A ideia da escuta sazonal de música fará algum sentido — o trio de Vince Guaraldi no Natal, Olodum no Carnaval, povo outonal na própria da estação ou cadências mais tropicais quando a praia começa a chamar serão alguns exemplos. Mas Abril é quando qualquer pessoa sonhar e não é preciso estar em estágio para a descida da Avenida da Liberdade, em Lisboa, para escutar José Afonso, Sérgio Godinho ou José Mário Branco. Essas e outras vozes da Liberdade têm dentro poesia de combate e amor, luz e sombra suficientes para nos acompanharem de janeiro a dezembro, fazem parte de um bem consciente coletivo, da mais funda identidade de quem acredita no poder transformador da música. Vitorino também pertence a essa classe superior de artistas cuja música é de antes e de sempre porque com o tempo estabeleceu aquela relação de tu-cá-tu-lá que só os mais sábios dominam. Sim, a voz que semeou salsa ao reguinho há quase meio século não é exatamente a mesma que agora faz suas as palavras de Florbela Espanca em ‘Cravos Vermelhos’. Também porque o meio século entretanto volvido só a preencheu com mais vida e mundo. Não retirou nada, acrescentou muito.

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