O diretor do Diário de Notícias (DN) disse ao conselho de redação do jornal que até agora não teve qualquer contacto com a nova administração do grupo Global Media, nomeada na assembleia geral de 19 de fevereiro, e que por isso não sabe o que se pretende para o jornal.

De acordo com um comunicado do conselho de redação do jornal, José Júdice disse também estar preocupado com um possível cenário de despedimentos, resultado da intenção já conhecida da administração da Global Media de cortar custos, revertendo algumas das decisões tomadas pela anterior comissão executiva liderada por José Paulo Fafe.

No início de janeiro foi conhecida uma lista de 35 contratações destinadas a reforçar o DN mas também áreas administrativas do grupo. Uma decisão que gerou forte polémica porque estava em cima da mesa a possibilidade de haver um despedimento coletivo no grupo de entre 150 a 200 pessoas devido à situação de pré-falência que a administração de então dizia existir. Os custos dessas contratações foram então estimados em 2,3 milhões de euros e uma das intenções da atual administração é reverter algumas dessas contratações.

José Júdice tomou posse como diretor no início de outubro, tal como Ana Cáceres Monteiro, que passou a subdiretora. Ambos foram indicados por José Paulo Fafe e reprovados pelo conselho de redação, mas ainda assim a administração decidiu mantê-los. A direção do DN é ainda composta pelo subdiretor Filipe Garcia, que entrou depois, e pelo diretor-adjunto Leonídio Paulo Ferreira, jornalista que já por duas vezes ocupou o cargo de diretor interino, primeiro em abril de 2020 para substituir Ferreira Fernandes – que se demitiu perante as medidas de reestruturação anunciadas pela administração – e depois em setembro de 2023 quando Rosália Amorim foi dirigir a TSF.

O Expresso questionou José Júdice sobre a posição assumida perante o conselho de redação e sobre se tinha alguma indicação de diligências da administração para fazer alterações também na direção do DN. “Não tenho qualquer informação específica e confirmada sobre mudanças no projeto editorial do DN”, respondeu o diretor do jornal. “O que diz o comunicado do conselho de redação do DN é verdade – não houve qualquer iniciativa da administração da Global Media e dos novos administradores para reunir com a direção do DN desde a reformulação da administração, pelo que não sei oficialmente quais são os seus planos, projetos ou intenções, tanto em matéria editorial como laboral. Mais do que isto não posso adiantar, seriam apenas especulações”.

Novas direções no JN, O Jogo e TSF

Contactado pelo Expresso Vitor Coutinho, um dos novos administradores a quem foi confiado o cargo de presidente executivo, referiu que para já não há nada a comunicar. A administração já fez mudanças no Açoriano Oriental, retirando o cargo de diretor ao jornalista Rui Pedro Paiva, uma decisão que terá ficado a dever-se a “questões financeiras”. Foi encontrada uma solução interna, com a jornalista Paula Gouveia a ser nomeada como diretora interina mas relativamente a mexidas no DN reina o silêncio.

DN e Açoriano Oriental são dois dos títulos que vão permanecer sob a alçada da Global Media já que outros títulos como o Jornal de Notícias, O Jogo e a TSF estão a ser vendidos a um conjunto de investidores, embora a Global Media mantenha uma parcela de 30% do capital. Estes serão agrupados na empresa Notícias Ilimitadas, cujo capital será controlado por cinco investidores – a OTI Investimentos, do grupo Officetotal, a Parsoc – Investimentos e Participações, a Ilíria – Serviços de Consultoria e Gestão, a Mesosystem e Domingos Andrade, diretor-geral editorial dos títulos que vão ser vendidos – JN, O Jogo, as revistas Notícias Magazine, Evasões, Volta ao Mundo e JN História e também a NTV e o Delas. No conjunto os cinco terão 61%. Além dos 30% da Global Media, haverá 9% que serão atribuídos aos trabalhadores daqueles títulos.

A nova administração da Global Media já decidiu a composição das novas direções editoriais de JN, de O Jogo e da TSF, apesar de em breve deixar de controlar estes títulos. No JN, mantêm-se Inês Cardoso como diretora e Pedro Ivo Carvalho como diretor adjunto – sendo que este será também diretor da revista Volta ao Mundo. Vítor Santos, até agora diretor de O Jogo, regressa à direção do jornal com o cargo de diretor executivo.

No jornal desportivo, Jorge Maia subiu a diretor e foi buscar João Araújo para o cargo de diretor-adjunto que antes ocupava. Na TSF, Domingos Andrade é o diretor-geral e Nuno Domingues foi nomeado diretor não havendo para já mais nenhum nomeado para a direção da rádio em que o grupo alemão Bauer Media já demonstrou interesse.

Manuel Molinos, que era diretor-adjunto do JN, passa a diretor editorial digital da TSF, do JN e de O Jogo.

À espera de assinar o contrato

A assinatura do contrato-promessa de compra e venda dos títulos deverá acontecer em breve, porque para breve está também a assinatura do acordo de saída do fundo de investimento World Opportunity Fund (WOF) que ainda controla a maioria do capital da Global Media. O fundo, registado no paraíso fiscal das Bahamas, acabou por ceder à pressão e vender os 51% que detém na Páginas Civilizadas, empresa que por sua vez detém 50,25% da Global Media. Os outros 49% da Páginas Civilizadas são do empresário Marco Galinha, que vai comprar a posição do fundo ficando com a totalidade do capital. A ‘nova’ Global Media será assim controlada por Marco Galinha que conta ainda com José Pedro Soeiro e Kevin Ho como acionistas, com 49,75% do capital.

A curta permanência do WOF na Global Media ficou envolta em polémica, com suspeitas em torno das reais intenções deste investimento, uma vez que nunca se soube quem são os seus proprietários. Aliás, está a acabar o prazo de 15 dias úteis dado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) para que o fundo se pronuncie sobre a decisão que o regulador tomou, findo o qual os direitos patrimoniais e de voto da Páginas Civilizadas na Global Media são suspensos. É o resultado do procedimento administrativo anunciado pela ERC na sequência da falta de transparência da propriedade do fundo.

Outro fator de pressão sobre o fundo passou pela procedimento cautelar de arresto intentado por Marco Galinha e que teve decisão favorável. O empresário, proprietário do grupo BEL, quis desta forma garantir que o dinheiro que colocou na empresa, cerca de 2,2 milhões de euros, seria recuperado.

Também resolvidos estão os pagamentos em atraso aos trabalhadores, incluindo os que estão a recibo verde, exceto no que respeita ao subsídio de Natal.

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