O congresso deste fim de semana assume uma importância crucial para o futuro do CDS. Com 50 anos de história, o partido possui ainda a experiência e o prestígio necessários para liderar esta transformação. No entanto, é fundamental reconhecer que apenas uma renovação na mensagem, no conteúdo político, nas pessoas e na comunicação pode trazer a legitimidade e a importância política necessárias para garantir a relevância do CDS no panorama político nacional.

Começo com uma ponderação inspirada nas palavras de um dos maiores que o CDS já teve. É com este pensamento que pretendo abordar um tema que considero essencial neste momento crucial da vida do partido. Talvez as minhas palavras caiam em terreno fértil ou passem despercebidas, mas mantenho-me de consciência tranquila, pois acredito firmemente que um CDS forte é fundamental para a saúde da democracia e nada como o próximo congresso para pensarmos juntos o futuro. Como disse um dia Francisco Lucas Pires: “A verdadeira grandeza de um partido está na sua capacidade de se renovar e adaptar aos tempos modernos.”

O regresso do CDS-PP ao Parlamento e, consequentemente, ao Governo, após dois anos de ausência, e agora no contexto de uma coligação com o PSD e o PPM — a Aliança Democrática (AD) —, marca um momento ímpar na história de 50 anos do partido. Este momento revela-se como uma oportunidade sem paralelo para uma reflexão profunda sobre o futuro do CDS na política portuguesa, e sobre como pode e deve capitalizar esta oportunidade para se revitalizar, reorganizar, reposicionar e reconquistar de novo os eleitores voláteis da direita democrática, cujo voto não está firmemente decidido. É essencial que pareça aos olhos do parceiro de coligação e aos olhos dos portugueses como um partido que tem autonomia, capacidade de se destacar mesmo estando coligado, e até de surpreender.

O trabalho incansável e a liderança de Nuno Melo foram fundamentais para a recuperação do CDS e para a formação da coligação com o PSD, que culminou na vitória da AD nas últimas eleições legislativas. Graças ao seu espírito de entrega e humildade, e à convicção de que era possível reverter a situação e voltar a ter relevância na política nacional, Nuno Melo uniu o partido em torno de um projeto de recuperação. Implementou mudanças estatutárias, recuperou a saúde financeira, manteve os militantes e estabeleceu uma relação próxima com as estruturas.

Nuno Melo, presidente do CDS/PP.

Nuno Raposa

O presidente do CDS traçou um caminho rumo ao Parlamento e ao Governo, e nessa jornada alcançou sucesso político, culminando com a presença no Conselho de Ministros. Mas por mais que a estratégia tenha garantido dois deputados, um ministro e dois secretários de estado, é inegável que o CDS enfrenta um desafio premente de recuperar um papel de destaque no panorama político nacional. Não devemos ignorar a presença de 50 deputados do CH ao seu lado, a IL, que não perdeu votos nem mandatos, e o PSD estagnado entre os 27% e os 30% há largos anos, um misto de dificuldades e oportunidades. Deste modo, o CDS enfrenta um trabalho árduo, mas não impossível, especialmente considerando que o CH, a IL e o PSD terão os seus próprios desafios a enfrentar.

Para entendermos o caminho que temos pela frente, é essencial revisitarmos exemplos históricos e tirarmos lições valiosas que o CDS pode aplicar. Não é necessário reinventar a roda; basta estudar, ponderar, refletir e seguir bons exemplos. É isso que pretendo fazer aqui, trazendo um exemplo de sucesso que pode e deve ser aproveitado pelo partido. O exemplo do Partido Liberal Democrático (FDP) da Alemanha, que ressurgiu após um período de ausência no Parlamento e depois da participação no Governo de Angela Merkel, em coligação, e como partido minoritário, assemelha-se à situação do CDS durante a PàF, e oferece percepções cruciais e perfeitamente claros.

O FDP enfrentou um declínio nos anos 2000 e 2010, mas recuperou como força política relevante através de estratégias cuidadosamente planeadas. Para o CDS, estas ações do FDP podem servir como um guia para uma mudança necessária:

Comunicação: O FDP atualizou a sua imagem e mensagem política, abordando questões contemporâneas como mudanças climáticas e justiça social. Utilizou redes sociais profissionalmente para comunicar com o eleitorado, adotando uma mensagem positiva e moderada.

Renovação da Equipa e Reforma Interna: Profissionalizou a gestão interna, priorizando diversidade e inclusão. Renovou a direção nacional e as lideranças regionais, integrando novos membros, projetando uma imagem positiva, moderna e inovadora.

Agenda Política: desenvolveu uma agenda política abrangente, adequada às aspirações, necessidades e prioridades do eleitorado, propondo soluções para promover o crescimento econômico, inovação e liberdades, só para citar algumas.

O FDP alcançou a “ressurreição” por meio de reformas internas profundas, uma redefinição da sua imagem, através da mensagem política, e uma abordagem estratégica para atrair novos segmentos do eleitorado, sobretudo os jovens e os adeptos de um liberal-conservadorismo moderno, à semelhança do modelo britânico do tempo de David Cameron. Esta estratégia ajudou o FDP a reconstruir o seu apoio eleitoral e estabelecer-se como força política influente. O CDS pode se inspirar nessas iniciativas para recuperar.

Lucas Pires acreditava que a direita estava demasiado fechada num “conservadorismo” que a impediu de adaptar-se às mudanças sociais e económicas da época. Em vez de resistir a essas transformações, a direita reformista deveria abraçá-las, procurando soluções para os novos desafios que surgiam. Esta nova direita, como Lucas Pires queria que o CDS fosse, deveria ter como objetivo a construção de uma alternativa reformadora e de um Portugal moderno, inclusivo, mais equitativo, com melhor educação e economicamente robusto.

O CDS tem ainda o potencial para se tornar uma referência contemporânea para o eleitor de direita democrática, que valoriza os princípios tradicionais adaptados aos desafios do século XXI. O partido não deve limitar-se a ser encarado apenas como defensor dos interesses agrícolas ou rurais, mas sim como um aliado dos jovens agricultores e de todos aqueles que procuram investir e viver no interior do país, apresentando ideias e soluções.

É crucial que o CDS adote uma postura mais dinâmica e inovadora, apresentando propostas disruptivas e alinhadas com as exigências atuais. O partido deve olhar para as novas tecnologias como uma ferramenta para combater as desigualdades sociais e atrair investimento estrangeiro. Além disso, pode e deve assumir-se como defensor do ambiente, um partido de direta que está empenhado com a luta às alterações climáticas e o efeito que estas têm no presente e vão ter no futuro. O CDS pode ser a força motriz que apoia o desenvolvimento de start-ups e de empresas que se dedicam à investigação em áreas como o hidrogénio e outras tecnologias sustentáveis.

TIAGO MIRANDA

Mas o partido tem de entender que os tempos mudam e que os partidos hoje têm de ter uma gestão diária profissional, sendo importante profissionalizar essa gestão para que o partido possa responder aos desafios que o século XXI impõe. Só uma gestão profissional pode dar resposta e gerir de forma eficaz as mudanças necessárias para a sobrevivência e crescimento do CDS. Sei que muitos vão criticar a minha opinião, mas ela é tão válida como qualquer outra. Quem já geriu uma empresa multinacional com mais de 1200 funcionários e era responsável por 36 filiais espalhadas pelo globo sabe que não há resultados melhores aos atuais sem uma gestão profissional.

Simultaneamente, o CDS deve manter-se firme na defesa dos valores fundamentais, como a família, a natalidade e o apoio aos mais desfavorecidos e aos jovens com dificuldades financeiras. Mas deve ser o partido que promove a igualdade de oportunidades na educação e no acesso à habitação para os jovens e que está empenhado na sua manutenção em Portugal.

Perante um cenário em que a direita moderada e jovem se encontra desarticulada, o CDS tem a oportunidade de preencher este vazio. Contudo, isso requer uma mudança de paradigma. O partido não pode contentar-se com os métodos, os rostos e a mensagem do passado e muito menos tentar ser um CH 2.0. O CDS só pode crescer e impor as suas ideias através da moderação e de uma mensagem politica positiva.

Divulgacao

Retratos de abril

O Partido Popular espanhol atravessou um processo de transformação crucial para se modernizar e recuperar o eleitorado perdido. Reconhecendo a necessidade de se adaptar aos novos tempos e às exigências da sociedade espanhola, fez reformas internas e redefiniu a sua mensagem política. Ao abraçar uma abordagem mais progressista e inclusiva, o PP conseguiu reconquistar a confiança dos eleitores e voltar ao poder. Este exemplo destaca a importância da renovação constante e da capacidade de resposta às mudanças sociais para qualquer partido político que deseje manter-se relevante e influente.

O congresso deste fim de semana assume uma importância crucial para o futuro do CDS. Com 50 anos de história, o partido possui ainda a experiência e o prestígio necessários para liderar esta transformação. No entanto, é fundamental reconhecer que apenas uma renovação na mensagem, no conteúdo político, nas pessoas e na comunicação pode trazer a legitimidade e a importância política necessárias para garantir a relevância do CDS no panorama político nacional.

Neste contexto, parece-me crucial voltar a falar de Francisco Lucas Pires e resgatar uma ideia e um dos princípios fundadores do seu pensamento político. Foram este espírito reformista e a ideia da construção de uma alternativa séria, moderna e transformadora para Portugal que inspiraram o grupo de Ofir a apresentar, em 1985, um dos melhores documentos políticos em Portugal no pós-25 de Abril. É este o espírito que precisa de regressar ao CDS-PP. Temos de ser capazes de voltar a ter “Ofir”, atrair pessoas da sociedade civil para que, juntamente com o partido, possamos pensar Portugal e o futuro. Só se for capaz de impactar de forma positiva a vida dos portugueses, através de um projeto sólido e reformista para Portugal, pode o CDS recuperar a confiança e merecer o voto do eleitorado. Por isso é que a partido tem de ser reformador, moderno com os olhos postos no futuro e deixar de ser herdeiro do passado.

Paulo Núncio e Nuno Melo

Ana Baião

Mais do que nunca, precisamos de um CDS comprometido com a construção de um novo e transformador projeto para Portugal. Um desenvolvimento sustentado, assente na educação e no fortalecimento da economia, não por injeção direta de capital, mas pelo progresso empresarial e a construção de riqueza. É fundamental que o partido construa um projeto político que seja capaz de unir as forças moderadas e renovadoras da sociedade, sem se deixar levar pelos extremismos. É preciso que o CDS continue o seu caminho de recuperação e que ofereça soluções concretas para os problemas do país sem se perder em agendas ou em combates ideológicos estéreis e que em nada ajudam a responder aos problemas.

O projeto político do CDS é fundamental para garantir a estabilidade política e a governabilidade do país, e para promover políticas que garantam reformas e soluções para temas tão diversos como a desigualdade social e económica; a educação e inovação; a sustentabilidade ambiental; um sistema de saúde eficiente; as reformas estruturais da justiça, da segurança social e da habitação; recuperar o elevador social que está seriamente comprometido e que afeta tanto os jovens.

O partido e Nuno Melo, enfrentam um momento crucial na sua história. Através de uma reflexão profunda e de uma abordagem renovada, o partido pode reafirmar-se como uma força política relevante, capaz de enfrentar os desafios do século XXI e de representar os interesses do eleitor moderado de centro-direita, cosmopolita, europeu, liberal-conservador de forma eficaz. Bastará a Nuno Melo, continuar a ser um homem de coragem, com capacidade de agregar e de permitir o aparecimento de novas lideranças, gente com novas ideias, novas propostas e nova forma de fazer e pensar política. Afinal, o partido de quadros pelo qual o CDS sempre for conhecido e reconhecido, tem capacidade de se auto regenerar e produzir novos quadros com novas e diferentes experiências de vida e de carreira, capazes de agregar valor e de regenerar o partido e sua mensagem política. Só assim, ao olhar para o parlamento e para o governo, poderá o eleitor pensar que não só valeu a pena votar na AD, como valerá a pena votar no CDS em futuras eleições e reconhecer que o CDS tem, não só relevância política, como é essencial à democracia e ao desenvolvimento do país.

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