Tinha sido um dia normal de instrução. Oficiais e Sargentos do quadro entraram nas camaratas dos soldados já eles descansavam, com a ordem para que todos formassem na parada em silêncio e levassem com eles todo o material operacional. Já na parada, formados, e em silêncio, Cândido olha para o seu lado, e vê uma grande quantidade de pacotes de munições reais, e ouve Salgueiro Maia proferir a frase que ficou para a História: “Meus camaradas, temos vários tipos de estados, os estados sociais, os estados cooperativos e o estado a que chegámos! E quem quiser ir comigo para Lisboa para acabarmos com o estado a que chegámos sai desta formatura e forma aqui ao lado”

No momento em que tomou lugar na formatura , Cândido foi assaltado por pensamentos contraditórios. Poderia estar a ir longe demais, mas também se sentia com sorte. Sortudo é, aliás, uma palavra que usa várias vezes ao longo da nossa conversa: a sorte de poder estar a viver um momento único com o privilégio de participar num golpe de estado para derrubar o regime.

Um soldado que conheço desde criança

Nasci em Lisboa, meses antes do Verão Quente de 1975 e foi no Meimão, a aldeia dos meus pais, onde passei a maior parte das férias e onde também vivi e estudei nos anos 80.

Cresci a ver na televisão as comemorações do 25 de Abril com as imagens do dia da revolução. O povo na rua, o alvoroço, a alegria, os cravos nas espingardas, os militares nas chaimites, o Capitão Salgueiro Maia ao comando e, sempre ao lado, o Alferes Maia Loureiro com os seus óculos Ray Ban (e que viria a ser camarada do meu pai nas lides militares), as palavras de ordem ao som do megafone, o Largo do Carmo apinhado de gente, os jornalistas ávidos por noticiar e registar o momento histórico.

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