Até 25 de Abril de 2024, a BLITZ publica uma lista de 50 canções que abriram caminho à liberdade conquistada há 50 anos. São canções que, durante o Estado Novo, prenunciaram a mudança ocorrida a 25 de Abril de 1974, e deram forma a uma revolução cultural que em muito antecedeu a revolução política que pôs termo à ditadura. Os textos são da autoria de Luís Freitas Branco, autor de “A Revolução Antes da Revolução” (Zigurate, 2024), a publicar este mês, livro que documenta o modo como a música popular portuguesa abriu as portas para o clima cultural, social e político que desencadeou o 25 de Abril de 1974. Todos os dias, esta lista ‘receberá’ uma nova canção.

50. ‘E Depois do Adeus’, de Paulo de Carvalho (1974)

A revolução sem sangue começou com uma canção sem protesto. Às 22 horas e 55 minutos, os Emissores Associados de Lisboa transmitem ‘E Depois do Adeus’, a canção de José Niza e José Calvário, interpretada por Paulo de Carvalho, vencedora do Festival RTP da Canção. No entanto, nenhuma ruptura histórica é assim tão linear: na sede da PIDE, Rua António Maria Cardoso, Lisboa, morreram cinco pessoas; e os vitoriosos do Festival RTP da Canção de 1974 não eram personagens inócuos. O compositor José Niza foi alferes-miliciano em Angola, entre os mosquitos e os cadáveres, profetizando, em carta, três anos antes: “As guerras fazem-se com militares. Mas os do quadro estão a ficar cansados. E os outros, revoltados.” E o canto espontâneo e sedutor de Paulo de Carvalho, livre das amarras da Emissora Nacional, representava a urgência de uma geração livre. O 25 de Abril cumpriu-se também com sangue e protesto, e ainda, celebremos, canções de amor.

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