Quarta-feira, 24 de abril

Amanhã, celebram-se os 50 anos da Revolução dos Cravos. Gostaria de associar-me aos nossos amigos em Portugal, aos portugueses em França e a todos os nossos compatriotas de origem portuguesa para celebrar este aniversário, tão importante para a democracia na Europa.

Síntese da história da segunda metade do século XX, o 25 de abril de 1974 marcou o fim da mais antiga ditadura da Europa Ocidental, o lançamento da última etapa da descolonização no continente africano e o início da caminhada de Portugal rumo à União Europeia, até à sua adesão em 1986.

Os jovens Capitães de Abril manifestaram a esperança de um povo inteiro na paz e na democracia. Nem trinta anos tinham e já eram heróis. A Europa de hoje deve muito à sua coragem.

A França orgulha-se de ter acolhido no seu território centenas de milhares de portuguesas e portugueses nos anos 50 e 60, desterrados pela pobreza, pela violação sistemática dos seus direitos, pela repressão política arbitrária e cruel, e por recusarem-se em participar neste sistema e nestas guerras injustas.

Há 50 anos, vibrou na rádio portuguesa “Grândola, Vila Morena”, o sinal da insurreição, que continuou a ser cantada, para além de 1974, para além de Portugal, como um hino de liberdade. Alguns ainda se lembram que esta magnífica canção de Zeca Afonso foi gravada em França, em 1971, no Château d’Hérouville, e o nosso país tem a honra de ter-lhe dado asilo.

Penso hoje em todas as mulheres e homens que defenderam a mesma causa.

Penso nas “três Marias”, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, cuja luta pelos direitos das mulheres portuguesas sob a ditadura recebeu um imenso apoio em todo o mundo, e em particular em França, e que de certa forma anunciaram o 25 de abril.

Penso em Mário Soares, Álvaro Cunhal e Emídio Guerreiro, que viajaram para Lisboa e o Porto nos dias que se seguiram à revolução, vindos de França, onde se tinham refugiado.

Desde então, os laços seculares entre Portugal e França voltaram a ser estreitos, fortes e confiantes.

A amizade franco-portuguesa reforçou-se com os fluxos cruzados dos nossos dois povos, a força da nossa cooperação, a aprendizagem respetiva das nossas línguas, o diálogo entre os nossos artistas, celebrados durante a Temporada França-Portugal que organizámos em 2022.

Esta amizada é concretizada também pelos milhões de homens e mulheres cujas famílias vivem entre Portugal e França.

Juntos, preparamos o futuro da nossa União Europeia. Lado a lado, estamos e estaremos presentes para defender as causas que determinarão o futuro do mundo.

Nice tomará o testemunho de Lisboa, ao acolher a Conferência dos Oceanos das Nações Unidas em junho de 2025.

Nas questões ambientais, tal como nas grandes convulsões geopolíticas e sociais, os nossos dois países partilham a mesma visão de um mundo livre, democrático e justo.

Devemo-lo à memória dos Capitães de Abril e ao povo português que, há cinquenta anos, se levantou contra a injustiça e a pobreza e conquistou a admiração da França, da Europa e do mundo com um cravo vermelho na mão.

25 de abril, sempre! Viva Portugal! Obrigado a Portugal!

[Veja aqui o vídeo da comunicação do Presidente de França, Emmanuel Macron]

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