“Ritmo febril” e “sentido de urgência” marcam a atual corrida ao armamento que lembra os períodos que antecederam as duas guerras mundiais. As palavras escolhidas por Abhijit Apsingikar, analista militar indiano da GlobalData (uma consultora de análise de riscos, em Londres), contam apenas parte da história. “O atual ritmo de rearmamento a nível mundial é substancialmente diferente do que foi observado durante o período que precedeu a I Guerra Mundial e durante o período entre guerras após a I Guerra Mundial”, diz ao Expresso Abhijit Apsingikar, apontando que a atualidade supera o frenesim do passado. “Este movimento foi desencadeado por uma série de acontecimentos desestabilizadores, como a guerra na Ucrânia, a intervenção de Israel em Gaza, as disputas fronteiriças indo-paquistanesa e Indochina, e as reivindicações territoriais chinesas no Mar da China Meridional. Ao contrário de antes, não existe um fator universal específico que impulsione esta corrida armamentista, e esta está agora geograficamente dispersa, com vários fatores geopolíticos a alimentá-la.”

O secretário-geral da NATO iniciou um debate para emitir títulos conjuntos e assegurar um “quadro financeiro multianual” de apoio à Ucrânia, que deverá rondar os 107 mil milhões de dólares (cerca de 100 mil milhões de euros). Mas o custo real da defesa das fronteiras de leste europeias deverá ser ainda superior. Também o Reino Unido anunciou que vai aumentar as despesas com a Defesa para 2,5% do PIB até ao final da década, elevando para os 101 mil milhões de euros o orçamento militar.

A guerra na Ucrânia e o conflito no Médio Oriente são os focos no mundo que mais têm merecido a atenção internacional, mas também a China também a aumentar os seus gastos militares e a intensificar a cooperação com o Kremlin. As autoridades de segurança dizem que, para acompanhar o ritmo, os EUA e os seus aliados poderão ter de elevar os seus orçamentos de defesa até aos níveis da Guerra Fria, o que consumiria até 4% do Produto Interno Bruto de vários países. Se os EUA e o G7 o fizessem, esse esforço equivaleria a cerca de nove mil milhões de euros em recursos militares adicionais na próxima década, de acordo com análise da “Bloomberg”. O mercado global de defesa está em evolução, garante ao Expresso Mark Cancian, antigo conselheiro do Departamento de Defesa norte-americano e hoje investigador do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um grupo de reflexão em Washington. “As vendas da Rússia diminuíram, por causa das sanções. As vendas da China aumentaram nos últimos anos, à medida que os seus equipamentos aumentaram a sua qualidade. A Turquia, a Coreia do Sul e o Brasil tornaram-se grandes produtores de armas.”

Abhijit Apsingikar vê a França a subir na hierarquia, podendo emergir como o terceiro maior exportador de material de defesa, com um potencial valor líquido de exportação de 29,1 mil milhões de dólares. “O mercado global de defesa também viu a Coreia do Sul emergir como um dos dez maiores exportadores de defesa, avaliando-se essas exportações em 11,3 mil milhões de dólares. Com outros países, como a Índia, o Japão e até mesmo a Turquia, a liberalizar os controlos de exportação e a procurar ativamente oportunidades de mercado, o valor das suas exportações de defesa também poderá registar um aumento significativo nos próximos anos.”

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