Ao fim de três décadas de militância, o antigo vice-presidente do CDS-PP Filipe Lobo d”Ávila desfiliou-se por já não se rever no partido, decisão que disse não ser “contra ninguém”. A decisão foi noticiada por vários órgãos de comunicação social e confirmada à agência Lusa pelo próprio.

“Confirmo, sim. Enviei carta ao presidente do partido e ao secretário-geral a dar conta da minha desfiliação”, afirmou o ex-deputado.

Filipe Lobo d”Ávila disse que esta foi uma “decisão individual” e “difícil”, que resultou de um processo de “ponderação e reflexão” e foi “tomada em consciência”.

“No fim dessa ponderação cheguei à conclusão de que não me revia no CDS-PP de que sempre fiz parte”, justificou.

O agora ex-militante considerou que os representantes do CDS-PP tinham “vida profissional fora da política” e que “ao longo dos últimos anos, não é um caminho que aconteceu apenas agora, foi perdendo essa ligação à sociedade”.

Lobo d”Ávila defendeu também que o CDS-PP era “um partido programático, com ideias claras, reconhecias por todos, e foi perdendo isso”.

“Temos de nos rever nas pessoas, nas ideias, nos projectos, e houve um afastamento natural da parte do partido e da minha parte”, indicou, sustentando que decidiu sair agora por entender que “não trazia grande prejuízo ao partido”.

E justificou que “uma desfiliação num momento em que o CDS estava em processo eleitoral e procurava reafirma-se, recuperar o grupo parlamentar, qualquer acto ou decisão que anunciasse nessa altura poderia ser vista como mais um obstáculo ao caminho do CDS”.

“Por isso não faria sentido que o fizesse na altura. Agora acho que não traz grande preocupação ao doutor Nuno Melo”, advogou o antigo dirigente, referindo que a sua desfiliação “não é contra ninguém, nem pretende ser contra ninguém”.

Esta desfiliação acontece dois dias após o 31.º Congresso do CDS-PP, que decorreu no fim-de-semana, em Viseu, e no qual Nuno Melo foi reeleito líder do partido.

O antigo dirigente referiu ainda que não sai do CDS-PP “para entrar em lado nenhum, para ir a correr integrar listas de outro partido”.

“Nos últimos três anos procurei estar em silêncio quanto à vida partidária e atravessei um longo processo interno de reflexão e enorme ponderação pessoal e familiar, em particular nos últimos dois anos, tendo concluído que a forma como entendo a política, como serviço público, em liberdade, com pensamento, com espírito crítico, com independência, sem subserviências financeiras ou de outra índole, com espírito de missão, mas igualmente com sentimento de pertença e afinidade política a um determinado partido, não é hoje compatível com a minha militância partidária no CDS”, justifica Lobo d”Ávila na carta à qual a Lusa teve acesso.

Quem é Filipe Lobo D’Ávila?

Filipe Lobo d”Ávila foi deputado e secretário de Estado da Administração Interna. No partido, foi também porta-voz e vice-presidente.

Em 2020 candidatou-se à liderança do partido, num congresso que Francisco Rodrigues dos Santos venceu. Na altura, Filipe Lobo d”Ávila aceitou integrar a sua direcção, como primeiro vice-presidente, mas demitiu-se um ano depois.

Numa intervenção no congresso de 2022, Filipe Lobo d”Ávila considerou que Nuno Melo teria sido um “belo candidato” à liderança há sete anos, sustentando que se teriam evitado “muito dos erros” do passado recente do partido.

Na altura, defendeu que o CDS devia “aprender verdadeiramente a lição com o que fez mal ao longo dos últimos anos”.

“Se queremos iniciar um novo ciclo, não vale a pena atirar o pó para debaixo do tapete, é preciso sacudi-lo, falar dos problemas, dos erros, é preciso falar das incompetências, incompreensões e dos espectáculos deprimentes que demos ao longo dos últimos dois anos”, defendeu.

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