Perdido o comboio da Europa, confinado a uma luta inglória pelo título — que com cinco jornadas por disputar se encontra à distância de sete pontos para o Sporting —, o Benfica pode começar a fazer contas a uma época de forte investimento e parco retorno desportivo, consubstanciado na Supertaça.
A matemática do futebol pode ser um desafio ingrato, pois, não raras vezes, os clubes com bolsos mais fundos não conseguem os resultados de outros com recursos modestos.
E em Portugal, o Benfica tem assumido uma posição dominante no que diz respeito à aposta no mercado de transferências, tendo nas últimas cinco épocas atingido por duas vezes a casa dos três dígitos — 115 milhões em 2020/21, com Jorge Jesus, e 114 milhões em 2022/23, com Roger Schmidt — no que diz respeito a contratações, tendo nesta época ficado a três milhões de alcançar a fasquia dos 100 milhões.
No entanto, a média dos dois anos do consulado de Schmidt é superior a 100 milhões, por oposição às duas últimas de Jesus (70). Números que justificam uma análise mais atenta.
Percebe-se que neste bolo há, obviamente, um investimento a médio prazo, com jovens como Prestiani ou mesmo Marcos Leonardo, reforços de luxo na janela de Inverno, mas que para o Benfica, até pelo temporepresentam em primeira instância uma oportunidade de negócio, mais do que um reforço imediato do plantel.
De resto, o emblema da Luz está devidamente defendido no que diz respeito à balança, pelo menos nos tempos mais recentes, de transferências, destacando-se como um dos clubes com uma invejável carteira de vendas.
Neste caso, depois de uma primeira época com um título — o campeonato — pretende-se avaliar a relação entre o investimento e o rendimento dos reforços, que em 2023/24 representam um esforço significativo, com Kokçu (25 milhões de euros), Arthur Cabral (20), Marcos Leonardo (18), Jurásek (14) e Trubin (10) a destacarem-se na bolsa de activos. Logo aqui se percebe a diferença entre um verdadeiro reforço e um “erro de fundição” ou, como se diz no futebol, de falta de adaptação.
Apesar de mais dispendioso, Kokçu tem justificado melhor a aposta do que Jurásek — que saiu em Janeiro. A realidade é que o Benfica arrisca-se a fechar a temporada com uma Supertaça no prato “desportivo” desta balança, contra os 97 milhões de euros do outro lado. Como termo de comparação, em 2016/17, com Rui Vitória, os 65 milhões de euros de investimento renderam o campeonato, a Taça e a Supertaça.
O título de campeão nacional de 2022/23 tem, indubitavelmente, outro peso e num contexto de vitória nem sempre é relevante saber como se ganhou. A inversa é bem diferente, e tanto o Benfica quanto Roger Schmidt têm muitas respostas a dar aos adeptos do clube.
A começar pelas opções técnicas, especialmente pela gestão de recursos valiosos. Terá o treinador alemão extraído o melhor dos jogadores de que dispõe, nomeadamente dos reforços? Tudo questões legítimas, passíveis de uma abordagem mais objectiva e desapaixonada.
No ranking de substituições no campeonato, em 2023/24, Roger Schmidt surge entre os treinadores que menos intervêm no banco, com uma média de 4,4 substituições por jogo (em cinco possíveis). Um parâmetro que ajuda a explicar o conservadorismo do alemão neste campo, muitas vezes na base de críticas pelas opções, por não mudar, mesmo quando as circunstâncias o aconselham — Di María, por exemplo, tem sido indiscutível, mesmo num contexto de exigência física acrescida, como foi o recente jogo de Marselha, com direito a prolongamento. Ter um núcleo duro ou uma base forte é uma das características dos vencedores, mas também a versatilidade e capacidade de improviso.
Qualidades que o clube precisa recuperar depois dos cerca de 415 milhões de euros despendidos em reforços nas últimas cinco épocas, verba que não deu para garantir mais do que duas Supertaças e um título de campeão. Uma realidade que pesa toneladas num clube como o Benfica e que coloca Schmidt sob fortíssima pressão.