A amizade, as influências, as preocupações e estéticas comuns e divergentes entre as obras de Amadeo Souza-Cardoso e do casal Delaunay são o tema da exposição “Amadeo de Souza-Cardoso, Sónia e Robert Delaunay. Correspondência”.

Resultado de uma parceria entre o Centre Pompidou e a Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição integra Amadeo de Souza-Cardoso na vanguarda parisiense anterior à Primeira Guerra, e pode ser vista no quarto andar do Centre Pompidou, até dia 9 de setembro. A selecção reúne 15 trabalhos de Amadeo, cinco de Sonia e seis de Robert Delaunay e tem curadoria de Helena de Freitas, do CAM – Centro de Arte Moderna Gulbenkian, e de Angela Lampe e Sophie Goetzmann do Centre Pompidou.

Nascido em Manhufe, em novembro de 1887, Amadeu Souza-Cardoso, chega a Paris em 1906, depois de ter estudado em Amarante, em Coimbra, e em Lisboa, na Academia Real de Belas-Artes.

Filho de uma família poderosa, rica e religiosa da burguesia rural, Souza-Cardoso absorve a modernidade que então se vive na capital francesa e reflete-a nas suas obras. Em 1911, o jovem pintor apresenta-se ao casal Sonia e Robert Delaunay, com o qual desenvolve uma longa relação de amizade. Essa dinâmica entre os três, não isenta de sobressaltos, estreitar-se-á em Portugal, quando o casal Delaunay, para fugir à guerra, encontra um refúgio no norte do Porto, a partir de 1915. O pintor português passou a ser visita frequente da casa da família Delaunay e daí nascem alguns projetos comuns.

No texto do Centre Pompidou sobre a exposição, no qual se reúnem lado a lado obras dos três artistas, defendem-se as proximidades entre o pintor português, precocemente desaparecido em 1918, vítima da gripe espanhola, e o casal de artistas: “De início, o seu estilo colorido e decorativo, influenciado pelo fauvismo, era semelhante aos retratos feitos ao mesmo tempo por Sonia Delaunay. Ao mesmo tempo, Souza-Cardoso e Robert Delaunay partilhavam o interesse pela arquitetura, formas angulares e geométricas, pintadas com paletas monocromáticas. Na véspera da guerra, a investigação deles avança numa direção muito semelhante, centrada no estudo abstrato da luz e da cor.”

Ao longo dos anos, passados em Portugal, “os três afastam-se da abstração, re-introduzindo gradualmente elementos figurativos nas suas composições, inspirando-se mais na arte e cultura populares, no caso de Souza-Cardoso, e no caso de Sonia no artesanato local.”

Uma das 15 obras de Amadeo de Souza-Cardoso que podem ser vistas, Cavaleiros (Cavaliers), de 1913, pertence ao próprio Centre Pompidou, e foi doada por Sonia e pelo seu filho.

A exposição inclui também a correspondência trocada, de 1913 a 1917, entre Sonia Delaunay, Robert Delaunay e Amadeo de Souza-Cardoso e contextualiza a sua importância para a compreensão dos trabalhos expostos.

Amadeo de Souza-Cardoso já tinha sido apresentado em Paris, em 2016, no Grand Palais.

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