Um tribunal norte-americano considerou Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, culpado de fraude e condenou-o a 25 anos de prisão. A sentença, proferida esta quinta-feira, 28 de março, é um novo capítulo na história da queda de uma das personalidades mais promissoras da emergente indústria dos criptoativos, cuja fortuna chegou a valer 26,5 mil milhões de dólares (cerca de 18,9 mil milhões de euros ao câmbio atual) segundo a Forbes. E com destaque em capas de revista como a Fortune meses antes de tudo desaparecer num ápice. Uma trajetória de sucesso abruptamente interrompida por um escândalo financeiro, um dos maiores dos EUA, que lesou milhares de investidores – incluindo portugueses – ainda sem perspetivas de recuperar o seu dinheiro.

Depois de, em novembro, o júri do caso ter deliberado pela culpa de Bankman-Fried, chega a sentença final. A justiça considerou o antigo magnata dos criptoativos culpado de sete crimes de fraude e associação criminosa e acusou SBF, as iniciais pelas quais é conhecido, de mentir à justiça dos Estados Unidos quando negou saber, em tribunal, que a Alameda Research, o fundo pessoal do co-fundador, usava fundos de clientes da FTX, segundo a Reuters.

Segundo as contas do tribunal citadas pela agênciaSBF roubou um total 8 mil milhões de dólares (7,4 mil milhões de euros) aos clientes que compravam e vendiam criptoativos na plataforma da FTX ao “emprestar” esses fundos à Alameda. Os investidores na empresa FTX propriamente dita viram 1,7 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros) esfumarem-se. E quem emprestou dinheiro à Alameda – o fundo que SBF usava para mascarar o uso ilegítimo de dinheiro de clientes – perdeu 1,3 mil milhões de dólares (1,2 mil milhões de euros).

SBF irá recorrer da sentença. O seu advogado, Marc Mucasey, alegou em tribunal que não havia dolo nas ações do seu cliente: ele “não toma decisões com malícia no coração, ele toma decisões com matemática na cabeça”.

O juiz do caso, Lewis Kaplan, discorda e fez comentários particularmente severos antes de sentenciar que SBF deverá passar um quarto de século na prisão. “Ele sabia que era errado. Ele sabia que era crime. Ele arrepende-se de ter feito uma má aposta em relação à possibilidade de ser apanhado. Mas ele não vai admitir nada, como é o seu direito”, disse Kaplan, citado pela Reuters.

“A afirmação do réu de que os clientes e credores da FTX serão ressarcidos na totalidade é enganadora, tem vícios lógicos, é especulativa. Um ladrão que leva o saque para Las Vegas e faz apostas bem sucedidas com o dinheiro roubado não tem direito a um ‘desconto’ na sentença se usar o dinheiro que ganhou em Las Vegas para restituir o que roubou”, ironizou o juiz.

A FTX faliu em novembro de 2022 em poucos dias, numa semana turbulenta que destapou os problemas de solvência da plataforma e as ligações pouco escrutinadas entre a empresa e o fundo Alameda.

O administrador de insolvência, mais tarde, viria a classificar o colapso da FTX como um dos casos mais chocantes da sua carreira – e ele tinha estado envolvido na liquidação da energética Enron, um exemplo emblemático de fraude massiva. “Nunca na minha carreira vi um tão completo falhanço dos controlos empresariais e uma tão completa ausência de informação financeira fidedigna como este”, disse John J. Ray III na altura.

SBF viria a ser preso em dezembro de 2022 nas Baamas, onde residia e onde estava sediada a FTX, e deportado para os EUA. O julgamento começou em outubro de 2023.

Agora com 32 anos, o jovem ex-milionário pediu, em tribunal, desculpa: “Os clientes têm sofrido com isto (…) não quis, de todo, minimizar isso. Também penso que é algo que esteve ausente do meu discurso ao longo deste processo, e peço desculpa”. Aos antigos colegas (sendo que três testemunharam contra ele, incluindo a administradora da FTX e ex-namorada Caroline Ellison), mostrou-se agradecido pelo “esforço” deles e arrependido de “ter deitado tudo fora”. “Isso atormenta-me todos os dias”, reconheceu, citado pela Reuters.

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