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Luís Neves: “Temos um conflito entre a China e os EUA à volta da tecnologia, é uma questão de poder, qual é o bloco que controla o planeta?”

O mundo vai falhar no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estipulados até 2030. Luís Neves, presidente executivo (CEO) da Global Enabling Sustainability Initiative (GeSI), associação que visa promover as tecnologias digitais em prol da proteção do clima, afirma que apesar de a Europa ser o bloco mais bem posicionado globalmente, “estamos muito mal”.

“Atualmente já se fala na Cimeira do Futuro, um processo iniciado por António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas” afirma. Na sua opinião, é uma saída para a frente. O líder da GeSi lamenta que estejamos sempre a empurrar com a barriga. “Antes dos ODS havia os Objetivos do Milénio, que também não foram cumpridos”. Para Luís Neves, o que os governos fazem é simples: “como sabem que não vão cumprir arranjam outra estratégia”.

O líder da GeSI relembra que a Comissão Europeia também aprovou o European Green Deal, com o objetivo, entre outros, de fomentar a sustentabilidade. A guerra da Rússia com a Ucrânia rebentou e “mais uma vez as metas ficaram para trás”, lamenta, afirmando ainda que o clima é uma bomba atómica. “Não nos damos conta, mas isto é extremamente preocupante”, alerta, contando que há uns anos reuniu com o Potsdam Institute for Climate Impact Research, organismo científico do governo alemão que analisa as questões climáticas, fazendo projeções a longo prazo. E os cenários são catastróficos para o norte da Europa. “Toda essa zona, a Dinamarca, a Holanda, a Bélgica, toda aquela franja costeira pode desaparecer devido ao degelo e sobreaquecimento, mas depois vivemos o dia a dia como se nada se passasse”.

Falando da 3ª edição do Digital With Purpose Global Summit 2024, conferência mundial que alia sustentabilidade ao digital e que reunirá 300 líderes globais entre os dias 9 e 11 de julho no Centro de Congressos do Estoril, Luís Neves afiança que o digital pode ajudar a alcançar um mundo mais sustentável, garantindo que estudos feitos apontam “que o setor digital pode contribuir em 45% para atingir os ODS”, mas não nega que o digital também promove um fosso entre ricos e pobres.

“Temos 2,6 mil milhões de pessoas sem acesso à internet e mais de 60 milhões de crianças sem acesso à educação. Se houvesse outras políticas, o digital podia ajudar, mas vemos grandes multinacionais a enriquecer, e é legítimo porque criam valor, porém dever-se-ia pensar como é que o digital pode ser utilizado em benefício de todos”, defende.

Nuno Raposa

Ainda no tema da importância do digital para a sustentabilidade a GeSI firmou uma parceria com o IAPMEI para ajudar as PME (pequenas e médias empresas) na transição sustentável. Numa primeira fase, a iniciativa arranca com um projeto-piloto que envolve 40 empresas dos vários setores do tecido empresarial na certificação Digital With Purpose Performance Framework, uma ferramenta composta por um conjunto de métricas que avalia os esforços das empresas relativamente aos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas. Ao mesmo tempo, serão partilhadas as melhores práticas, conhecimentos e recursos, fornecendo contributos e recomendações. Numa segunda fase, as duas instituições irão alargar esta certificação a todo o universo das empresas do IAPMEI. Luís Neves garante que se as empresas não evoluírem a cada três anos perderão a certificação.

Esta edição da cimeira em Cascais terá um novo tema em debate: as finanças sustentáveis. Porém, para Luís Neves “ainda não há financiamento sustentável. Os bancos continuam a financiar na perspetiva do lucro”. O responsável da GeSi diz haver financiamento na área da economia, nas chamadas tecnologias verdes, e fala de uma iniciativa das Nações Unidas, os Principles for Responsible Investment, que reúnem várias instituições financeiras com esses objetivos, mas “depois não vemos isso traduzido na prática”. Por isso, na sua opinião “vivemos de frases de efeito a nível global. Estamos a caminhar para o precipício. Os que têm o poder político e a capacidade de nos guiar estão a meter a cabeça na areia”.

Capa Ser ou Não Ser 3×2

Mário Henriques

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