ser cortejado pela direita radical e também pelo campo do Presidente, Emmanuel Macron, anunciou esta terça-feira que gostaria de se aliar à União Nacional, o partido de Marine Le Pen.
Mas Eric Ciotti, explica o diário O mundoé da ala mais conservadora do partido, e membros mais centristas disseram já que não concordavam com esta aliança. Se o líder a forçar, arrisca-se a partir o partido.
Olivier Marleix, o líder do partido na câmara baixa do Parlamento, disse que não apoiaria qualquer tipo de colaboração com a direita radical – e pediu mesmo a demissão de Ciotti. O mesmo fez o líder do partido no Senado, Gerard Larcher, segundo a agência Reuters.
Mas a declaração de Ciotti já teve um efeito: quebrar o consenso de décadas de partidos que não são da direita radical se aliarem com eles, quebrando o “cordão sanitário”, diz a agência britânica, uma boa notícia para a União Nacional e o seu candidato a primeiro-ministro Jordan Bardela.
Le Pen tinha ainda recebido na véspera uma visita da sua sobrinha, Marion Maréchal, que é a número dois do partido Reconquista, de Eric Zemmour, para discutir potenciais alianças.
Na véspera, um inquérito de opinião dava a União Nacional à frente em número de deputados: entre 235 e 265 lugares, um grande aumento em relação aos actuais 88, mas aquém dos 289 necessários para uma maioria absoluta, de acordo com a sondagem da Toluna Harris Interactive para a Challenges, M6 e RTL.
A aliança centrista de Macron veria o seu número de deputados possivelmente reduzido para metade, de 250 para 125-155, segundo a sondagem de segunda-feira. Os partidos de esquerda poderiam controlar, em conjunto, 115 a 145 lugares (que têm actualmente 153). Seguem-se os Republicanos 40 a 55 lugares (hoje com 74).
Do lado da esquerda, foi anunciada a intenção de criar uma aliança, que os beneficiaria. Mas os partidos ainda não assinaram um acordo – nem foi decidido quem irá liderar a aliança.
Todos os olhos estão voltados para o radical Jean-Luc Melénchon, considerado o potencial maior obstáculo a um entendimento.
A união da esquerda poderá dar ao campo mais força e ser uma má notícia para o Presidente, Emmanuel Macron.
Macron dificilmente terá apoio da esquerda para uma aliança “todos contra a direita radical” mesmo que tente que estas eleições sejam uma recusa ao partido de Le Pen, já que muitos na esquerda estão decepcionados com medidas que tomou como a reforma das pensões ou ainda a lei de imigração e que o aproximaram da direita, recordou a analista e chefe da delegação do ECFR em Paris Célia Belin ao PÚBLICO.
Belin considera que a aposta de Macron em convocar eleições antecipadas tem um risco desproporcionado às potenciais vantagens.
A hipótese mais provável é que o Parlamento continue dividido, mantendo-se a situação actual na sua essência e obtendo como vantagem o fim da presença do resultado das europeias no debate político, com o grande risco de que a União Nacional consiga chegar ao governo (um cenário considerado, para já, improvável).
A maior vantagem possível seria Macron voltar a ganhar a maioria absoluta parlamentar perdida em 2022, mas esse cenário é considerado como altamente improvável.