Lembro-me de a minha mãe se ter agarrado a mim a chorar, tinha eu que idade? quatro ou cinco anos, não tinha mais, de certeza que não, pois aos seis fui para o asilo, logo a seguir à morte dela. A minha mãe tinha sabido nesse dia que a minha irmã, a Esperança, não convidava os amigos para as suas festas de aniversário com vergonha da pobreza da casa, e a minha mãe, quando percebeu isso, chorou agarrada a mim, disse-me que ia ser rica, vou ser rica, Sãozinha, ninguém vai ter vergonha de mim, de nós, da nossa casa, mas morreu pouco tempo depois, na praia, que situação tão triste. Lembro-me bem de nesse dia à noite, na cama, ouvir os passos dela pela casa, ela também tinha dificuldade em dormir, pudera, a vida era muito difícil, e depois o mar levou-a e ela nunca pôde ser rica, o que não seria fácil, a pobreza é ciumenta, não gosta que a deixem só, faz o possível por manter os seus pobres debaixo da asa, a pobreza é uma mãe-galinha. Devemos ser parecidas, eu e a minha mãe, embora eu me tenha tornado uma mulher independente e ela ter sido sempre o contrário disso. Não sou rica como ela disse querer ser, obviamente que não, muito longe disso, mas já não sou como as mulheres daquele tempo, e a minha filha muito menos, até se licenciou, quem diria, como tudo isto mudou!<_o3a_p>

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