O testemunho de um jovem caçador de lixo na Mafalala, nas décadas de 1960 e 1970, deita luz sobre a presença de Portugal nas ex-colónias. A violência colonial foi, sem dúvida, suscitada por um Estado que procurou todas as justificações para se fazer reconhecer no seu papel de controle das populações subjugadas. Esse Estado colonial envolveu diferentes tipos de colaboradores e serviu grupos e mercados cujos interesses se encontravam tanto dentro, como fora dos seus territórios. Contudo, considerar que toda a violência exercida em situações coloniais é produto de um organismo centralizado pode ser um erro: por um lado, porque se atribui ao Estado colonial uma coerência e um carácter omnipresente que ele nunca teve; por outro lado, porque deixa de se conferir relevância aos diferentes níveis do exercício dessa violência, incluindo a que esteve alocada aos grupos e movimentos de resistência. À escala de um único testemunho será possível distinguir diferentes camadas e práticas da violência.

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