Uma diferença de 100 euros!?
Diz a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP) que há uma “diferença de 100 euros“ entre a ASPP e o Governo (na realidade, uma diferença entre 300 euros aceite pelo Governo e 400 euros por mês exigida pela ASPP). De facto, 100 euros parece pouco. Quase uma birra. O problema é que há cerca de 45.000 efectivos entre a PSP, a GNR e a guarda prisional. E esses meros 100 euros transformam-se entre 60 a 65 milhões de euros anualmente, todos os anos. O OE não é um saco sem fundo. O Governo, há dias, estava satisfeito pelo início de uma reforma na Administração Pública que poupava… 25 milhões. Só estes 100 euros da ASPP representam uma despesa adicional de quase três vezes o valor daquela poupança. Receio bem que estejamos a deslizar, muito tranquilamente, quase sem se notar, para um défice sério e permanente nas contas do Estado. À atenção dos portugueses.
Fernando Vieira, Lisboa
O que se torna claro, claro é
O que torna clara a actuação dos partidos com agenda é conhecer os manuais por que se seguem, com a maior falta de imaginação. Assim, em 1975, o Partido Comunista ensaiou a “tomada do poder” mobilizando os sindicatos da construção num cerco à Assembleia Constituinte, lendo e relendo a mítica tomada do Palácio de Inverno da Revolução Russa de Outubro e a sua réplica actualizada de cerco do Parlamento e tomada do poder na Checoslováquia, no golpe de Praga de 1948. Chegou agora a vez de o Chega ensaiar a “tomada do poder”, apelando aos antigos combatentes descontentes, mas, porque já há poucos, também apelou aos polícias para um “cerco” à Assembleia, lendo e relendo os manuais dos caceteiros dos equipes de combate de Mussolini, formados por antigos combatentes descontentes, e a sua marcha sobre Roma e subsequente tomada do poder.
Carlos Caldas, Lisboa
Cuidado com a armadilha, Pacheco Pereira
Confio que Pacheco Pereira não o terá pretendido no seu artigo de sábado, mas, na minha modesta opinião, foi esse o resultado: diabolizar a geração jovem e vitimizar a geração mais velha, situando uns como vítimas dos outros.
O cerne do artigo é, como sempre, bastante lúcido – sigo com gosto as opiniões de Pacheco Pereira desde os debates moderados por Miguel Sousa Tavares na SIC, em tempos idos, com o também sempre lúcido António Barreto –, contudo, colocar no mesmo artigo, em contraponto, os jovens que poderão vir a beneficiar de ajudas para compra de habitação e o abandono dos mais velhos evocou-me Pedro Passos Coelho a misturar imigração e criminalidade no mesmo contexto.
Estão em voga os extremos numa sociedade que nos induz a pensar que, para se ser ouvido, para se ter impacto, é necessário polarizar estratos sociais, é necessário extremar, seja na linguagem, seja no conteúdo da mensagem. Mas talvez valha a pena reflectir: aonde é que isto nos conduz?
Gonçalo Brandão Santos, Berlim
O iludido
“Já não ando tão facilmente como antes, não falo tão bem como antes, mas há uma coisa que sei: sei dizer a verdade.” Biden vai entregar Trump, de bandeja, à presidência dos EUA porque ao fim de uma vida dedicada à política ainda não sabe, conforme mostram as suas palavras acima, proferidas anteontem num comício na Carolina do Norte, que o que faz ganhar eleições não é dizer a verdade, coisa que poucos se interessam ou acreditam, mas sim falar bem, andar bem e debater bem. Estes atributos e só estes é que fazem um político de sucesso. Só quem anda distraído é que ainda não o percebeu.
Jorge Mônica, Parede
Pondo as barbas de molho
Partindo do princípio que os procuradores do MP são isentos, e não anti-socialistas como alguns comentadores já sugeriram, é natural que agora quem está no comando esteja preocupado. Os dossiers mudaram de mãos, os dinheiros do PPR ainda estão disponíveis, logo, os escutados vão ser outros. Por isso (a meu ver), as declarações da ministra da Justiça inserem-se naquilo que popularmente se diz como pôr as barbas de molho.
Quintino Silva, Paredes de Coura
Contenção física dos idosos
“Prender um cão com uma corrente de 20 cm? Crime (e ainda bem). Amarrar os braços de um idoso às grades de uma maca ou aos braços de uma cadeira. Normal.” Foi assim que Carmen Garcia, autora da petição “Proibição da prática de contenção física a idosos”, na crónica Cuidar sem Amarras, revela uma faceta pouco conhecida de idosos em lares ou situações de internamento. Carmen Garcia chama a atenção para a falta de cuidadores. Voltamos à narrativa do costume: para a guerra o dinheiro aparece. Aceito que o Estado não pode fazer tudo. Custa ver a generalidade das câmaras gastarem milhares de euros em festas populares, foguetórios e cantores, quando podiam contratar cuidadores. Solidão com os membros presos faz lembrar a Idade Média.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim