O ataque do Irão, no passado 14 de abril, em retaliação ao bombardeamento israelita a um consulado iraniano foi tudo menos “simbólico”. Não foi destrutivo, mas teve um forte significado político. A partir de 1 de abril, Teerão criou novas linhas vermelhas quanto a Israel, o que alterou o seu cálculo estratégico, e consequentemente, a sua resposta.

Por que razão o Irão ataca Israel diretamente a partir do seu território?

Desde os ataques de 7 de outubro que a guerra por procuração do Irão contra Israel, com recurso ao Hezbollah, ao Hamas e aos Houthis, tem vindo a permitir a concretização do seu objetivo de desestabilizar a nação judaica sem arriscar uma intervenção direta por parte dos aliados ocidentais. Contudo, o cálculo iraniano alterou-se quando Israel foi, progressivamente, eliminando figuras de relevo da sua Guarda Revolucionária, especialmente da Força Quds, responsáveis por mediar a interação entre Teerão e os seus aliados do crescente xiita.

O fator tempo e a geografia são cruciais para compreender a mudança na estratégia iraniana. Os decisores iranianos estão convencidos de que os Estados Unidos não se envolveriam novamente num conflito regional em resultado do seu ataque contra Israel. Além disso a relação de Washington e Telavive tem vindo a fragmentar-se, fruto da forma como Israel tem conduzido a guerra contra o Hamas em Gaza. Este foi um sinal para os aiatolas em Teerão, que aproveitaram a janela de oportunidade.

O Irão é uma fortaleza geográfica. Está rodeado por duas cordilheiras montanhosas enormes, a de Zagros a oeste, e a de Elburz a este, e por planícies e pântanos ao longo de ambas as costas, a norte pelo Mar Cáspio e a sul pelos Golfos de Omã e Pérsico. Tanto Teerão como Telavive compreendem a dificuldade em perpetrar um ataque em solo iraniano. Todavia, a sua geografia também simboliza grandes obstáculos ao desenvolvimento de uma rede de infraestruturas e vias de comunicação, essenciais para uma economia sólida.

Para o regime, manter o controlo da sua população não se coaduna com a dispersão de tantas comunidades e minorias étnicas pelo território acidentado e montanhoso. A isto acrescenta-se o facto de a sociedade iraniana estar profundamente dividida e descontente com o regime teocrático que há décadas vigora no Irão. Os aiatolas estão conscientes disso, pelo que Teerão sentiu uma pressão política interna muito forte para retaliar o ataque de Israel ao consulado na Síria.

Como é que os sauditas e os jordanos (sunitas) interpretam a escalada do conflito? E a prossecução efetiva da agenda do eixo de resistência xiita encabeçado pelo Irão?

O Irão tem vindo a ganhar influência no Iraque, com a presença de um governo xiita implantado após a morte de Saddam Hussein. Teerão continua ainda a aproveitar as disputas entre sunitas e xiitas no Iraque, na Síria, ou no Líbano para explorar as fragilidades destes estados falhados, e aumentar a sua influência.

A vontade de Washington em reduzir a presença militar no Médio Oriente acentuou a luta entre Teerão e Riade pelo lugar preponderante na região. Por outro lado, os sauditas e os jordanos estão cientes da ameaça do crescente xiita e da influência do eixo da resistência. No futuro vão ter de reunir esforços para travar a ascensão do Irão a potência regional, ainda que a relação de ambos os países se tenha deteriorado após a derrota do Império Otomano na 1.ª Guerra Mundial e da guerra do Iraque com o Irão (1980-88). A reflexão que será feita nas duas capitais vai ser determinante no desenrolar do caos e desordem constante do Médio Oriente.

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